sábado, 26 de junho de 2010

Lotus Turbine 56B

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Emerson Fittipaldi conta sua experiência com o Lotus movido a turbina

Estréia do Lotus Turbina
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" O momento mais emocionante de todas as experiências que tive até agora com o Lotus-Turbina 56B foi o que passei durante os treinos para a Corrida dos Campeões, em Brands Hatch.
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Colin Chapman sabia que o problema dos freios ainda não tinha sido resolvido e que por isso dificilmente eu teria condições de lutar pelos primeiros lugares. Clay Regazzoni com um carro excelente e andando muito bem, acabou vencendo com sua Ferrari 312 B2. Mesmo assim era preciso correr. E logo nas primeiras voltas do treino, com a pista molhada pela chuva, o Turbina 56B se havia mostrado insuperável: com tração nas quatro rodas, eu podia acelerar fundo que ele não se desiquilibrava como nos Formulas 1 normais, de tração nas rodas traseiras. Mas a chuva parou e na pista seca eu tinha de usar os freios cada vez mais, ao mesmo tempo em que ia perdendo nas curvas a vantagem que conseguia nas retas."


Nos treinos com pista molhada
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"Como os freios estivessem perdendo a eficiência, parei e pedi aos mecânicos que reajustassem as pastilhas das rodas traseiras. Logo depois lamentei isso. Saí e, quando comecei a frear no fim da reta em descida, as rodas traseiras travaram, o carro virou ao contrário na pista e começou a correr de ré a 280 Km/h. Sem poder fazer outra coisa, virei a cabeça para trás e tentei mantê-lo na pista, correndo como estava. Consegui isso por algum tempo, até que a velocidade foi baixando e ele saiu para a grama. A turbina nem chegou a desligar e eu pude continuar para o boxe, com as pernas bambas por causa do susto."

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"Isso, aconteceu na sexta-feira, que havia amanhecido chuvosa e muito fria. com esse tempo, como eu vi depois, o Turbina rende muito mais do que os outros Formula 1. Tive uma prova disso logo nas primeiras voltas, quando consegui o segundo melhor tempo, atrás somente de Jackie Stewart. Mais tarde a chuva parou e os outros carros começaram a descontar na pista seca a vantagem que eu havia conseguido na chuva. Principalmente por causa dos freios, normalmente ruins, que pioravam à medida que esquentavam. Meu tempo havia caido muito e no fim dos treinos acabei ficando em sétimo lugar."


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"O dia da corrida, 21 de março, amanheceu nublado, mas sem chuva. Isso acabou com as minhas esperanças. Só cinco dias antes da prova é que Colin Chapman me havia avisado de que eu correria com o Turbina 56B nesse domingo, dia 21 de março. Ele teve boas razões para precipitar a estréia: haveria uma excepcional cobertura jornalística e a Gold Leaf, patrocinadora da equipe, gostaria do lançamento."
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"Pouco antes da largada eu pensava no lado negativo dessa estréia: os freios eram ruins e estavam com pastilhas novas, porque as do treino não resistiriam até o fim da corrida. Eu teria de tomar mais cuidado no início para que elas assentassem. Além disso, pela primeira vez o tanque estava com o máximo de 200 litros de querosene e a suspensão esbarrava em dois pontos do circuito."
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"Para aumentar os problemas, a BRM de John Miles, que estava na minha frente, afogou. Quando finalmente saímos, o grupo da frente já se havia distanciado. Mesmo assim, só pude andar melhor depois de umas dez voltas, quando as pastilhas dos freios assentaram. Mas, quando o carro começou a andar melhor, a luz de emergência do painel acendeu: o óleo do burrinho traseiro tinha vazado, porque o mecânico deixara a tampa mal colocada. Tive de parar no boxe, feito o reparo, saí de novo e dei quinze voltas procurando frear o mais suavemente possível. Eu tinha um recurso: podia frear e acelerar ao mesmo tempo para que o motor não caísse de giro, mas mesmo assim tinha de reduzir a marcha muito antes dos outros, nas curvas, e perdia terreno. Nas retas, eu procurava usar o melhor possível os 560 HP do Turbine e eliminava um pouco as diferenças, que nas curvas tornavam a aumentar."
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"Quando faltavam dezessete voltas para terminar a corrida, a suspensão traseira quebrou, de tanto bater nos dois pontos mais altos da pista, quando o tanque de combustível estava cheio. No final, apesar de tudo, concluímos que o carro tem potencial, porque a estréia foi feita as pressas, num circuito cheio de curvas impróprias para este tipo de carro."
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