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A cena tornou-se comum para os mecânicos da Ferrari, a mais prestigiosa equipe italiana e uma das mais tradicionais do cenário automobilístico de competição: os mecânicos correm para o carro de Jody Scheckter que entra no boxe com os pneus esfumaçando. Mauro Forghieri, chefe da escuderia, aproxima-se de Jody com um ar resignado e liga os fones de ouvido.
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Depois de ouvir por alguns instantes, faz um gesto largo com as mãos, como que indicando impotência, e diz alguma coisa ao mecânico chefe. Em seguida consulta a folha de tempos, buscando alguma boa notícia de seu segundo piloto, o impetuoso Gilles Villeneuve. De Scheckter, Forghieri parece não esperar mais nada.
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Depois, num canto do boxe, entre sério e brincalhão, é assediado pelos repórteres, principalmente os italianos. E se dispõe, paciente, a falar da crise da Ferrari.
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_Ah, a crise ? diz rindo. A Ferrari está sempre em crise...
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Mas, e os últimos resultados ?
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_Bem, são péssimos, como todos podem ver. Mas na Formula 1 é sempre assim: a acertos e erros, lembra Forghieri.
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Mas todo mundo anda acertando, com os carros de efeito solo e elevada pressão aerodinâmica...
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_Nossa aerodinâmica está chegando num ponto a partir do qual vamos ter que introduzir mudanças radicais. Mas antes era preciso esperar uma definição dos regulamentos. Além do mais estamos construindo um carro novo com motor turbo.
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E quando estréia o carro novo ?
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_Ainda não dá para dizer com certeza. O Gilles já andou nele, e os resultados são satisfatórios. Mas há uma grande expectativa, e não queremos lançar o turbo prematuramente.
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Quais são os maiores problemas ? Aerodinâmica ou motor ?
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_O motor turbo ainda é problemático, tem problema de resistência, como podemos ver nos Renault, mas esse não deve ser um grande obstáculo depois dos testes.
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Então vocês estão apostando tudo no Turbo e deixando de lado a Ferrari T5 ?
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_Claro que não. Simplesmente estamos tendo problemas grandes com o T5, principalmente de pneus. Com isso não quero dizer que a Michelin seja a única responsável, mas ficou claro que eles perderam terreno para a Goodyear. E quando você tem problemas de pneus já fica muito mais difícil aperfeiçoar o carro em outros aspectos.
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E os pilotos ? Fala-se que o Scheckter não estaria bem com a equipe...
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_O Scheckter é um bom piloto. Com um carro problemático ninguém pode fazer milagre.
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Mas vocês vão renovar o contrato ?
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_Os contratos da Ferrari são feitos numa base anual. No fim da temporada, se a equipe ou o piloto não estiverem satisfeitos, é só não renovar.
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Vocês estariam considerando o Alain Prost para substituir Scheckter ?
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_Se ele realmente resolver abandonar o automobilismo, como anunciou, temos uma lista de 22 pilotos para ser consultada. É claro que Prost está entre eles. É um bom piloto, muito combativo.
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Vocês não consideram nenhum piloto italiano ?
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Nesse instante entrou no box o carro de Gilles Villeneuve para trocar pneus, e Forghieri corre para falar com o piloto. A pergunta que ficara no ar é respondida por um jornalista italiano:
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_ Piloto italiano ? Quem ? Só vejo o Patrese, mas se você consultar o Livro do Ano da Ferrari verá que ele não mereceu uma boa cotação, foi considerado meio imprevisível.
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O grupo de italianos sai do box da Ferrari discutindo e gesticulando. Para eles a crise é mais uma das muitas porque já passou a mitológica escuderia e, dada a rapidez das mudanças na Formula 1, por causa do aperfeiçoamento tecnológico, eles não parecem muito preocupados.
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O carro de Villeneuve sai do boxe com pneus novos. Forghieri disfarça sua tristeza e brinca:
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_A nova máquina do Fittipaldi parece estupenda. E sorri ...
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