quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Grande Prêmio da Suiça

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Primeira vitória de Keke Rosberg na Fórmula 1
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Keke Rosberg deixou todo mundo arrepiado. No Grande Prêmio da Suiça, disputado no autódromo françês de Dijon, o finlandês marcou sua primeira vitória na Fórmula 1. Quase inacreditável, não é ? Com um desempenho que nos fez lembrar os velhos tempos da categoria, quando vencer uma prova ainda era muito mais uma prerrogativa da habilidade pessoal de cada piloto do que propriamente resultado de um colossal esforço tecnológico em cima de monocoques, motores e suspensões.
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Como em um passe da mais apurada magia, o ex primeiro piloto da equipe Fittipaldi resgatou pelo menos temporariamente o carisma das grandes estrelas da Fórmula 1. Por cerca de duas horas, a maioria dos aficionados pareceu esquecer-se de que na pista estavam os imbatíveis motores turbocomprimidos e sua insossa e decantada superioridade.
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Na verdade, para júbilo de quem ainda acredita e investe neste circo quase desmoralizado, o que parecia existir eram somente vinte e seis pilotos no comando de vinte e seis carros absolutamente iguais. Então, cada um dando o melhor de si, explorando a fundo toda a sua experiência, e pontecialidade, venceria o melhor, o mais rápido, o mais esperto. Venceria o campeão.
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E Keke Rosberg, cinco temporadas na Fórmula 1, incríveis exibições e nenhuma vitória, foi tudo isso e muito mais. Não existe adjetivo que classifique seu soberbo desempenho em toda a sua grandeza. Uma coisa, porém, é certa : Ele guiou como um autêntico campeão, levou muita gente a passagens nostálgicas de um tempo de Jim Clark, Jackie Stewart e Emerson Fittipaldi que parece longínquo e avalizou sua consagração como o melhor da temporada, conturbada pela política destrutiva, pelos acidentes inesquecíveis e pelos não menos degradantes motores turbocomprimidos, símbolos do progresso tecnológico e, provavelmente, do fim do puro e simples espírito de competição.
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Rene Arnoux
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Mas quase que o grande herói daquele fim de semana ganha mas não leva. Em uma atitude típica e que já não é novidade, lembram de Piquet e o Brabham na chuva, um ano atrás ? do tipo vale tudo, bem que a direção da prova, toda ela francesa, tentou encerrar o Grande Prêmio da Suiça na 78ª volta, duas antes do final, numa pilatragem à francesa.
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Tudo para tentar proteger a vitória de Alain Prost que, apesar de líder, naquela altura já vinha vencido, em pleno sufoco. Mas, felizmente, a Equipe Williams percebeu a manobra e Peter Collins, chefe dos mecânicos, chamou a atenção dos organizadores. Na base do "esta ninguém tasca" .
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Ainda bem. Uma volta depois, na saída da curva parabólica, de alta velocidade, Rosberg ultrapassava Prost em alto estilo e caminhava, tranquilo, para sua primeira e mais significativa bandeirada. Logo depois, ainda pensou-se em uma manifestação qualquer de protesto, mas, diante do lamuriento semblante dos diretores e do pessoal da Renault, Frank Williams voltou atrás. E, no típico estilo britânico, preferiu o cinicmo à irritação: "Assim foi melhor. Foi uma vitória ainda mais saborosa ..." .
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A décima quarta prova do Campeonato Mundial de Pilotos e Construtores, que então, completava dez distintos vencedores, acabou de vez com as últimas possibilidades aritméticas de Nelson Piquet abiscoitar o bi campeonato. Em conpensação, Rosberg deu um passo importantíssimo para a conquista do título. Com 11 pontos de vantagem sobre Alain Prost, até mesmo em Monza ele pode assegurar sua conquista por antecipação.
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Na prova de classificação, deu mesmo o esperado. E, para advinhar o grid, não precisava de bola de cristal. Deu Turbo nas três primeiras posições, Prost, Arnoux e Patrese, quarta posição Niki Lauda, já recuperado da contusão no pulso, depois De Cesaris, em um de seus momentos de extremo brilhantismo, Piquet, Derek Daly, este sim, surpreendendo, Rosberg, Giacomelli e Patrick Tambay. Este último, com uma inflamação na coluna cervical, bem que ainda tentou. Mas, as dores eram fortes demais e ele deixou o grid em branco. Como era o único representante da Ferrari, pela primeira vez em muito tempo a equipe do comendador nã alinhava um carro.
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Nelson Piquet
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Enquanto Chico Serra ficava de fora, Raul Boesel alinhava em antepenúltimo, já bastante preocupado com a próxima temporada. Tudo faz crer que a March vá enfrentar outra crise: seu primeiro piloto Jochen Mass, acidentado e a Rothmans certa de retirar sua verba de patrocínio.
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Piquet levou azar, embora acreditasse firmemente em um bom desempenho na corrida. Nas retas, como tem sido costume, as duas Brabham foram as mais rápidas. Em compensação, ficou impossível acertar o melhor equilíbrio do conjunto nas curvas. Segundo Piquet, tudo em função da maior aderência dos pneus Michelin nesta pista.
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Apesar da torcida francamente francesa, não há como negar que entre os jornalistas internacionais havia uma forte inclinação pelo sucesso de Rosberg. Resultado, provavelmente, de sua extrema educação para com estes profissionais, coisa cada vez mais rara em se tratando de campeões mundiais e ou simplesmente pilotos de Fórmula 1, e, por que não, um sentimento coletivo de admiração, diante de seus últimos desempenhos.
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Para quem não assistiu à prova, e depois limitou-se a ler o mapa, foi uma corrida tranquila. Mas para os que disputavam posições atrás, foi um sauceiro incrível. Até a quinta volta, Rosberg andou em sexto. Na sexta, ultrapassou Patrese e passou a pressionar Piquet, até que na 16ª volta o brasileiro levou a melhor sobre Arnoux. Piquet parou nos boxes para trocar os pneus. Então, a briga ficou entre Rosberg e o francês. Foi uma perseguição violenta, até à volta 72ª, quando a Williams levou a melhor. Na volta 73, Rosberg aproveitou-se de problemas no Renault de Arnoux, ultrapassou-o e partiu para cima de Prost, que só resistiu por mais sete voltas. O que o finlandês guiou ninguém acredita ...
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Com essa vitória, Keke Rosberg pois fim a um tabu, a possibilidade de um campeão mundial sem qualquer vitória, algo inédito na história da Fórmula 1.
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