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" Você não está pilotando aqueles leves carrinhos de corrida de um assento só. Deixe um carro da NASCAR se desviar ligeiramente de um vácuo, a 200 milhas por hora, e de repente você tem uma tonelada e meia de peso morto descontrolado nas mãos. Enquanto os pilotos da Fórmula 1 desenvolvem seus talentos através de uma combinação de reações rápidas e antecipações, em DAYTONA o que vale são nervos de aço. A experiência é que paga os dividendos. Você não vê jovens de 25 anos no comando de um Boeing 747, vê ? É nisso que está a diferença. "
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King RICHARD PETTY, 1975
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1975 - Sorrindo tranquilamente, indiferente aos que acusam as corridas americanas de alucinados festivais de velocidade, o grande campeão Richard Petty fez essas declarações enquanto se preparava para a largada sensacional das " 500 Milhas de Daytona " a prova mais importante do campeonato NASCAR, especial para carros de série.
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É um desafio que merece resposta. Pois, a rigor, qualquer volante de Fórmula 1, na opinião de Petty , precisa apenas de habilidade no pilotar. Porque a resistência humana é provada, de fato, nessas corridas de STOCK CARS, onde, ao peso normal de um automóvel de série com 5 lugares, os mecânicos acrescentam pesadas chapas de aço e outros acessórios para firmar a aderência e torná-lo resistente às colisões.
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Talvez não passe de mera provocação. Sabe-se que os americanos fazem de tudo para dar o devido destaque às competições do seu calendário automobilístico que marcou, uma semana antes do Grande Prêmio da Africa do Sul, a realização das sensacionais 500 Milhas de Daytona.
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É a mais importante das 30 provas que compõem o campeonato NASCAR, por ser a mais antiga e tradicional. DAYTONA tem o mesmo fascínio que Le Mans ou Monza exercem sobre qualquer jovem que pegue numa direção. Ovalada, com extensão de duas milhas e meia, sua pista apresenta uma inclinação de 31 graus. Desde a inauguração, em 1959, quando Lee Petty, pai de Richard, venceu por centímetros de diferença a Johnny Beauchamp, a Daytona 500 adquiriu um aspecto lendário que poucas provas possuem.
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Nestes 16 anos, a Daytona 500 tem um passado já incorporado ao folclore automobilístico. Nas semanas que antecedem à corrida, não se fala em outra coisa senão no dia em que Lee Petty atravessou o muro lateral, em 1961. Discute-se a primeira vitória de seu filho King Richard Petty, em 1964. Recorda-se, com tristeza, a morte do "garoto de ouro" da cidade, Fireball Roberts, vitimado numa pista de Charlotte, também no sul do país.
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Nos gigantescos palanques que ornamentam a linha de largada e os boxes, todos esses heróis tem seus nomes perpetuados, ao lado de De Palma e Joe Weatherly. E não se trata de mero sinal dos tempos de nostalgia, pois Daytona, na boa tradição americana, sempre cultuou o lado bom do passado.
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Para a NASCAR - North American Stock Cars Ass. - isso não deixa de ser um apoio logístico. Fundada por Bill France, a entidade passou agora às mãos de seu filho, William Jr. E embora as aparências eganem, o chefe do clã tem uma sensibilidade aguda: prevendo a crise de energia, dois anos atrás, implatou uma série de modificações que salvaram a categoria da decadência que, por exemplo, arrasou com a CAN-AM. Assim, a NASCAR entra em 1975 com autódromos lotados e excelentes patrocínios, que garantirão uma boa rentabilidade.
Para a NASCAR - North American Stock Cars Ass. - isso não deixa de ser um apoio logístico. Fundada por Bill France, a entidade passou agora às mãos de seu filho, William Jr. E embora as aparências eganem, o chefe do clã tem uma sensibilidade aguda: prevendo a crise de energia, dois anos atrás, implatou uma série de modificações que salvaram a categoria da decadência que, por exemplo, arrasou com a CAN-AM. Assim, a NASCAR entra em 1975 com autódromos lotados e excelentes patrocínios, que garantirão uma boa rentabilidade.
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É como o futebol: os ídolos do passado não conseguem se desligar da atividade que os consagrou, e muitos pioneiros, corredores de terra ou areia nos anos do pós-guerra, continuam por ali. Técnicos, preparadores ou apenas pais de promissores pilotos, os veteranos mostram que a NASCAR não devora seus mitos.
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Junior Johnson, que ganhou Daytona 500 em 1960, é hoje proprietário e preparador de um Chevrolet. Seu piloto é Cale Yarborough, que faturou mais de 240 mil dólares na Winston Cup - o Campeonato Nascar - do ano passado. Lee Petty, é lógico, anda pelos boxes admirando seu filho. E Richie Panch, filho de Marvin, que venceu em 1961, troca idéias sobre a prova.
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As características se modificaram bastante. Em 1973, meados da temporada, obrigou-se à instalação de uma placa no carburador, para desencorajar o uso de motores de sete litros. Como a escassez de combustível não afetara, ainda, o mundo ocidental, a medida não surtiu efeitos. Autoritária, mas profética, a NASCAR decidiu determinar o carburador que cada equipe deve usar, de acordo com as dimensões dos motores. Assim, já na temporada passada os enormes V8 estavam expulsos da pista.
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As provas de qualificação, que determinam a posição de largada, vão sendo anunciadas. Richard Petty, muito calmo, exibe um largo sorriso ao posar diante do seu Dodge STP de cores vermelha e azul. Sua estréia na temporada de 1975 não fora das melhores. Na prova inaugural de Riverside, Califórnia, Petty arremessara seu bólido, com freios a tambor, contra o muro de proteção. Isso acontecera no instante decisivo, quando estava colando no Matador AMC Penske de Bobby Allison, que acabou ganhando. Por incrível que pareça, Richard Petty conseguiu cruzar a linha de chegada, com seu carro cambaleante, tendo a frente dependurada, arrastando-se no chão.
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Ao contrário dos severos regulamentos europeus, as corridas dos EUA não eliminam o concorrente cujo automóvel estiver ostensivamente avariado. Afinal, basta observar as robustas estruturas de aço que protegem as máquinas da NASCAR, para descobrir porque seus pilotos, na maioria das vezes, escapam ilesos de choques terríveis a 200 milhas horárias. Os muros é que acabam sofrendo mais.
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Atualmente, nenhum piloto chega aos pés de Richard Petty, que se consagrou mais ou menos na mesma época em que Jackie Stewart brilhava na Fórmula 1. Educado e esportista, Petty arruma seu chapéu Stetson e confidencia: " O velho Dave Pearson, francamente, é o que tem mais chances de me vencer . "
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No quadro de favoritos, portanto, dois nomes eram obrigatórios: Petty e Pearson. À dupla, era presciso acrescentar o piloto que garantiu a Pole Position: Donnie Allison, que preparou pessoalmente um Chevrolet Di Gard, numa oficina que montou diante do circuito.
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Quietão, mas extremamente simpático, Allison persegue o êxito há várias temporadas. Com menos sorte que seu irmão Bobby Allison, somente agora é que conta com uma boa retaguarda técnica e econômica. Patrocinado por dois prósperos empresários de Connecticut, Donnie transferiu-se de Hueytown, Alabama, para Daytona Beach, e as vitórias começaram a aparecer. Seu último triunfo aconteceu em Talladega, recentemente. E, nas 500 Milhas de 74, Donnie liderou a competição até a volta 195, quando teve um pneu furado. Dessa forma, Petty triunfou sossegadamente, enquanto Donnie amargava uma sexta colocação.
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Bobby o garoto de fama da família Allison, garantiu uma boa colocação de largada ao vencer, na sua bateria, o Ford de Buddy Baker. Essa bateria é disputada em 125 milhas e representa uma amostra da grande corrida, pois são muito disputadas.
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A.J. Foyt, o Super Tex, famosíssimo no mundo inteiro, não passou de um quarto lugar na qualificação, pilotando um Chevy da Equipe Gilmore Racing. Desapontado mas indiferente, o veterano corredor disse que vai se limitar a uma curta temporada da NASCAR, reservando mais tempo para a Fórmula USAC. A declaração veio depois de uma violenta crise de nervos, pois Foyt fundiu cinco motores, fato que deixa qualquer um louco de ódio. E era o que ele parecia transmitir, encarando com ar de desânimo seu Chevy alaranjado.
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A posição de largada para a Daytona 500 definiu-se sem maiores complicações. Na pole-position, Donnie Allison, seguido de Richard Petty. Mais atrás, vinham Richard Brooks e Cale yarborough. Na quarta fila, apareciam Lennie Pond com Chevy e Dave Marcis com Dodge. No quinto par, alinhavam A.J.Foyt e Richard Panch. Atrás deles, estavam Johnny Rutherford, último vencedor das 500 milhas de Indianápolis, e Dave Sisco.
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O aperitivo desse grande sábado assinalava uma prova de 300 milhas, para carros antigos: são veículos NASCAR que conseguiram sobreviver às sucessivas temporadas e continuam aguentando na mão de pilotos inexperientes. Sim, porque, em geral, os participantes são rapazes que sonham em entrar no roteiro do Grand National, embora não faltem astros decadentes, a caminho da aposentadoria.
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O vencedor foi Jack Ingram, de ponta a ponta. Saindo na pole position, levou com muita classe o Chevy preparado por Banjo Matthews ao triunfo. O melhor da preliminar, porém, foi a mais sensacional colisão jamais vista em Daytona.
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Na segunda volta, Terry Mack e Red Farmer ficaram virtualmente emparelhados. Na tentativa de ultrapassagem, os parachoques se enroscaram um no outro, fazendo com que Mack e Farmer tivessem, cada um, a tonelada e meia de peso que Richard Petty mencionara. As câmeras da TV transmitiram, coast-to-coast, as capotagens sucessivas dos dois bólidos, um sobre o outro. Miraculosamente, nenhum deles sofreu mais que algumas leves escoriações.
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Encerrada a prova dos velhinhos, a platéia foi entretida com um desfile tipo corso, com a apresentação dos carros-madrinha. Cada um representava um circuito do sul dos Estados Unidos, ornamentado por uma linda garota com as pernas de fora.
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Em seguida, os pilotos da Daytona 500 tiveram seus nomes anunciados e aplaudidos. Na tribuna instalada diante dos boxes, eles cumprimentavam a platéia, enquanto seus carros, pintados com as cores mais berrantes que o gosto americano pode imaginar, eram levados para a pista. Está chegando a hora.
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O alto-falante agradece nominalmente a presença das autoridades e o capelão faz um breve sermão. São lançados ao ar centenas de balões coloridos, assinalando dessa forma que a brincadeira chegara ao fim. E que, a partir desse instante, 12:50 horas de um sábado ensolarado, iniciava-se a contagem regressiva.
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O carro-madrinha iniciou, então, o pace-lap. Atrás do Plymouth todo iluminado, vão rodando os automóveis NASCAR, a uma velocidade calculada de 110 milhas horárias. Quando passam pelo palanque, alguns deles acenam para as arquibancadas. Quando o carro-madrinha entra nos boxes, os competidores mantem o train, ordenadamente enfileirados, aguardando a bandeirada de largada.
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As luzes ficam verdes. De repente, cerca de 22 mil cavalos de força explodem furiosamente, e inicia-se o mais alucinado festival de velocidade do mundo. A pista, como todos sabem, tem um formato tri-oval, com uma inclinação de 31 graus. Acelerando tudo o que pode, Donnie Allison põe seu Chevy na ponta, enquanto em filas duplas, vem seguindo os demais.
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Petty é o seu mais direto perseguidor, fazendo bom uso de seu vácuo. " A essência do sucesso nas corridas de stock-cars, explica sempre King Petty está na perícia do piloto em usar o vácuo do outro em seu benefício. Principalmente em pistas ovais. "
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No retão dos boxes, os carros dão a nítida impressão de estarem decolando, tal é a sua velocidade. Ligeiramente distanciados dos líderes, surgem A.J.Foyt com seu Chevy cor de laranja berrante, Cale Yarborough, Dave Pearson e Bobby Allison. Na curva um borrão multicolorido se move velozmente, quando, a mais de 170 milhas, Petty sai do vácuo, ameaça se chocar contra o muro de proteção e toma a dianteira. A pláteia delira, quando vê o Dodge vermelho e azul completar a segunda volta no comando da corrida. Suas emoções mal começaram.
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Na reta oposta, o texano Foyd exige tudo do seu Chevy e ultrapassa Donnie. Sem ligar para o vácuo ou outros macetes, imprime 200 mph de velocidade e deixa também Petty para trás. Antes que a terceira volta se completasse, o panorama já está emocionante. E os acidentes começam a ocorrer.
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O Dodge de Jim Vandiver perde a direção, rodopia fora da pista a 160 mph. Grant Adcox num Chevy não consegue evitar a colisão, e Dick Trickle também se envolve no acidente. O cantor folk Marty Robbins, cujo Chevy já batera na prova de Riverside, faz de tudo para desviar daquele monte de ferros retorcidos, mas é impossível.
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A luz amarela lampeja desesperadamente em todo o circuito, sem evitar, contudo, que dois outros veículos se choquem, elevando para seis o número de pilotos fora da prova. São eles, Dan Daughtry, com um Ford e D. McDuffie, que aarrasou literalmente seu Chevy, além de ser o único a receber ferimentos: um corte no queixo.
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Por sete longas voltas, os participantes, obedientemente andam enfileirados, precedidos pelo carro-madrinha. Os destroços são removidos e, quando a luz verde é novamente acesa, Foyt e Petty disparam. Tão velozmente que, em pouco tempo, deixam para trás o grupo intermediário de Buddy Baker, Dave Pearson e Donnie Allison.
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Em menos de 45 minutos de prova, Donnie Allison desiste, com um misterioso problema de combustível. Mais tarde, o defeito foi descoberto: ruptura da bomba de gasolina. Mal retornara aos boxes, e o segundo Chevy da equipe, conduzido por Johnny Rutherford, rodopia violentamente por causa de um pneu furado.
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" Velho, não foi brincadeira. Quando aquele pneu estourou, tudo começou a girar, não havia controle nenhum " , lembrava o vencedor das 500 Milhas de Indianápolis de 1974. As luzes amarelas de advertência voltaram a brilhar, enquanto Rutherford providenciava a troca do pneu.
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Volta 61: Richard Petty mantém firme a liderança. A pressão, agora é de Buddy Baker com um Ford, pois o Super Tex Foyt vai ficando para trás. A borracha de seus pneus estava se soltando com facilidade, deixando marcas pretas no asfalto. Nessa altura, o Chevy de Rutherford está soltando fumaça pela traseira, liquidando definitivamente suas possibilidades.
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E na centésima volta, Petty fica em maus lençóis. Conserva a vice liderança, mas o campeão da Grand National não consegue ficar no vácuo de Baker. Olha preocupado para o medidor de temperatura e, quatro voltas depois, entra no box. Faz uma revisão de meio minuto, quando metade da prova já foi cumprida. Trinta segundos talvez sejam poucos para os padrões europeus, mas quando King Petty retorna, está em oitavo.
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O pelotão dianteiro está com Baker, Cale Yarborough e David Pearson, voando a 190 mph, praticamente juntos. O Matador Penske de Bobby Allison está em quarto, seguido por uma folclórica figura das competições: o fazendeiro Coo Coo Marlin, que corre pelo puro prazer de correr. Foyt vem depois. Ganhando posições, progressivamente, surge Benny Parsons que faturou o Grand National há dois anos. Com um Chevy particular, Parsons vai se aproximando dos dez primeiros, mas ninguém nota sua ascensão.
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Os líderes, na segunda metade da Daytona 500, sofrem problemas. Petty volta aos boxes, e os mecânicos desconfiam que a junta do cabeçote está prestes a se romper. Nada fazem senão completar a água do radiador, fazendo figa enquanto o Dodge retorna à prova. O Chevy de A.J.Foyt perde a embreagem, mas ele continua
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Na terceira colocação, vem Bobby Allison, à frente de Coo Coo Marlin. Em seguida Benny Parsons, ele que saíra nas últimas posições, permanecendo no bloco da lanterna mais da metade da prova. Três voltas antes do final, Dave Pearson tenta ultrapassar Cale Yarborough e Rich Panch, que estão perdendo colocação. Petty vem atrás dele.
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Quando vencem a curva para entrar na reta oposta, o Mercury de Pearson cai para a esquerda e rodopia. Seu Mercury vai parar, melancolicamente, no gramado central, enquanto ele sai visivelmente irritado do carro.
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Benny Parsons, que já surpreendera ao conquistar a temporada de 73, não tem maiores dificuldades em faturar a Daytona 500. Recebe a bandeirada de chegada e, logo depois, o silêncio vai tomando conta das duas milhas e meia do circuito ...
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1975 - DAYTONA 500
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- Benny Parsons / Chevrolet
- Bobby Allison / AMC Matador
- Cale Yarborough / Chevrolet
- David Pearson / Mercury
- Ramo Scott / Chevrolet
- Dave Marcis / Chevrolet
- Richard Petty / Dodge
- Richie Panch / Chevrolet
- G.C. Spencer / Chevrolet
- James Hylton / Chevrolet
Best lap: Donnie Allison 185,827 mph
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