1983 - Visual exuberante e excelentes desempenhos sempre fizeram das corridas de Hot-Cars (para quem não se lembra, a ex-Divisão 3) um reduto de pilotos de gabarito. Entretanto, exatamente em decorrência destes altos desempenhos, ano após ano o custo operacional das equipes de ponta foi se inflacionando a tal ponto que, em 1983, uma temporada completa, para quem almejasse uma participação digna, não ficaria por menos do que o total do montante despendido na mais atrativa Fórmula 2, por exemplo.
E muito material importado, constantes trocas de motores e desenvolvimento de novos componentes só valem o investimento quando, no mínimo, o espetáculo justifica o apoio promocional de patrocinadores de porte.
Se no início da temporada tentou-se um regulamento mais acessível e que, teoricamente, tornaria a categoria mais competitiva, bastaram apenas duas ou três provas para que a HOT-CARS atingisse os piores níveis como competição e como espetáculo. Pior ainda, a Rede Globo de Televisão prometeu "mundos e fundos" ( inclusive divulgação em horário nobre e premiação tentadora ) mas levianamente deixou de "honrar a maior parte de de seus compromisos". Inclusive, a tão festejada premiação acabou só sendo paga, na íntegra, em meados do mês de janeiro de 1984, cerca de 10 meses após a disputa da primeira etapa do campeonato.
Por parte dos pilotos, tudo foi feito para atrair o respaldo da "poderosa rede". Até mesmo para evitar um confronto com a TV Bandeirantes, que detinha a exclusividade das transmissões dos campeonatos brasileiros, o torneio foi rebatizado de Taça Globo de Hot-Cars.
No final, a HOT-CARS acabou transformada em um fiasco do tamanho da própria Globo ...
Em meados de janeiro (1983) o carioca Armando Balbi resolveu peitar a ingrata tarefa de fazer com que a categoria voltasse a viver seus áureos tempos. Mas, pouco depois de assinar o contrato com a Globo, como a emissora "não cumprisse o prometido", Balbi acabou não resistindo às pressões e passou o lugar de representante dos pilotos ao também carioca Jayme Figueiredo.
E, já na quarta etapa surgiu a primeira medida para viabilizar a categoria, a despeito da malbaratada atitude da Globo.
Os Fuscas passaram a ter a cilindrada elevada para 1.800 cm³ para fazer frente aos Passat e os Stock Cars, dentro de seu regulamento original, passaram a ser aceitos na categoria. De fato, o número de inscritos a cada prova melhorou bastante e as disputas ganharam em emoção.
Mas Toninho da Matta e seu Passat dominaram inteiramente o cenário, vencendo quatro das nove provas disputadas. Armando Balbi (Passat), Ingo Hoffmann (Passat), Xandy Negrão (Passat), Camilo Cristófaro (Stock Car) e Aristides Dalício (VW 1800) venceram as demais.
Em 1984, muita gente deve abandonar a categoria, inclusive Jayme Figueiredo, seu grande incentivador. Mas outros pilotos pretendem manter a chama acesa. Ainda com o apoio (ah, que apoio?) da Globo, que tem contrato por três anos, serão nove etapas (5 em São Paulo e 4 no Rio).
O regulamento muda pouco, ainda em função de um maior equilibrio. Os Fuscas serão de 1.800 cm³ com peso mínimo de 650 quilos e pneus Pirelli P-7. Os Passat continuam com limite de 1.600 cm³ peso mínimo de 750 quilos, pneus Pirelli de chuva e slicks Pneubrás.
Segundo Jayme Figueiredo, 84 será um ano de definição para a categoria: "Se a Globo não mudar de atitude, a HOT-CARS acabará, sem sombra de dúvida. Em 1983 tudo poderia ter sido diferente, porque estávamos estruturados e havia muita gente querendo participar. Mas o Leonardo Gyner, diretor de Esportes da Globo, um "megalomaníaco", levou todo mundo na "conversa" e queimou sonhos e investimentos. Só não processei a emissora e ele próprio porque faltou mais apoio por parte do resto do pessoal. Mas está feito o aviso e todo o cuidado será pouco com qualquer tipo de negócio que se queira ter com um caráter como este ...".
Pelo visto, por mais uma temporada, a HOT-CARS deverá viver da obstinação dos próprio pilotos. E, certamente, haveremos de assistir a alguns bons espetáculos. Afinal, os carros permanencem os mesmos e, na pista, são eles que andam. Só na esperem o apoio da CBA, das montadoras ou da própria Globo ...
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