sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Campeonato Brasileiro de Hot-Car

Toninho Da Matta


1982 - Depois de três etapas disputadas, duas em Interlagos e uma no autódromo de Brasília, o Campeonato Brasileiro de Hot-Car, com três diferentes vencedores, começa a dar sinais de uma maior competitividade, pelo menos entre os carros que tradicionalmente disputam as posições de liderança.

Afinal, por competitividade entende-se o maior equilíbrio possível entre a preparação de cada automóvel e o nível de pilotagem de seus condutores. E, como resultante deste suposto equilibrio está a alternância de vencedores: na primeira etapa José Junqueira recebeu a bandeirada em primeiro, na segunda prova o vencedor foi Egídio "Chichola" Micci e na terceira, Toninho da Matta resgatou sua imagem de melhor piloto do Brasil e atual campeão da categoria ao vencer em Brasília, além de seus adversários, o sol abrasador que impediu que dez dos 17 carros que largaram recebessem a bandeirada quadriculada.

A ausência dos já obsoletos "fusquinha" provocou um esvaziamento da categoria em relação à última temporada. Este fenômeno é facilmente explicável pelo fato de que muitos destes fusquinhas eram autênticas relíquias do tempo em que a Divisão 3 foi a mais concorrida categoria do automobilismo nacional. Desta maneira, sua aquisição era facilitada pelo preço e sua preparação dependia, na maioria das vezes, de um pouco de dinheiro, algum conhecimento, e um razoavelmente aparelhado fundo de quintal.

Então, em 1981, a recém-criada Hot-Car vivia momentos de glória com os grids repletos por cerca de quarenta carros a cada corrida e a pista, encharcada de óleo derramado pela maioria destes fusquinhas. Apesar do grande número de participantes, a competitividade era limitada e Toninho Da Matta, mesmo estreando a três etapas do início da temporada, não encontrou dificuldades para tornar-se campeão.



Junqueira persegue Balbi

Hoje, a briga pela liderança, de cada prova e do campeonato, é mais no mano-a-mano. Sofisticou-se o nível de preparação, lançar um Passat ou um Gol nas pistas com chances de vencer está bem mais caro e os fusquinhas já não correm. Mas, mesmo assim, a Hot-Car está correndo um grave risco ...

Em Brasília ficou provado que o interesse e emoção de uma prova não podem ser medidos pela quantidade de participantes. Mas Brasília deixou claro também que provas de uma hora de duração são o maior desafio à consolidação da Hot-Car como categoria de primeiro nível. Mecânica sofisticada e grandes desempenhos não são sinônimos de robustez. Sete valentes equipamentos chegaram ao final e a única emoção foi uma ferrenha disputa entre José Junqueira e Armando Balbi, até a bandeirada final. Mas, logo depois, os dois reconheciam que seus carros não aguentariam duas voltas mais.

Ainda há tempo para uma tomada de posição dos responsáveis pela categoria. As provas estão muito longas, os carros não resistem e afugentam o público. E, mais importante, as provas só passaram a ser disputadas em bateria única de uma hora em função da transmissão direta da televisão. O que já vem acontecendo. Que tal voltarmos ao antigo e emocionante sistema de duas baterias ? Afinal, saber quem está vencendo é interesse dos próprios pilotos, equipes, cronometristas e jornalistas. O povão quer ver mesmo são pegas de rachar, vença quem vencer...

Foi um fim de semana de sucesso para a dupla 10 "Sanchão e Espanhol" . Os dois carros sob sua responsabilidade dominaram o cenário, um fez a pole, o outro ganhou.

Para "Chichola", vencedor da segunda etapa em Interlagos bastou disputar a segunda sessão classificatória completa para, de último, passar para primeiro. Na primeira sessão ele permaneceu nos boxes, cabeçote rachado. Na segunda, trocou um jogo de pneus nas últimas três voltas e, na derradeira, bateu por 0,09s a melhor marca, até então em poder de Armando Balbi. Mas, não teve só sorte. O motor campeão teve problemas e ele correu com o reserva que acabou superaquecido na metade da prova.

Armando Balbi foi a maior surpresa. Em sua segunda participação na categoria dominou os treinos de sexta-feira e a primeira sessão de sábado, mesmo sofrendo a adaptação aos pneus slicks. e mais, seu carro era o resultado de vários componentes seus, outros emprestados e alguma herança do Passat de João Franco que, em 1981, também corria sob a responsabilidade do competente preparador Ico.

Toninho Da Matta era o terceiro, Logo depois alinhava Paulo Júdice, irreconhecível, guiando com segurança e estilo: "Afinal me deram um carro bom para guiar. Assim fica mais fácil". O carioca se dava inclusive ao luxo de disputar toda a segunda classificação sem preocupação com a marca, só testando algumas alternativas. Clemente de Faria e José Junqueira vinham logo depois, seus carros rendendo menos que nas últimas etapas, com Dimas Pimenta, Anor Friedrich, Vicente Correa e Roberto Rempel completando os dez primeiros.

Egidio "Chichola" Micci

O grande susto ficava por conta do violento acidente sofrido por Josué Pimenta. Seu Gol bloqueou forte em uma curva de alta, bateu no guard-rail e ficou muito danificado. Como, felizmente, o piloto nada sofreu, a dedicação do preparador Miguel e seus auxiliares foi incrível e no domingo o carro alinhava normalmente.

Em termos de corrida foi aquela velha história: foi bom enquanto duro. Nas primeiras voltas todo mundo acelerou forte e ficou a impressão de que seria uma prova bem disputada mas com pouca gente terminando. Engano. Todo mundo aliviou para evitar quebras mas no final, mesmo assim, acabaram abandonando.

Toninho pulou na ponta e Júdice, muito bem, acompanhou-o. Logo depois "Chichola" passava para segundo e na frente Da Matta pôde aliviar o ritmo: "Já na quarta volta o Chichola pediu para trocar de posição comigo porque seu carro estava esquentando demais. Troquei, mas quando vi o pessoal encostar e o Chichola sem melhorar, voltei para a ponta, acelerei e, depois, vim tranquilo até a bandeirada", explicava Da Matta.

Chichola parou com junta queimada, Júdice desclassificado porque o capô estava solto, Freitas com o pivô da suspensão partido e Dimas com a vareta de tucho perdida em algum lugar da engenharia. A briga então se resumiu a um pega que forneceu ao público toda a emoção das primeiras voltas. Balbi e Junqueira só definiram o segundo posto na penúltima volta quando, depois de uma quase rodada de Junqueira, o boxe de Balbi informou que só faltava uma volta ao invés de duas. ficou fácil para Junqueira ultrapassá-lo.


Autodromo presidente Médici (DF)

23 de maio 1982 - Pista Seca

Toninho Da Matta, Passat 2º José Junqueira, Passat 3º Armando Balbi, Passat 4º Clemente de Faria, Passat 5º Vicente Correa, Passat 6º José Romano, Gol 7º Anor Friedrich, Passat 8º Jorge Freitas, Passat 9º Josué Pimenta, Gol 10º Roberto Hempel, Passat.