Toninho da Matta
1982 - Anel externo ou circuito completo? A discussão entre o Automóvel Clube Paulista e os pilotos sobre o local onde deveria ser realizada a quinta etapa do campeonato resultou na antecipação da prova em quatro horas. Por isso, quase ninguém viu a primeira vitória de Paulo Judice.
Era uma cena, até certo ponto, patética. Afinal, entre os seis primeiros que acabavam de receber os troféus relativos á quinta etapa do Campeonato Brasileiro de Hot-Cars, dia 5 de setembro, em Interlagos, figuravam alguns dos nomes mais representativos do automobilismo nacional. Toninho da Matta, por exemplo. Ou o atual líder desta temporada, José Junqueira.
Porém, nas imediações do pódio só se avistava a presença dos responsáveis pela entrega dos prêmios. E mais ninguém. É verdade que o público não tem primado exatamente pela grande afluência às provas disputadas em São Paulo, mas desta vez a ele não cabe qualquer responsabilidade por sua ausência das arquibancadas.
Simplesmente porque um desentendimento entre o Automóvel Clube Paulista e os pilotos da Hot-Cars quanto à forma da realização da corrida, acabou provocando sua antecipação em quase três horas. E como a divulgação do novo horário não foi feita a contento, apenas os portadores de poderes paranormais puderam chegar ao autódromo pela manhã e assistir à primeira vitória do carioca Paulo Judice. A prova estava determinada para as 14:45 horas.
O Automóvel Clube Paulista organizou o programa de um acontecimento de nome, senão de certa pompa, ao menos promissor: Semana da Velocidade, da qual faria parte, além da prova do Brasileiro de Hot-Cars, a 17ª edição dos 500 Quilômetros de Interlagos, há sete anos afastada do calendário. E, procurando atrair mais atenções, marcou somente o Anel Externo como local de todas as corridas.
Esqueceu apenas de um pequeno (mas importante) detalhe: avisar os pilotos da Hot-Cars.
Egidio "Chichola" Micci
Estes, alheios ao que se passava, prepararam os carros para um Circuito Completo (e complexo) como o de Interlagos.
Na sexta-feira, ao tomarem conhecimento da alteração, os pilotos mantiveram uma reunião com os organizadores que se prolongou até às 23 horas. Enquanto estes sustentavam que há muito tempo a prova já estava prevista para o Anel Externo, apegando-se, inclusive, ao regulamento da categoria, que diziam prever ao menos uma corrida desse estilo no calendário da temporada.
Os pilotos rechaçavam a argumentação e, de quebra, apontavam a questão da segurança. A média horária, segundo eles, se aproximaria dos 197 Km/h, índice mais do que suficiente para explicar a recusa em tomar parte de uma corrida nesses moldes.
Os diretores do Automóvel Clube Paulista acabaram conformando-se e a prova confirmada para o Circuito Completo de Interlagos. Só que a divulgação do novo horário falhou e, no domingo, jornalistas, público e até mesmo representantes da Federação Paulista de Automobilismo receberam surpresos a informação de que a corrida fora disputada pela manhã. De acordo com o Automóvel Clube Paulista, não havia outro jeito. Resultado: praticamente ninguém assistiu à prova.
No sábado, depois de toda a confusão da véspera, o carioca Paulo Judice obteve a melhor volta ao marcar o tempo de 3m17,18s, poucos centésimos a menos que o paulista Egidio "Chichola" Micci. Logo a seguir, todos na faixa dos 3m18s, apareciam José Junqueira, Toninho da Matta, Jorge Freitas e Armando Balbi.
Mas, no domingo, Paulo Judice precisou contar com uma dose extra de sorte para conseguir sua primeira vitória do ano. É que , logo após a largada, "Chichola" tomou a ponta e liderou até a 13ª das 14 voltas previstas. E o paulista fatalmente chegaria na frente se não enfrentasse problemas com a terceira marcha.
Problemas que acabaram permitindo a ultrapassagem de Judice e, logo depois, de Toninho da Matta. Com muito esforço, "Chichola" cruzou a bandeirada com a incômoda presença de Junqueira em seus calcanhares.
"Larguei mal", admitia José Junqueira. "E que a embreagem esquentou, dificultando a utilização da primeira marcha. A partir daí, passei a me preocupar unicamente em chegar e somar mais alguns pontos importantes com vistas ao campeonato".
Mas, na verdade, nem essa possibilidade parecia animar muito o mineiro, que reclamava contra o trabalho dos dirigentes do automobilismo nacional, "eles estão com a cabeça fora do lugar", e da necessidade de se conseguir um patrocinador para a categoria. Além, é claro, da indispensável promoção.
Paulo Judice
É por isso que José Junqueira não esconde os planos para 1983. "Estou pensando em ir para a Fòrmula 2, juntamente com meu companheiro Clemente de Faria. Afinal, aos 34 anos, já é hora de eu me acostumar com a idéia de parar de correr. Só que, antes, vou experimentar tudo o que der".
Mas se depender de Clemente, ele pode ir sozinho: "Não sinto nenhuma atração por Fórmulas", garantiu o companheiro de Junqueira, enquanto se retiravam rapidamente do autódromo.
E, ao mesmo tempo em que lamentava o azar que lhe roubou uma vitória praticamente assegurada, "Chichola" justificava a negativa dos pilotos em correr pelo Anel Externo: "É muito perigoso", resumia. E comentava a situação pouco animadora que vigora na Hot-Cars: "Continua faltando maior divulgação. A continuar desse jeito, a categoria caminha a passos largos na direção da extinção. O que seria uma pena, levando-se em conta o seu alto nível. Só temos recebido algum apoio da TV, com o resto não podemos contar. É por isso que hoje tivemos um grid com apenas 17 carros, número muito inferior ao das primeiras provas. Muita gente acabou desistindo".
CAMPEONATO BRASILEIRO DE HOT-CARS
Autódromo de Interlagos - 7.673 Km - 5 de Setembro 1982 - Volta mais rápida Armando Balbi/Passat 3m 18,05s (novo recorde).
- 44 - Paulo Judice ....Passat
- 33 - Toninho da Matta ....Passat
- 78 - Egídio "Chichola" Micci....Passat
- 32 - José Junqueira....Passat
- 42 - Jorge Freitas ....Passat
- 39 - Amadeo Rodrigues .... Gol
- 31 - Clemente de Faria ....Passat
- 55 - Samuel Gross .... Passat
- 43 - Arnor Friedrich ....Passat
- 02 - Armando Balbi ....Passat
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