domingo, 11 de março de 2012

SCHECKTER RESOLVE PARAR




Classe é classe e independe da fama ou da fortuna. Quando Niki Lauda resolveu parar de correr, foi incapaz de poupar o esporte de sua vida de algumas declarações, no mínimo contraditórias. Em outras palavras, conseguiu simplesmente reconhecer que tudo que havia feito nas pistas não resultara em nada positivo e destilou frustrações.

Agora, quem resolve parar é Jody Scheckter, na pior temporada desde que passou a integrar o circo da Fórmula 1.

Se Jody fosse um homem como Lauda na certa, haveria motivo bastante para que também não poupasse o esporte de muitas críticas. Afinal, campeão da última temporada, atualmente tem só 2 pontos a seu crédito.

Entretanto, o sul-africano preferiu sair de cabeça erguida, apesar de todas as pressões que vinha sofrendo por parte dos italianos, que vivem uma autêntica "lua-de-mel" com Gilles Villeneuve

" Quando fui discutir com o Comendador Enzo Ferrari meu novo contrato, preferi informá-lo que pararei, definitivamente, de correr, no final desta temporada. Da mesma maneira que cumprirei meu atual contrato até o fim, achei que seria justo da minha parte comunicar-lhe minha decisão para que a Ferrari tenha tempo bastante para contratar outro piloto para o ano que vem ".

Caso Jody Scheckter decidisse anunciar sua retirada no final da temporada, a maioria dos outros pilotos já estaria de contrato assinado com várias equipes. E, certamente, a Ferrari ficaria em apuros.

Para Scheckter, sua decisão em parar "não foi em decorrência da fraca temporada. Pilotos sérios não param de correr por causa disso, mesmo que só existam cinco carros em cada grid. Minha motivação foi porque a Fórmula 1 era a paixão da minha vida e eu simplesmente não tinha vontade de pensar ou viver para outra coisa. Este tipo de envolvimento consome 110% de sua garra e vontade e, quando comecei, meu objetivo era o campeonato mundial. Agora que já o conquistei, sinceramente, a paixão se acabou ".

E o atual campeão mundial continua:

" Tive por parte da Ferrari uma excelente oferta para continuar. Se eu fosse um jogador de tênis aceitaria na hora. Mas, não é assim que as coisas funcionam no automobilismo. Com todos os riscos inerentes, você não pode unicamente pensar no dinheiro. Ficaria muito irritado se, na hora de um acidente, pressentisse que ia morrer simplesmente pelo dinheiro envolvido ".

A decisão de Scheckter não foi uma surpresa. O Ferrari T-5, tão pouco competitivo, só consegue estimular realmente um Gilles Villeneuve, que ainda tem muito chão pela frente.

Em Brands Hatch, Scheckter acha que guiou uma das melhores corridas de sua vida: " Mas, o carro estava tão ruim que, lá atrás, ninguém pensou em avaliar minha pilotagem. Porém, é assim que as coisas funcionam. Vencedores, são vencedores ".

Para a próxima temporada, Jody Scheckter tinha outras ofertas, além da Ferrari, mas somente uma ele admite ter recebido: da nova equipe Talbot, que adquiriu o controle acionário da Ligier e agora permanecerá com Pironi e Laffite como pilotos e vai chamar-se Talbot-Ligier.

Sair da Equipe Ferrari bem relacionado é, pelo menos, um fato raro, principalmente diante das pressões que os pilotos costumam sofrer. Mas, com Jody, isso aconteceu: " Respeito-os profundamente por terem me dado um carro para vencer o Mundial. E sei que eles me respeitam pela conquista. Foi sem dúvida a melhor equipe pela qual eu passei, em toda a minha carreira ".

Para o futuro, Jody ainda não se decidiu por completo. Mas, já bastante rico, pretende tornar-se fazendeiro, provavelmente na Inglaterra, onde já andou pesquisando. Independente disso, continuará contratado como relações públicas das empresas Brooklyn (goma de mascar) e Kiwi (capacetes). E, na última reunião com o Comendador Enzo Ferrari, Jody Scheckter tratou de indicar, pela ordem, um substituto para a Ferrari número 1: Jones, Piquet, Arnoux e Laffite.

Diante da maneira como Niki Lauda parou, é pelo menos reconfortante assistir à despedida de Jody Scheckter. Prova que ainda há profundo respeito pela arte de pilotar um Fórmula 1.