1955 - Com o aparecimento do recente livro que Saint Loup sôbre o magnata da indústria automobilística francesa, o "caso Renault" está apaixonando à França. O famoso industrial teria sido assassinado, em 1944, na prisão de Fresnes, pouco depois de nacionalizadas as suas fábricas pelo govêrno francês.
O jornalista Justino Martins, em recente correspondência de Paris a "O Globo", do Rio, diz que Louis Renault, onze anos após sua morte, está figurando como herói da crônica policial parisiense.
O livro do escritor Saint Loup levanta a hipótese sustentada pelos parentes do industrial de que o falecimento dêste teria sido causado por uma hemorragia cerebral conseqüente a espancamentos recebidos na prisão de Fresnes, logo após a liberação da França, em 1944. Os jornais se entusiasmam pelo assunto. O público francês acompanha a discussão recordando-se "daqueles dias gloriosos em que muita justiça foi feita, mas também muita violência foi praticada".
Diz Justino Martins: "O nome de Renault está hoje intimamente ligado à sua obra: uma das maiores fábricas de automóveis do mundo, que emprega cêrca de 50.000 operários e ocupa vasta região dos subúrbios de Paris. Mas essa fábrica já não pertence à aristocrática família dos Renault. Ela foi nacionalizada pelo ministério francês do após-guerra, cujas pastas estavam, na maioria, sob o contrôle do Partido Comunista.
Desde então, nenhuma modificação se operou na situação das Usinas Renault que todos os anos dividem seus grandes lucros entre os cofres da Nação e o seus operários".
O engenheiro Louis Renault tinha 21 anos de idade quando fabricou, em 1908, o seu primeiro automóvel: um 3/4 de CV que desenvolvia 50 Km à hora. Oito meses mais tarde, um carro Renault vencia a "Grande Corrida Mecânica entre Paris e Viena". No ano seguinte, uma corrida "internacional" entre Paris e Madrid resultou na morte de quatro pilotos, entre os quais Marcel Renault, irmão de Louis.
A essa altura, a fábrica já ocupava 600 operários e produzia lucros colossais. Todos os fabricantes da Europa e América adotavam o "arranque elétrico" imaginado por Renault que, em conseqüência, recebia milhões de franco-ouro como "royalties". Louis Renault comprou castelos, propriedades e duplicou a fábrica.
Passam-se os anos e um dia explode a Segunda Guerra. Os nazistas ocupam a França e Renault, para salvar suas fábricas, passa a colaborar com Hitler. Terminado o conflito, Louis Renault é denunciado à nova Justiça Francesa.
A 24 de outubro de 1944, o grande industrial morre, sem processo, sob circunstâncias que só agora estão sendo reveladas. Entre as testemunhas invocadas, o escritor Saint Loup cita o pastor americano Roger Charles que afirma: "Eu passava por uma cela em que havia um homem com a cabeça enfaixada ... O guarda que me acompanhava disse-me que era Louis Renault. E acrescentou que, durante tôda a noite, tinham espancado o velho".
A última frase de Louis Renault, antes de morrer:
"A fábrica ...."
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