quinta-feira, 25 de abril de 2013

A SAGA DOS FITTIPALDI - 4



Em dezembro de 1975, Emerson entrou para a equipe

Ao longo do ano, enquanto Emerson caminhava para seu segundo vice-campeonato (fora vice também em 1973, com o Lotus, e bicampeão mundial em 1974 com o McLaren), Wilsinho começava a sentir as pressões: a torcida não tinha paciência, e o insucesso do Copersucar começava a acumular uma montanha de críticas.

De "açucareiro" o primeiro e carinhoso apelido, passara a "tartaruga" , e aguentar as gozações era um fardo a mais para quem já carregava outras preocupações:

" A Copersucar jamais criou problemas financeiros para a equipe. Mas o pagamento da fábrica era problema da Fittipaldi Enpreendimentos, não deles. E nós estávamos cheios de dívidas. No Grande Prêmio da Holanda, por exemplo, percebi que estava pensando nos "papagaios" no instante da bandeirada de largada; e quase erro a largada. "

" Essa desconcentração é imperdoável numa corrida, e eu comecei então a ver meu fim como piloto. Eu estava envolvido demais com os problemas da equipe para continuar guiando".

Depois dos resultados modestos de 1975 ( o Copesucar não se classificara para a largada de três GPs, e a sua melhor colocação fora um nono lugar), começavam a correr notícias sobre o fim da equipe. Mal se sabia, então que uma poderosa reviravolta começara a ser tramada nos bastidores:

" No avião em que íamos para o Grande Prêmio dos Estados Unidos de 1975, conta o velho Wilson, eu mostrei a Emerson o desenho do novo Copesucar FD-04. Seus olhos brilharam, e ele me falou: 

Nessa barata aí eu teria vontade de sentar, sabe ? "

Para muita gente, Emerson transferiu-se para a Copesucar apenas para salvar o empreendimento da fámilia. Mas isso não é verdade, segundo o pai:

" o que houve foi, acima de tudo, força de uma série de circunstâncias ".

No final de 1975, Emerson começara a ter dificuldades para renovar seu contrato com a Marlboro, que pagava seu salário de 500 mil dólares anuais à McLaren. Emerson queria um aumento, eles não queriam dar, e as negociações arrastaram-se meses até que, em dezembro, quase todas as equipes já estavam formadas e ele estava em posição indefinida, chateado com as manobras e desconsiderações.

Em dezembro, lembra Wilson, o contrato com a Copesucar já estava renovado, e um dia eu e Wilsinho estávamos conversando com o Atalla e ele perguntou:

" E o Emerson ?", 

Esta livre, respondi.

" Quanto ele ganha ? ", perguntou Atalla

" 500 mil dólares ", eu disse

" Nós pagamos. Telefone para ele "

O Wilsinho começou até a tremer de emoção:

" O, pai, e se essa merda não andar ? "

Horas depois, Wilsinho telefonava para Emerson na Suiça, e a resposta do irmão foi imediata:

"Topo !"

Cauteloso, Wilsinho pediu que ele refletisse uma semana.

Dois dias depois, Emerson telefonou-lhe reafirmando a decisão. A Copesucar tinha, a partir daí, um bicampeão mundial.

Qual teria sido o futuro da equipe, entretanto, se não fosse isso ?

Difícil dizer. Para muitos, ela teria morrido, pois os Fittipaldi não teriam conseguido patrocinadores dispostos a continuar investindo num projeto que não apresentava resultados satisfátorios.

Para os Fittipaldi, a contratação de Emerson facilitou tudo, mas a equipe teria continuado :

" Seria tudo mais difícil ", admite Wilsinho,

" mas teríamos ido em frente ".

Para Emerson, guiar um Fórmula 1 feito por ele e pelo irmão era como voltar, em nível muito mais alto, aos tempos dos Karts, do Fitti-Porsche, dos Fitti-Vê. Mas o tempo mostraria que sua decisão traria repercussões totalmente imprevisíveis para sua carreira.

A primeira coisa que me chateou, conta Emerson,  foi que me acusaram de mercenário, de ter ido para a Copersucar por causa dos 2 milhões de dólares que eu ganharia por ano. Uma mentira: 2 milhões era a verba de toda a equipe, meu salário era uma parte dela.

Financeiramente, sem dúvida a passagem de Emerson para a equipe da família não foi um bom negócio para ele: seu salário de 500 mil dólares anuais jamais foi aumentado, e os amigos mais íntimos contam que mesmo esse salário ele acabou investindo na equipe e na fábrica, por causa dos seguidos problemas que passariam a aparecer nos projetos.

Se tivesse continuado a correr por outras equipes, ele estaria ganhando no mínimo 1 milhão de dólares anuais só de salário, mais as porcentagens dos prêmios. Sem contar que provavelmente teria sido campeão mundial outras vezes, o que multiplicaria seu valor como homem-propaganda.

Wilson, o pai, não tem dúvidas:

" Se não tivesse surgido a equipe Fittipaldi, Emerson seria hoje bilionário e Wilsinho provavelmente estaria muito rico também, guiando como primeiro piloto para alguma equipe ".

Para Wilsinho, entretanto, o futuro teria sido diferente:

" Emerson já teria parado de correr, depois de ser campeão do mundo pelo menos mais uma vez. E eu, depois de rodar de equipe, também teria parado. Como piloto, eu já estava muito limitado: Emerson é um gênio, existem dois ou três pilotos como ele; os demais 26 da Formula 1 estão abaixo, no mesmo nível.

Mas sempre me comparam só com o Emerson, jamais com os outros. Deixei de ser um piloto comum: Eu era o irmão do Emerson ".