Os dois veteranos de corridas da Classe Turismo, Cesário de Mello Franco Senna (sem paletó) e Alexandre José Fontenelle Pereira de Sousa, ladeiam Belisário da Silva, o lanterneiro artista que fêz as duas carroçarias com ferramenta manual, para os motores MG
1954 - Alexandre José Fontenelle Pereira de Sousa e Francisco Cesário de Mello Franco Senna são dois entusiastas bastante conhecidos no meio do automobilismo de corrida da Capital.
Fontenelle vem fazendo sua carreira desde 1949, quando estreou com MG em Circuito realizado na Praça Paris, colocando-se modestamente em 5º lugar. Nesse ano correu também o Circuito de Petrópolis, também na Categoria Sport até 1.500 cc, e também não se colocou.
Voltou à pista em 1953, e vem colecionando pacientemente uma série de primeiros: em 1953, Subida do Joá, Barão de Petrópolis, Tijuca; em 1954, Circuito do Maracanã (2 vezês) e Circuito da Quinta da Boa Vista. Tudo com um VOLVO, na Categoria de Turismo até 1.600 cc.
E Cesário de Mello Franco, correndo na Categoria Sport até 1.500 cc com um MG apresenta em ficha, também, uma bela atuação.
Em 1952 três segundos lugares na Subida das Canoas, de Barão de Petrópolis e Circuito da Quinta da Boa Vista, dois primeiros lugares na Subida do Joá e Subida da Tijuca. Em 1953, quatro segundas colocações no Circuito do Castelo, Circuito da Quinta da Boa Vista, Subida das Canoas e Subida da Tijuca, e três primeiras colocações: Circuito do Maracanã, Subida do Joá e Subida da Gávea.
Mas, ambos vêm vivendo de "canto chorado", na expectativa de possuir melhores carros, desenvolver melhores performances, ganhar melhor as próximas provas. Como o "mas" é que sempre atrapalha as ambições honestas, resolveram ambos obviar suas dificuldades do melhor modo, e, portanto, do modo mais inteligente.
Na impossibilidade de conseguir Maseratis, ou Ferraris, ou Mercedes, ou Lancias, deliberaram construir seus carros. E aqui mesmo, com a prata da casa ...
Cesário de Mello Franco fêz o seu carro em um modêlo mais original. As linhas dinâmicas combinam com o potencial de velocidade do motor
Na Garagem Berby, nesta cidade, à Rua Siqueira Campos, estão sendo terminadas as duas "baratas" MG que pertencem a Fontenelle e Mello Franco. A de Fontenelle está, já agora, em período de "amaciamento", e, diz Fontenelle, não só para o motor: também para mim, afirmava modestamente. "Não sei o que o carro pode dar agora, com as modificações feitas. Tenho que me habituar a êle ..."
A história de todo corredor sempre começa no dia em que, com a mão no volante de um carro qualquer, o futuro campeão ultrapassa pela primeira vez os 100 quilômetros, e, na medida que o velocímetro avança, êle sente que se vai identificando com a velocidade, até que se rejunta em um tôdo em que o corredor e carro são uma mesma coisa ...
Nesse dia em que experimentou o "toxíco" pela primeira vez, ficou marcado o desejo de se ver ao lado de um outro carro ... e passando-o. Vem então o anseio de possuir aquilo que esteja no extremo do limite do que mecânicamente seja possível ao entusiasta ... E o que foi possível é o que se mostra nesta reportagem: dois carros feitos "pessoalmente" por seus proprietários, desde a escolha do desenho até as alterações de ordem mecânica, que resultaram em aumento de potência e velocidade.
Ambos os carros são da marca MG, modêlo TC 1.250 cc. Originalmente da Categoria Sport, que o leitor está habituado a ver passar pelas ruas da cidade. Êstes dois o leitor não os reconhecerá, mas lhe chamarão imediatamente a atenção, pela elegância e beleza de suas linhas reais de carro de corrida.
O artífice do estilo, Belisário da Silva, nasceu em Penafiel, Portugal. Aos 15 anos já trabalhava como funileiro em uma grande oficina, em sua terra. Veio em 1951 para o Brasil. Fontenelle e Mello Franco encontraram-no nas oficinas da Volkswagen, exercendo sua profissão. Belisário fêz ambas as carroçarias com um mínimo de ferramentas manuais, e sem moldes. É um artista consumado, além de competente profissional.
Carro de Alexandre Fontenelle, é evidente o predomínio das linhas italianas. Traz a estampa completa do melhor carro de sua classe
Ambos os carros foram iniciados a 27 de agôsto e entraram em pintura recentemente.
"Em que desenho vocês se inspiraram ?, perguntamos".
Não houve propriamente escolha de determinado modêlo, informa Fontenelle. De um modo geral as linhas obedecem a princípios de aerodinâmica. Estão feitos para oferecer o mínimo de resistência ao ar e o máximo de estabilidade em corrida. Assim, os chassis são baixos porque o motor foi também colocado mais próximo do chão, anulando-se com a nova posição da massa pesada a possibilidade de desiquilíbrio nas curvas, para o que contribuirão também o pêso do corredor e o do automóvel, além das demais partes.
Fizeram muitas modificações de ordem mecânica ?
Sim. O cabeçote foi rebaixado, tiramos pêso do volante para melhorar a reprise, substituímos as válvulas, de 34 para 37 na admissão e de 32 para 35 na descarga, aumentamos o diâmetro dos pistões para 0,60 ... Trocamos as rodas para aros 16, que originalmente são 19; êsses aros são feitos por Claudio Rodrigues, em São Paulo. Fizemos muitas outras coisas ...
Bem, isso é o que o leitor quererá saber ...Quais foram as outras coisas?
Reforçamos o chassi no centro, com um X, para diminuir a torção, abrimos ventilação para os freios. Colocamos radiadores novos, aumentando de 7 para 14 litros a capacidade de água. O desenho dêsses radiadores também é modificado. Aumentamos a capacidade do cárter, de 5 para 7 litros, estendendo-se para os lados, de modo que, assim, diminuímos sua altura. Trocamos as bielas por outras, italianas "Nardi". Trocamos os amortecedores por outros, Ford, com regulagem.
Que acham vocês dos resultados a obter?
Do ponto de vista do automobilismo comum o carro ganhou em potência e velocidade. Do ponto de vista de corrida, vamos ver na prática. Espero, no entanto, diz Mello Franco, os melhores resultados.
Os dois carros estão com uma aparência digna dos esforços de seus donos. Respondendo ainda, a uma última pergunta, Mello Franco informa que o pêso total da carroçaria é de cêrca de 90 quilos, dos quais 13 quilos de tubo para o chassi.
No dia em que uma carroçaria custar um preço acessível, será moda cada qual mandar fazer a sua, assim como se manda fazer uma roupa no alfaiate ... termina Fontenelle.
Fizeram muitas modificações de ordem mecânica ?
Sim. O cabeçote foi rebaixado, tiramos pêso do volante para melhorar a reprise, substituímos as válvulas, de 34 para 37 na admissão e de 32 para 35 na descarga, aumentamos o diâmetro dos pistões para 0,60 ... Trocamos as rodas para aros 16, que originalmente são 19; êsses aros são feitos por Claudio Rodrigues, em São Paulo. Fizemos muitas outras coisas ...
Bem, isso é o que o leitor quererá saber ...Quais foram as outras coisas?
Reforçamos o chassi no centro, com um X, para diminuir a torção, abrimos ventilação para os freios. Colocamos radiadores novos, aumentando de 7 para 14 litros a capacidade de água. O desenho dêsses radiadores também é modificado. Aumentamos a capacidade do cárter, de 5 para 7 litros, estendendo-se para os lados, de modo que, assim, diminuímos sua altura. Trocamos as bielas por outras, italianas "Nardi". Trocamos os amortecedores por outros, Ford, com regulagem.
Que acham vocês dos resultados a obter?
Do ponto de vista do automobilismo comum o carro ganhou em potência e velocidade. Do ponto de vista de corrida, vamos ver na prática. Espero, no entanto, diz Mello Franco, os melhores resultados.
Os dois carros estão com uma aparência digna dos esforços de seus donos. Respondendo ainda, a uma última pergunta, Mello Franco informa que o pêso total da carroçaria é de cêrca de 90 quilos, dos quais 13 quilos de tubo para o chassi.
No dia em que uma carroçaria custar um preço acessível, será moda cada qual mandar fazer a sua, assim como se manda fazer uma roupa no alfaiate ... termina Fontenelle.