- Como foi aquele verdadeiro "Grande Prêmio" de aviação que você disputou com o Senna depois do Grande Prêmio de Portugal ?
_ Com o Ayrton não, porque o Ayrton nem voa (risos). A brincadeira foi mesmo com o piloto dele. Quando nós chegamos no aeroporto, o Ayrton já estava lá e eu notei que ele cutucou o piloto e disse "vamos embora, vamos embora", como se quisesse evitar a gente. Então, eu virei para o cara que estava comigo e mandei ele ir na frente pra ligar os motores enquanto a gente desembaraçava as bagagens.
- Tudo correndo ?
_ Isso. Quando cheguei no meu avião, o do Ayrton já estava de portas fechadas, mas a ordem da torre de controle era para os dois aparelhos aguardarem uns 10 minutos. Aí, veio a autorização para ligarmos os motores. Só que o meu já estava ligado há muito tempo...
- Por isso você teve preferência para decolar ?
_ Exato. Na mesma hora, eles pediram autorização para taxiar na outra pista, mas não conseguiram e ficaram mais putos ainda. Só pra sacanear, eu passei bem devagarinho ao lado deles soltando fumaça e fazendo assim (dá uma banana). Daí pra frente fizemos tudo para atrasar a viagem deles e chegamos na Espanha dez minutos na frente (risos).
- Os aviões de vocês são iguais ?
_ Iguais.
- Quem comprou primeiro ?
_ Eu tenho avião há cinco anos, ele comprou no ano passado. Em 83 eu estava disposto a largar a Fórmula 1 e voltar para o Brasil. Eu não agüentava mais, passava mais tempo nos aeroportos e dentro dos aviões de carreira do que em minha casa. Aí, resolvi comprar um avião e a vida melhorou muito.
- Apesar da rivalidade, você tem de reconhecer que o Senna tem uma habilidade em se promover.
_ Uma certa habilidade, não, ele tem uma máquina publicitária. Ele montou uma empresa só para abastecer a imprensa brasileira com notícias das coisas que ele faz lá fora.
- A habilidade dele não está nisso: sem nunca ter vencido um campeonato ele consegue dividir a torcida brasileira com você, que é tricampeão ?
_ Isso só acontece porque o povo não entende nada de automobilismo. Lá fora, na Europa, o que vale é o resultado, e quem tem os melhores resultados. Agora se o Senna faz todo esse esforço, apenas pra conquistar o mercado publicitário brasileiro, é bobagem, porque, no final, o Imposto de Renda come tudo. A publicidade no Brasil representa 5% do que eu ganho, não é nada pra mim.
- Você já disse que é muito preguiçoso para fazer publicidade. Como foi possível conciliar sua preguiça com os interesses comerciais dos patrocinadores da Lotus ?
_ No começo da conversa, eles queriam que eu desse quarenta dias por ano para a Reynolds (fabricante dos cigarros Camel). Eu disse que não aceitaria de jeito nenhum e propus dez dias. Eles ameaçaram pular fora, eu fiz pé firme e acabei assinando nas bases que queria.
- Dez dias ?
_ Dez dias para a Reynolds, oito para a Honda e dois para a ELF. Agora, vai ver no contrato quantos dias o Ayrton tem que dar para a Marlboro. Não tem limite. Se os caras exigirem que ele viaje 300 dias por ano, ele tem que viajar.
- Em dezembro, antes de testar a Lotus que foi usada pelo Ayrton, você disse que a primeira providência a tomar seria "desinfetar o banco". Essas coisas saem todas da sua cabeça ou você tem um assessor especial para maldades ?
_ Nem sei como é que surgiu isso, pô, é uma sacanagem. Acho que foi o pessoal da Lotus que inventou, e aí botaram na minha boca. Veja como são as coisas. No começo do ano passado, um repórter veio me entrevistar e começou a conversa dizendo o seguinte: "Pois é, Nelson, agora o Senna trocou de motor, vai correr de Honda, então não tem mais desculpa pras derrotas, né?" Eu disse, "é". No dia seguinte, estava lá, manchete do jornal: "Piquet diz que agora Senna não tem mais desculpa". Vou fazer o quê? Bater no cara? Que se dane ...
- Você até gostou, né ?
_ No final você fica até contente (risos).
- O Emerson Fittipaldi declarou recentemente que essa briga entre você e o Ayrton é coisa passageira e que, na opinião dele, daqui a pouco vocês estão se falando e se dando bem. Você acredita nisso ?
_ Pra mim, tanto faz. Se o Ayrton fosse tricampeão como eu, acho que seriamos muito amigos porque estaríamos no mesmo nível e não haveria inveja. Eu noto que todos os relacionamentos bons que eu tive na Fórmula 1 foram com pessoas que tiveram os mesmos resultados que eu, como o Prost, o Niki Lauda... Quando o cara não tem sucesso, ele está sempre querendo puxar o teu tapete.
- De quem você tinha inveja antes de ser campeão ?
_ De ninguém. Ao contrário, eu fazia tudo para aprender com os caras.
- Que caras ?
_ O Lauda, por exemplo. O Lauda não me ensinou nada, porque na Fórmula 1 ninguém ensina nada pra ninguém. Mas eu aprendi muito com ele.
- Como ? Vendo o Lauda correr ?
- Não, aprendi ouvindo o que ele falava. O problema é que na Fórmula 3 eu estava acostumado a trabalhar para mim mesmo. Então, o carro não estava bom, eu chamava o mecânico e dizia faz isso, faz aquilo, muda aqui, muda lá. Mas na Fórmula 1 é diferente. Você tem que conversar com o engenheiro, explicar as reações do carro. Não basta pedir uma regulagem assim ou assado, você tem que explicar por que quer aquilo. Eu aprendi a fazer isso de tanto ouvir a conversa do Lauda com os técnicos.
- E ele não ficava bronqueado com você sempre por perto, bisbilhotando ?
_ Não, porque eu sempre tinha cuidado de chegar de mansinho e ficar atrás dele. Ou seja, o Lauda nunca me via (risos).
- Não se pode dizer que sua convivência com a imprensa tenha sido pacífica nesses anos de Fórmula 1. Por quê ?
_ Eu não tenho nenhum tipo de problema com a imprensa especializada. No autódromo, os repórteres me procuram e eu falo com todos numa boa. Agora, o que não dá pé é você chegar em casa na véspera do Natal e dar de cara com dez carros de reportagem. Se eu tenho alguma coisa importante pra falar, convoco uma coletiva e pronto. Mas até você educar os caras daqui.
- Você acha que é uma questão de falta de profissionalismo ?
_ Não há dúvida. Sabe qual é o problema? Os jornalistas aqui estão muito acostumados com os políticos, que precisam aparecer em jornal e, por isso, estão sempre a fim de dar entrevistas. Porra, eu não preciso aparecer e nem quero.
- E aquele incidente com os repórteres de Brasília, quando você compareceu à Justiça para oficializar o divórcio ?
_ Eu estava caminhando numa boa, veio um fotógrafo com aquela mala enorme, passou correndo e quase me derrubou. Aí, se virou pra me fotografar e eu simplesmente empurrei a câmera na cara dele. Depois, eu estava saindo por um lugar onde a imprensa não podia passar e os fotógrafos apareceram de novo. Tinha um monte de tubos no caminho e eu derrubei no chão para eles não passarem. Fizeram o maior escândalo, mas na verdade quem sofreu agressão fui eu.
- Quer dizer os repórteres deram queixa na polícia, mas o agredido foi você ?
_ Claro. O fotógrafo é que passou por mim com aquela mala enorme, quase me derrubando.
- Sendo uma personalidade pública de projeção internacional, você acha possível preservar totalmente sua vida privada ? Os Beatles não conseguiram, Pelé não consegue ...
_ Eu consigo. Ninguém entra na minha casa sem a minha permissão.
- A curiosidade é própria da natureza humana. As pessoas projetam seus sonhos nos ídolos, querem saber como é o Nelson Piquet fora das pistas, o que faz, como vive. Você não entende isso ?
_ O brasileiro não tem curiosidade, os jornalistas é que fazem o negócio.
- Você trocaria sua profissão por outra que lhe desse o mesmo dinheiro, o mesmo prazer e, ainda por cima, lhe garantisse total anonimato ?
_ Trocaria na mesma hora, sem pestanejar.
- Mesmo?
_ Mesmo...
- Dez dias ?
_ Dez dias para a Reynolds, oito para a Honda e dois para a ELF. Agora, vai ver no contrato quantos dias o Ayrton tem que dar para a Marlboro. Não tem limite. Se os caras exigirem que ele viaje 300 dias por ano, ele tem que viajar.
- Em dezembro, antes de testar a Lotus que foi usada pelo Ayrton, você disse que a primeira providência a tomar seria "desinfetar o banco". Essas coisas saem todas da sua cabeça ou você tem um assessor especial para maldades ?
_ Nem sei como é que surgiu isso, pô, é uma sacanagem. Acho que foi o pessoal da Lotus que inventou, e aí botaram na minha boca. Veja como são as coisas. No começo do ano passado, um repórter veio me entrevistar e começou a conversa dizendo o seguinte: "Pois é, Nelson, agora o Senna trocou de motor, vai correr de Honda, então não tem mais desculpa pras derrotas, né?" Eu disse, "é". No dia seguinte, estava lá, manchete do jornal: "Piquet diz que agora Senna não tem mais desculpa". Vou fazer o quê? Bater no cara? Que se dane ...
- Você até gostou, né ?
_ No final você fica até contente (risos).
- O Emerson Fittipaldi declarou recentemente que essa briga entre você e o Ayrton é coisa passageira e que, na opinião dele, daqui a pouco vocês estão se falando e se dando bem. Você acredita nisso ?
_ Pra mim, tanto faz. Se o Ayrton fosse tricampeão como eu, acho que seriamos muito amigos porque estaríamos no mesmo nível e não haveria inveja. Eu noto que todos os relacionamentos bons que eu tive na Fórmula 1 foram com pessoas que tiveram os mesmos resultados que eu, como o Prost, o Niki Lauda... Quando o cara não tem sucesso, ele está sempre querendo puxar o teu tapete.
- De quem você tinha inveja antes de ser campeão ?
_ De ninguém. Ao contrário, eu fazia tudo para aprender com os caras.
- Que caras ?
_ O Lauda, por exemplo. O Lauda não me ensinou nada, porque na Fórmula 1 ninguém ensina nada pra ninguém. Mas eu aprendi muito com ele.
- Como ? Vendo o Lauda correr ?
- Não, aprendi ouvindo o que ele falava. O problema é que na Fórmula 3 eu estava acostumado a trabalhar para mim mesmo. Então, o carro não estava bom, eu chamava o mecânico e dizia faz isso, faz aquilo, muda aqui, muda lá. Mas na Fórmula 1 é diferente. Você tem que conversar com o engenheiro, explicar as reações do carro. Não basta pedir uma regulagem assim ou assado, você tem que explicar por que quer aquilo. Eu aprendi a fazer isso de tanto ouvir a conversa do Lauda com os técnicos.
- E ele não ficava bronqueado com você sempre por perto, bisbilhotando ?
_ Não, porque eu sempre tinha cuidado de chegar de mansinho e ficar atrás dele. Ou seja, o Lauda nunca me via (risos).
- Não se pode dizer que sua convivência com a imprensa tenha sido pacífica nesses anos de Fórmula 1. Por quê ?
_ Eu não tenho nenhum tipo de problema com a imprensa especializada. No autódromo, os repórteres me procuram e eu falo com todos numa boa. Agora, o que não dá pé é você chegar em casa na véspera do Natal e dar de cara com dez carros de reportagem. Se eu tenho alguma coisa importante pra falar, convoco uma coletiva e pronto. Mas até você educar os caras daqui.
- Você acha que é uma questão de falta de profissionalismo ?
_ Não há dúvida. Sabe qual é o problema? Os jornalistas aqui estão muito acostumados com os políticos, que precisam aparecer em jornal e, por isso, estão sempre a fim de dar entrevistas. Porra, eu não preciso aparecer e nem quero.
- E aquele incidente com os repórteres de Brasília, quando você compareceu à Justiça para oficializar o divórcio ?
_ Eu estava caminhando numa boa, veio um fotógrafo com aquela mala enorme, passou correndo e quase me derrubou. Aí, se virou pra me fotografar e eu simplesmente empurrei a câmera na cara dele. Depois, eu estava saindo por um lugar onde a imprensa não podia passar e os fotógrafos apareceram de novo. Tinha um monte de tubos no caminho e eu derrubei no chão para eles não passarem. Fizeram o maior escândalo, mas na verdade quem sofreu agressão fui eu.
- Quer dizer os repórteres deram queixa na polícia, mas o agredido foi você ?
_ Claro. O fotógrafo é que passou por mim com aquela mala enorme, quase me derrubando.
- Sendo uma personalidade pública de projeção internacional, você acha possível preservar totalmente sua vida privada ? Os Beatles não conseguiram, Pelé não consegue ...
_ Eu consigo. Ninguém entra na minha casa sem a minha permissão.
- A curiosidade é própria da natureza humana. As pessoas projetam seus sonhos nos ídolos, querem saber como é o Nelson Piquet fora das pistas, o que faz, como vive. Você não entende isso ?
_ O brasileiro não tem curiosidade, os jornalistas é que fazem o negócio.
- Você trocaria sua profissão por outra que lhe desse o mesmo dinheiro, o mesmo prazer e, ainda por cima, lhe garantisse total anonimato ?
_ Trocaria na mesma hora, sem pestanejar.
- Mesmo?
_ Mesmo...