sexta-feira, 22 de abril de 2016

SENTA A BOTA, PIQUET!

O Brasil inteiro está frustado, irritado com o que considerou erros de Piquet



1981 - Senta a bota, Piquet. É só isso que você tem que fazer. Piloto de Fórmula 1 não tem que dar refresco. Tem é mesmo que arriscar qualquer vantagem que valha a pena tentar. E você foi ótimo em Monte Carlo. Foi o melhor dando um show naquele circuito sinuoso, dobrado e com um piso horroroso, marcando um bela pole-position em apenas 12 voltas, quando os demais 26 inscritos tiveram que gramar dois dias para tentar chegar no 1min25s que só você atingiu. Sua largada foi perfeita disparando à frente de Villeneuve, Mansell, Reutemann e Jones. Foi perfeito na briga contra Jones, campeão do mundo, resistindo durante 12 voltas quando ele, colado em seu carro, tentava intimidá-lo, como faziam Ingo Hoffmann, Chiquinho Lameirão e Guaraná Menezes na época da Super-Vê.

Como também tentaram Derek Warwick e Derek Daly na Fórmula 3. E quem foi o campeão? Você!

Por isso não mude seu estilo. Nem os brasileiros, seus fãs ardorosos, que vibramos com a besteira do Reutemann, freando atrasado, abalroando Nigel Mansell, mesmo feridos em nossos brios pátrios, temos o direito de exigir que você não mude.

Um piloto de frente, como você o é, desde o ano passado, não pode mesmo ligar para a cara feia de Reutemann, nem para o título de Jones. Não tem que aliviar o pé, simplesmente porque precisa garantir alguns pontinhos. Seu caminho é o topo do pódio. Por isso você foi o vice-campeão o ano passado na primeira temporada com um carro razoável.

È por isso que os Jones, Reutemann, Laffite, Pironi, Patrese e outros pilotos menores tremem quando vêem você pelo retrovisor.

Você fez muito bem em mandar o comissário, que agitava a bandeira azul exigindo que você desse passagem a Jones, às favas com um gesto de mão.

A decepção que você causou batendo na 53ª volta só não foi compreendida porque havia milhões de brasileiros querendo sua vitória. Pouco importou que Patrick Tambay, três voltas atrás, obedecesse à bandeira azul e, obrigado a mudar o traçado para não bater em Eddie Cheever, deixasse você sem pista a 175 Km/h.

Sabe o que todo mundo comentou aqui no Brasil, naquele momento? Que você foi inábil, burro, afoito e frustante.

Pela Tv, ninguém sentiu que qualquer outro piloto teria ido direto ao guard-rail e talvez a essa hora estivesse lamentando mais um trágico acidente na Fórmula 1.

Toda essa torcida brasileira que quer ver Piquet campeão, e por isso faz cada curva junto, mete o pé em seu acelerador nas retas, mas não dá o direito de encarar Alan Jones quando vê a possibilidade de chegar mais perto dos pontos de Reutemann.

Desculpe os românticos, mas eu prefiro vê-lo como você pilotou em Monte Carlo. Gostei quando você, ao simples aceno da bandeira azul, tocou para cima de Tambay. Tenho certeza de que era para livrar mais alguns metros de Jones, pois, em seguida, viria uma parte mais difícil do circuito, que deixaria o  australiano gramando mais de 2 km atrás.

Nada de tirar o pé! A história da Fórmula 1 está cheia de pilotos prudentes e de poucos campeões. O que não se deve confundir é sua categoria com o inevitável, um elemento sempre presente na Fórmula 1.

Sabe o que todo mundo lembrou no Brasil após o fracasso de Mônaco?

Seu erro na escolha de pneus no GP do Brasil, e a batida com Jones na Bélgica. Ninguém, ninguém mesmo, lembrou das vitórias na Argentina e Imola.

Se dependesse de mim, eu diria: continue assim. A Fórmula 1 é lugar de pilotos como você. Um cara que foi campeão por onde passou. Você é meu candidato a campeão. É por seu estilo que sou seu fã, estou contigo e assino embaixo.