quarta-feira, 26 de julho de 2023

BOM DIA ... ROBERTO DAMATTA !

 


Vira e mexe, volta e meia, o Brasil, achado por Cabral e governado por Dom João Fujão e os Pedros, da noite para o dia republicou, revela – nu e cru – o seu lado sombrio (da escravidão como indústria e estilo de vida) e mostra seu autoritarismo estrutural. Ele se espreguiça no seu berço esplêndido somente para surgir nos pesadelos dos apadrinhamentos, da corrupção-brás, da política de irracionalidade, do você sabe com quem está falando e das variadas e criativas edições de um mandonismo regulado e bem-comportado, porém, invisível ou inconsciente, balizado pelo axioma segundo o qual nada se nega a um “conhecido” ou amigo.

Batemos boca, namoramos politicamente e vivemos golpes para bloquear mudanças. Cabe perguntar: mudanças para onde, se o sentimento geral é que andamos a passos largos de volta para um gozoso retorno que nos leva a um fascinante Nietzsche e à vaporosidade dos personagens do Kundera ou ao seu pesado peso? A essa afinidade com o chumbo da má-fé, da hipocrisia e da intriga que marcam o nosso ideal de esperteza malandra?

O fato é que não viramos ingleses, nem franceses como gostariam nossos avós mulatos ou pretos envergonhados como sub-raça. Tampouco fomos imperializados pelos ianques contentes em nos ter como consumidores de Coca-Cola, de O Vento Levou... e de Madona e Sinatra. Dos revolucionários russos que hoje se envergonhariam de um Putin que comprova o elo entre gangsterismo e política, com o bom tempero da guerra imperialista, sobra uma tênue tintura dita “comunista” que, como papagaio, repete chavões somente num Brasil boçalizado – no qual existe dosimetria de mil anos, mas não há prisão perpétua e os juízes, fantasiados de bispos, têm privilégios e empreendimentos que eles não hesitam em condenar nos outros.

Um velho brasilianista enfermo e amigo do coração me questiona, provocador: vocês provam o mito do eterno retorno! Do horror de viver repetições porque vocês colocam o fim sem medir os meios e odeiam o trabalho rotineiro que é o traço distintivo do verdadeiro realizar.

Eu furto, você descobre e me denuncia. Sou preso. O tempo mostra que eu fazia o mais razoável do que faz o novo escolhido que prova ser muito mais desanimador que eu. O legalismo é ativado e o pêndulo retorna. As massas falam e tudo volta ao que era antes. Todos ficam felizes. Happy end? Não. Começo de um outro retorno, com os mesmos atores e suas parcas ideias. Mas com a vantagem de que o drama é conhecido. Eu sou você daqui a pouco. A violenta ameaça de extirpá-lo ou liquidá-lo revela que ainda não descobrimos que temos mão direita e esquerda... e uma cabeça que a polarização não deixa lembrar.

Nietzsche ficaria perplexo. E nós, brasileirinhos que adoramos ser enganados porque somos muito espertos, repetimos. É a vida...