sexta-feira, 26 de dezembro de 2025

BOM DIA ... FABIANO LANA ! 👇

 

Um feliz Natal a todos que passaram os últimos dias despejando ódio contra o jornalismo

Ataques contra quem apura a crise do Banco Master, que envolve BC e o STF, revela uma particularidade da atual polarização: só vale escrutinar o que fazem os adversários políticos


Um passeio nas redes sociais neste feriado de Natal mostra uma atividade febril de militantes a tentar diminuir, humilhar ou desmoralizar qualquer jornalista que fez seu ofício na abordagem do tema mais crítico do momento. No caso, desvendar as entranhas do poder na crise que envolve o Banco Master e o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes. O principal alvo foi a colunista de O Globo, Malu Gaspar. Mas sobrou para todo mundo que tem a missão de desvendar os fatos e assim o fez.

Houve impropérios, palavras de baixo calão. Houve gente que diz que renasceram as injustiças da Lava Jato – como se os abusos cometidos pelos condutores da operação apagassem, milagrosamente, os bilhões de reais desviados. Houve gente que colocou foto de jornalistas, após entrevista, com o ex-juiz Sergio Moro, no Programa Roda Viva, como se isso fosse provar alguma conspiração. Até mesmo o premiado cineasta Kleber Mendonça, de O Agente Secreto, aderiu a essa forma não tão sutil assim de linchamento.

Muitos dos que atacaram o jornalismo se proclamavam como “defensores da democracia”. Uma visão bem peculiar de democracia em que só vale escrutinar o que fazem os adversários políticos. Se forem investigar gente do mesmo lado, ofendem os repórteres, agridem quem estiver no caminho. Os mesmos métodos de apuração do jornalismo profissional contra Jair Bolsonaro eram freneticamente aplaudidos por esse mesmo pessoal.

Exigiram provas irrefutáveis sobre as investidas do ministro Alexandre de Moraes contra o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, para auxiliar o Banco Master, liquidado por uma fraude bilionária. Ignoraram, de maneira conveniente, que o contrato de R$ 3,6 milhões da esposa de Moraes com o banco já foi tornado público – um indício e tanto. Não custa avisar que o sigilo da fonte do jornalismo – que não tem poder de ordenar escutas ou apreender documentos – é protegido pela Constituição Brasileira, o pilar da democracia.

Gente que anunciava sempre defender as mulheres, não importam as circunstâncias, passou a ofender jornalistas mulheres que apuravam o caso. Hipocrisia é o nome disso, de acordo com a definição dos dicionários, no sentido de fingir ter valores ou virtudes que não possui. Ah, mas houve também jornalistas militantes que tentaram diminuir o trabalho dos colegas e passaram a considerar notas oficiais de autoridades como verdade de fé pública. Não é o que a história do Brasil, infelizmente, mostra.

O filósofo Friedrich Nietzsche vaticinava que a indignação moral apenas escondia a luta por espaços de poder. Deve, mais uma vez, comemorar no túmulo mais provas de sua tese. Tudo o que ocorre neste feriado de Natal é didático. Porque tínhamos a ilusão de que a política do Brasil, nesta chamada polarização, tinha um lado do bem e outro do mal. Uma democrática e virtuosa. Outra autocrática e truculenta. Bastou um furo de reportagem contra o “lado do bem” para mostrar que as coisas são muito mais embaralhadas do que nós pensamos.