Amadeu Campos, Arturo Fernandes e Ricardo Mogames
Desta vez não houve brigas, acusações ou protestos. Decorridos 30 minutos da divulgação dos resultados, timidamente Arturo Fernandes subiu ao pódio e comemorou sua vitória na segunda etapa do Campeonato Brasileiro de Turismo Especial, Divisão 3, disputada dia 13 de abril 1980, em Interlagos.
Amadeu Rodrigues, quarto colocado na prova e que havia sido desclassificado do primeiro lugar no Rio de Janeiro, por falta de peso em seu carro, estava conformado.
"No Rio meu carro estava realmente com seis quilos a menos porque trocamos a bateria de uma série para outra. não houve má-fé, tanto que só fui desclassificado daquela prova, podendo correr normalmente nessa segunda etapa. Se ficasse provada minha má-fé, não poderia ter corrido em Interlagos."
Já Amadeu Campos, segundo colocado em Interlagos, estava feliz com o bom desempenho de seu carro e não escondia suas esperanças de reconquistar o título da categoria, perdido no ano passado para Arturo Fernandes.
"Do meu antigo carro só ficou a carroceria, o resto troquei tudo, até o chassi. O resultado é que ficou bem competitivo e acho que, junto com o Ricardo Mogames, meu companheiro de equipe, poderemos brigar pelo título. A única coisa que está me preocupando é nós, pilotos, termos que pagar o dinheiro prometido aos organizadores cariocas. Eles queriam mudar a data da primeira corrida e, como nós não aceitássemos, tivemos que garantir um mínimo de Cr$300 mil de renda para a competição. Essa renda não foi alcançada (faltaram Cr$130 mil) por isso vamos ter que cobrir parte do prejuízo. Mas isso não tem importância, o que vale é que a categoria está renascendo."
Realmente, uma categoria que está renascendo dentro do automobilismo brasileiro é a Divisão 3, chamada de Turismo Especial Brasileiro.
Já foi, no passado, a que mais carros reuniu, atraindo pilotos de todos os Estados brasileiros, principalmente Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo. A preferência pela Divisão 3 era facilmente explicável: a transformação dos carros era barata e o custo de manutenção muito pequeno, permitindo, mesmo aos pilotos sem grandes patrocinadores, participarem de todo o Campeonato Brasileiro.
Amadeu Campos e Amadeu Rodrigues
A sofisticação da Divisão 3 se deu com a liberação de muitos equipamentos importados, o que foi afastando os pilotos, principalmente a partir 1974 com o aparecimento da Fórmula Super Vê. O custo das duas categorias era quase idêntico, variando apenas o aspecto externo e as suspensões.
À proporção que a Fórmula Super Vê, foi crescendo, a Divisão 3 foi afundando, já que não tinha apoio de nenhuma fábrica, e isso mesmo considerando a variedade de marcas que reúne, sendo a única categoria a permitir o confronto entre elas.
Até 1976 era dividida em duas classes: a Classe A, até 1.600 cm³, e a Classe B, acima de 1.600 cm³. Na Classe B defrontavam-se os Maverick, da Ford, e os Opala, da General Motors, mas já no ano seguinte essa classe foi abolida por falta de pilotos que se interesassem em preparar carro para ela. Ficou então a Classe A, com poucos pilotos.
Essa situação perdurou até o fim de 1977, quando, numa prova realizada em Tarumã, Porto Alegre, o presidente da CBA, Charles Naccache, reuniu os pilotos para tentar descobrir uma maneira de salvar a categoria.
Decidiu-se, então, que a Divisão 3 deveria ser completamente nacionalizada para baratear seu custo e permitir a entrada de um maior número de pilotos jovens. Foram criados campeonatos regionais, Rio Grande do Sul / Paraná e São Paulo / Rio de Janeiro, para manter os pilotos mais tempo em atividade e também para forçar o retorno de outros que já tinham abandonado a categoria, mas que continuavam com os carros.
A partir daí, a cada prova realizada em São Paulo ou Porto Alegre, o número de participantes começou a aumentar, e na última, disputada dia 13 de abril, em Interlagos, 35 pilotos compareceram. Com isso, a competitividade da categoria aumentou muito, com vários pilotos em condições de disputar a liderança.
Outro fator que ajudou a atrair pilotos para a Divisão 3 foi a nova premiação estabelecida pela Associação Brasileira de Pilotos, presidida por Edson Yoshikuma.
" Dispomos agora de 350 mil cruzeiros da Caixa Econômica Federal para premiar os dez melhores classificados no Campeonato brasileiro e de mais 80 mil cruzeiros por prova. Este dinheiro é proveniente do Sweeptake que a Caixa Econômica Federal promove todo ano junto com o Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1 e dstina-se a ajudar uma entidade de pilotos, no caso a Associação Brasileira de Pilotos de Competição. Outros 50 mil cruzeiros por prova, que comseguimos, são dados pelos organizadores das corridas. Não é muito, mas já dá para a categoria sobreviver, finaliza Edson."
Na segunda etapa do Campeonato Brasileiro, muitos pilotos eram recém-saídos das escolas de pilotagem de Sousa ou Marazzi, cujos proprietários vêem na Divisão 3 uma ótima oportunidade de participar do automobilismo sem gastar muito. Basta apenas ter vontade e um amigo para ajudar na troca de pneus.
Arturo Fernandes e Ricardo Mogames
Além de São Paulo e Rio de Janeiro, o Brasileiro de Divisão 3 terá provas em Porto Alegre (Tarumã), Cascavel e Goiânia, num total de sete etapas. Por enquanto, o domínio da categoria ainda é do velho Fusca com motor de 1.600 cm³.
Mas novos carros estão aparecendo, como o de Giuseppe Marinelli e Válter Soldan, que estão desenvolvendo um Fiat, e o de Affonso Giaffone Júnior, que está preparando um Chevette Hatch para as próximas corridas.
Em Interlagos, na disputa da segunda etapa do Campeonato, os quatro primeiros colocados correram com Fusca, chegando em quinto lugar José Antônio Bruno, com um VW Brasília. O Passat melhor colocado foi o de Edson Yoshikuma, que ficou em oitavo, enquanto o único Fiat participante, pilotado por Giuseppe Marinelli, ainda pouco competitivo, chegou em 18º na primeira bateria e não completando nenhuma volta na segunda por ter recebido uma batida por trás, na largada. Mesmo assim, Marinelli está animado e acha que logo outros pilotos passarão a utilizar os Fiat.
RESULTADO DA PROVA EM INTERLAGOS:
- Arturo Fernandes / VW 1600 / Luxford
- Amadeu Campos / VW 1600 / Cetil Presidente
- Ricardo Mogames / VW 1600 / Cetil Presidente
- Amadeu Rodrigues / VW 1600 / Asada
- José Antônio Bruno / Brasília
- José Carlos Roman / VW 1600 / Reed Motors
- Dimas de Melo Pimenta / Brasília / Dimep
- Edson Yoshikuma / Passat / Fus
- Clélio Moacir de Sousa / VW 1600 / Grand Prix
- Expedito Marazzi / VW 1600 / Ueda
- Fábio Levorin / VW 1600 /
- José Aratô / VW /
- Luís Lara Campos / VW 1600 / Staroup
- Luciano Delarolle / VW 1600 / Lufiflex
- Luís Carlos Campos / VW 1600 / Colégio Campos Sales
*