quarta-feira, 11 de junho de 2014

BAGUNCINHA




É um apelido certamente estranho para um campeão. E que, pior ainda, nem faz justiça ao temperamento do jovem João Alfredo Ferreira.

Ao contrário do que a alcunha sugere, "Baguncinha", de 23 anos, raramente se afasta dos boxes durante a semana das provas de Fórmula Ford. Até mesmo à noite, se permite no máximo uma rápida fugida para um jantar, mas retorna rapidamente para o ônibus em que os componentes da equipe se alojam. Fugas, aliás, raras. Na maioria das vezes é o tradicional churrasco gaúcho, preparado no autódromo mesmo, que serve de refeição.

Esse sacrifício, que resultou na conquista do campeonato de 1983, é na verdade uma constante na vida de "Baguncinha" desde que ele decidiu acompanhar os passos do pai João Narciso Ferreira, o "Bagunça", de quem herdou o apelido. E lá se vão cinco anos, desde a estréia na Fórmula Ford em 1979 com o carro que Fábio Bertolucci deixara na revenda que a família Ferreira mantém em Novo Hamburgo.

Mas a primeira temporada completa na categoria seria cumprida apenas em 1980, uma época em que a Fórmula Ford viveu um período dos mais competitivos.

Mesmo que Arthur Bragantini tenha vencido todas as etapas. O melhor resultado de "Baguncinha", uma segunda colocação, seria alcançado em Brasília. Um resultado, como ele mesmo admite, mais importante do que qualquer uma das vitórias deste ano. Afinal, os adversários eram do calibre de um Bragantini, Walter Soldan, Castrinho, Maurizio Sala e outros, que seriam batidos por "Baguncinha" em Cascavel, na segunda etapa do campeonato de 1981; a primeira vitória na categoria.

Este ano, a bem da verdade, "Baguncinha" encontrou maiores dificuldades ainda no início do campeonato. Em Tarumã e Guaporé, o bicampeão Egon Herzfeldt não deu a menor chance aos adversários. E a opinião quase unânime é a de que caminhava a passos largos para o tri-campeonato. Mas, resolveu deixar a categoria e, de certa forma, restabeleceu o equilíbrio. Assim, além de "Baguncinha", também Ernesto Zogbi, que adquiriu o carro de Egon, e Edgar Favarin venceram algumas etapas.

Só que "Baguncinha" não gosta de ouvir os argumentos daqueles que insistem que ele só se tornou campeão graças ao abandono de Egon : "Ele até poderia ser campeão, mas teria que lutar muito comigo. É só constatar os tempos que fizemos este ano, todos muitos bons. Por isso, por trilharmos o caminho certo durante a temporada, acredito que tenha sido muito fácil conquistar o campeonato. E não vai aqui qualquer desmerecimento aos demais. É que o meu carro sempre foi superior", pondera.

"Baguncinha" empregou Cr$15 milhões  para vencer o campeonato, quantia coberta apenas pela metade pelo patrocinador FILA. O resto saiu mesmo do bolso do pai "Bagunça", responsável pelo pagamento dos salários do preparador Paulo Roberto Viola, de Carlos Schoreder, o responsável pelas inovações no carro, e dos mecânicos Marcelo e Raul.

Antes mesmo da última etapa, em Brasília, o campeão admitia que o momento de deixar a Fórmula Ford se aproximava. "Acho que já fiz o que podia. Andei com as maiores feras, andei na frente e andei atrás. Na verdade, a categoria hoje não desfruta do mesmo prestígio de alguns anos atrás e vive uma fase de transição".

"Se os grandes nomes retornassem, eu seria o primeiro a permanecer. Dizem que o novo carro proporcionará a volta de pilotos como Cláudio Muller e outros, mas ninguém pode garantir. Se eu conseguir patrocínio, mudo para a Fórmula 2. Senão, ficarei por aqui mesmo", completa.