1980 - Agora, vamos esperar África do Sul, minha casa. Foi lá, no ano passado, que a Ferrari conseguiu sua primeira vitória, com Gilles em primeiro e eu em segundo. Talvez este ano essas posições se invertam, não?
Corremos em Interlagos sob protesto, pela falta de segurança da pista. Mas, desde que decidimos correr, dei por encerradas as discussões e tratei de fazer meu trabalho da melhor maneira possível, apesar de estar num circuito que considero, hoje, o mais perigoso do mundo.
A posição dos pilotos que votaram a favor do GP de Interlagos é compreensível: para os novatos, cada corrida é muito importante, é uma chance a mais de mostrarem suas qualidades. Além disso, eles não têm condições de se impor totalmente a seus chefes de equipe.
Por isso, cabe aos mais experientes, aos que já não têm que procurar aparecer, tomar a frente na batalha por maior segurança. Eu, por exemplo, sei que as posições que estou adotando não me tornam nada popular, mas não me importo. Na verdade, não estou tentando ser mais nem menos popular: estou só lutando pelo que acho certo. E quando você acredita no que faz, a sensação de estar fazendo o que deve é mais gratificante que qualquer outra coisa.
Sei, por exemplo, que Gilles é hoje muito mais popular que eu na Itália. A torcida gosta dos pilotos brigadores, capazes de tudo para vencer uma corrida. Acho, até, que se um de nós tiver que ser campeão, a Ferrari gostaria que fosse ele. Mas não me importo, nem me preocupo: vou lutar, trabalhando sério, como sempre fiz.
Uma coisa que me chamou a atenção no GP do Brasil foi o esforço de Emerson para se sair bem diante de sua torcida. Acho que ele agora tem uma boa equipe, com pessoal competente e profissional. Infelizmente, não me parece que tenha um carro vencedor. O próprio Emerson, depois de ter sido campeão mundial duas vezes e de ter passado por tão maus momentos nos últimos anos, me parece um pouco cansado, sem o ímpeto de antes.
E nem poderia ser diferente, não? O tempo deixa marcas fortes na gente.