1970 - Eu havia chegado a Paris, vindo de Indianápolis, onde fôra fazer os comentários sôbre as 500 Milhas de Indianapolis para a televisão, quando soube da trágica morte de Bruce McLaren.
Êle era mais popular que qualquer outro piloto de que eu possa me lembrar. É extremamente raro encontrar, num negócio tão competitivo quanto as corridas de automóveis, alguém tão querido como Bruce.
Nunca ouvi pessoa alguma dizer uma palavra negativa sôbre êle.
É provável que êle ainda fizesse muito mais nas competições esportivas nos próximos anos, do que havia conseguido até agora. Além do sucesso na Fórmula 1 e nas provas Can-Am, caminhava para tornar-se fabricante de carros para uso convencional.
Fará muita falta, pois sua equipe foi responsável por muitos aperfeiçoamentos nas competições atuais.
Bruce ajudou-me muito no começo de minha carreira de piloto, dando-me informações preciosas que me ajudaram a vencer muito dos obstáculos que me atrapalhariam como estreante.
Até agora, passado algum tempo, é difícil para mim acreditar que êle tenha morrido. Como Jim Clark, Bruce parecia-me indestrutível.
Quando coisas assim acontecem, a gente chega a pensar o quanto é estúpido um esporte que pode causar tanta dor a tantos.
Enquanto treinava para o Grande Prêmio da Bélgica, eu me lembrava de Bruce. E talvez pareça estranho como os pilotos podem pegar suas máquinas e correr tanto quanto antes, poucos dias depois da morte de um companheiro.
Creio que pilotos de corridas constituem uma classe muito especial de pessoas. Tendemos a isolar coisas dessa natureza e eliminamos tudo o mais de nossa mente.
Um piloto não pode preocupar-se com mais nada enquanto compete num circuito difícil. Procuramos um estado próximo da amnésia, onde sentimentos não podem existir. E, apesar da carga emocional e dos perigos de um circuito difícil como Spa, o piloto tem de manter o ímpeto, pois as lembranças e a preocupação desaparecem assim que a gente entra no carro.
Jackie Stewart