1981 - "Estas são minhas últimas palavras oficiais como piloto de Fórmula 1, um esporte que sempre amei e amarei, que me deu tudo o que tenho na vida e ao qual continuarei a me dedicar ao máximo. Só que agora como construtor."
Com a voz trêmula, Emerson Fittipaldi leu esse sétimo tópico de sua declaração, depois de ter interrompido os seis parágrafos anteriores com soluços incontroláveis.
O anúncio, feito no pequeno auditório do Clube Harmonia, no bairro do Jardim Europa, já era esperado. Mas nem por isso deixou de ter um certo suspense.
Jornalistas, amigos, pilotos e toda sua família compunham uma platéia atenta e cerimoniosa, ciente de que participava do momento mais difícil e solene do maior piloto brasileiro e um dos grandes da história da Fórmula 1.
Sua mulher, Maria Helena, grávida, filhos, olhos úmidos, estava mais feliz do que nas festas dos Grandes Prêmios da Itália e dos Estados Unidos, em 1972 e 1974, quando o marido tornou-se campeão mundial. "Juro que não desejo ter mais nenhum piloto na família."
Seu irmão Wilsinho tentava ser apenas parceiro de equipe, mas era mais irmão. O pai Wilson, "o Barão", sorria aberto e aliviado. "Agora, finalmente, nos Grandes Prêmios serei só locutor." Dona Jusi, a mãe medrosa dos 20 anos de carreira do filho, sentia-se remoçada.
Porém, era a avó Maria, mesmo sendo a pessoa menos notada, qem transmitia maior satisfação. Miúda, Maria Vociechski, 80 anos, via no neto a imagem do seu outro herói, o marido, capitão do batalhão do Czar Nicolau da Rússia.
De fala mansa e arrastada, a ex-enfermeira da Cruz Vermelha na I Guerra Mundial, via-se desobrigada de se sentir uma espécie de talismã eleita por Emerson.
"Eu não sei bem por que, mas ele sempre me perguntava sobre tudo. Quando pequeno queria aprender a falar palavrões em polonês, russo, ucraniano e alemão, línguas que eu já falei. Depois de grande, insistia em que eu opinasse sobre a cor de carro com que deveria correr. Eu nem lhe dizia que a vermelha me dava medo e a preta mau agouro."
Dona Maria, cuja presença Emerson fez questão nos GPs de 71 e 72, sintetizou melhor do que o discurso do neto os motivos da sua retirada:
"Ele brincou muito de motocicletas e de kartizinho, quando era menino. Ficou homem, tornou-se profissional, foi campeão do mundo e é famoso. Sempre enchendo a gente de orgulho e medo. O "Magio" ganhou tanto, por que se arriscar a perder tudo de repente? É hora de deixar essa coisa para outro."
No palco, o ex-piloto Emerson Fittipaldi acabava de anunciar o seu substituto para o Grande Prèmio da África do Sul neste sábado, dia 7: Chico Serra.