A GLÓRIA DE PIQUET NUMA TARDE TRÁGICA
O Circo da Formula 1 teve nas 70 voltas do Grande Prêmio do Canadá de 1982 a oportunidade de retratar de forma trágica a frieza com que são lidados os maiores artistas deste espetáculo, os pilotos.
A temporada de 1982 foi marcada desde seu início pelo confronto de interesses entre pilotos, construtores e dirigentes. De um lado, os pilotos reivindicavam uma participação mais ativa nos destinos da Formula 1, pois a cada nova temporada pilotavam carros que o fator velocidade substituia desproporcionalmente o fator segurança. Do outro lado estavam os construtores, preocupados em abocanhar cada vez mais os milhões de dólares gerados pela publicidade aplicada em cada centimetro quadrado de seus carros, graças à imensa audiência que este esporte tem em todo mundo. E por último estavam os dirigentes, que preocupados em não criar atritos com os construtores, assumiam um papel omisso diante dos pilotos.
.Este desencontro de interesse começou a se agravar a partir de 1979, quando Colin Chapman, ao lançar o revolucionário carro-asa, possibilitou que os carros chegassem a velocidades nunca alcançadas na Formula 1. Quase ao mesmo tempo, esta revolução mecânica se fazia acompanhar pelo aparecimento do personagem Bernie Ecclestone que, através da Associação de Construtores de Formula 1 (FOCA) iniciou uma reformulação total na imagem da categoria máxima do automobilismo mundial. Com estes dois novos dados, os pilotos se viram da noite para o dia colocados num incômodo segundo plano.
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A partir de 1980, o circo da Formula 1 não se deslocaria mais à procura somente de emoções das pistas, mas sim onde quer que houvesse dinheiro para pagar estas superexibições que começavam a ser marcadas cada vez mais pela tragédia. Preocupados com isto, os pilotos iniciaram uma campanha exigindo maiores atenções com a segurança dos carros e circuitos. Pois, a exemplo do conflito de interesses que opõe pilotos e construtores fora das pistas, dentro delas existe também uma grande incompatibilidade entre carros e traçados. Enquanto os projetistas criam na prancheta máquinas cada vez mais velozes, os circuitos que fazem parte do campeonato mundial se mostravam cada vez mais inadequados para estes novos carros. Como reflexo desta incompatibilidade de interesses cada vez mais acentuada, a Formula 1 estava se delineando como uma das mais trágicas de sua história.
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No podium do Grande Premio do Canadá de 1982, ao receber aplausos e os louros pela vitória, no circuito ironicamente rebatizado de Gilles Villeneuve (em honra ao piloto morto durante os treinos do Grande Prêmio da Bélgica) Nelson Piquet exibia um sorriso entre tímido e constrangido. No fundo, vivia a amargura de um verdadeiro campeão diante do desaparecimento de mais um companheiro. O jovem piloto italiano Riccardo Paletti, tragicamente morto na confusa largada do Grande Premio do Canadá, um dia antes de completar 25 anos.
.Mas, na Formula 1 como no showbiz, o espetáculo continua. E Nelson Piquet, acima de tudo, mostrou o seu duplo talento de piloto e mecânico, ao acertar, muito antes do previsto, o motor BMW Turbo de seu Brabham. Um motor que uma semana antes o deixara humilhado, não lhe dando sequer a classificação para correr no Grande Prêmio de Detroit.
.Cenas da dramática tentativa de salvamento do italiano Riccardo Paletti
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