segunda-feira, 14 de junho de 2010

Aruanda



Em 1967, quando quis premiar as pessoas que mais trabalharam pelo desenvolvimento da indústria automobilística no mundo, o projetista italiano Giovanni Bertone selecionou apenas um brasileiro para receber uma das dez placas que atestavam a distinção. Ari Antônio da Rocha era um arquiteto que desde os primeiros anos trabalhou na indústria brasileira. Quando recebeu a placa especial de Bertone, estava na Itália, no centro da curiosidade dos técnicos da indústria local por ter projetado um carro revolucionário "o Aruanda" . Em 1965, o Aruanda ganhara um prêmio especial no Salão do Automóvel de Turim . No Brasil, em 1964, o projeto do carro ganhara o Prêmio Lúcio Meira de estilo.
.
O Aruanda era um carro além do seu tempo. Pequeno, pouco maior que o Romi Isetta , tinha linhas que posteriormente foram consagradas nos filmes de viagens espaciais. Bancos deslocáveis, painéis estofados, volante regulável, ventilação controlada, um anel de proteção aos passageiros. Era pouco potente, 380 cilindradas, três vezes menos que o Fusca . Mas se destacava por te sido concebido segundo conceitos opostos aos que reagiam a indústria automobilística. Segundo o projetista: Apesar da época, a década de 60, o Aruanda era a proposta de um novo conceito de automóvel. Achávamos que era um absurdo um carro de duas toneladas ser fabricado para transportar 70 quilos, o peso do motorista. Mesmo pegando o exemplo médio, o absurdo se mantém, um carro médio, motor de 100 CV, pesa 1.200 Kg e leva 75 Kg de gente, pois as pesquisas mostram que a grande maioria dos automóveis conduz apenas uma pessoa. Ou seja: o carro transporta apenas 6% do seu peso total. O grande esforço do motor é para transportar o próprio veiculo. O Aruanda desbancava esse paradoxo porque era um carro muito leve (300 Kg) A velocidade máxima seria de 100 Km/h. O carro teria apenas um banco, na frente, para três pessoas, mas atrás teria espaço para carga. Segundo o projeto, o Aruanda comportava o motor convencional e o elétrico, e era com esta opção que o arquiteto-projetista trabalhava.
.
O sucesso do Aruanda aconteceu só na Itália. Depois de preparar o projeto no Brasil, Ari Antônio da Rocha foi convidado pelos irmãos Fissore , famosos construtores de carroceria da Europa, para fabricar o primeiro protótipo do Aruanda na Itália. Apesar disso, o Aruanda foi exposto e premiado no Salão de Turim como um carro brasileiro. Entre suas várias conquistas, destacou-se a de um senador australiano, que procurou Ari Antônio da Rocha para negociar a produção de 50 mil unidades do carro na Austrália. Naquela época, no entanto, Ari Rocha já pensava em regressar ao Brasil e produzir seu carro pela Fábrica Nacional de Motores, FNM, ainda controlada pelo governo. O então presidente da FNM, Coronel Silveira Martins, demonstrava muita simpatia pela idéia. Em 1967, Ari Antônio da Rocha voltou trazendo o Aruanda , e os primeiros problemas surgiram na alfândega, que não reconhecia o carro como brasileiro e queria cobrar impostos de importação. Um amigo de Rocha telefonou ao ministro das Relações Exteriores e argumentou: Por esse critério, vocês proibiriam o Santos Dumont de trazer 0 14 Bis para o Brasil.
.
As conversações com a FNM, no entanto, não foram longe. O carro permaneceria como uma bela idéia na gaveta até que, em 1968, o governo da Bahia pensou instalar uma indústria automobilística no parque industrial que estava erguendo, o Centro Industrial de Aratu. Todo negócio foi planejado: A Superintêndencia do Deselvolvimento do Nordeste, SUDENE, daria ajuda financeira e incentivos fiscais, o governo da Bahia financiaria a fábrica e a Honda Japonesa forneceria os motores, participando com 10% do capital da empresa. Além disso, a Honda não remeteria royalties ao Japão durante cinco anos.
.
Mas a fábrica só poderia ir adiante se tivesse parecer favorável do GEIMEC - Grupo Executivo da Indústria Mecânica - O parecer foi negado. O GEIMEC baseou-se noutro parecer, do sindicato dos fabricantes de automóveis, que desaconselhava a produção de um carro tão simples e barato sob pena de as grandes cidades ficarem atulhadas desses veiculos. O Aruanda foi um projeto que, se executado, se anteciparia às soluções que agora se buscam para o trânsito e o preço alto do petróleo.
.