quinta-feira, 27 de setembro de 2012

OPERAÇÃO IRAQUE DA VOLKSWAGEN



No distante e desconhecido Iraque das mágicas Mil e Uma Noites, nada simboliza mais a presença brasileira nesta região do Oriente Médio do que os 100.000 Passat, saídos das linhas de montagem da Volkswagen em São Bernardo do Campo.

A história de Pedro Bragato é muito semelhante à de seus companheiros, que ocupam catorze casas alugadas em Bagdá, três em Mosul, onde há uma oficina e também os que vivem num hotel em Rutba, cidade que é a porta de entrada dos carros no Iraque, a Oeste.

Mas a Operação Iraque da Volkswagen não é tão simples e nem sequer começa no próprio Iraque, lembra Peter Beier, o experimentado gerente administrativo em Bagdá:

Quando fechamos o primeiro contrato de exportação já havia a guerra com o Irã, e a entrada natural por mar, pelo estreito de Hormuz, não podia ser utilizada.

Estudamos outras alternativas, como Turquia e Arabia Saudita, e acabamos encontrando condições mais favoráveis na Jordânia. Não só para a chegada e o transporte dos carros nas também, mais tarde, para a saída do petróleo com que o governo iraquiano nos paga e que nós repassamos para o governo brasileiro.


Da Jordânia ao Iraque 1.200 Km ...

Embarcados em Santos, os Passat chegam ao porto de Aqaba depois de 22 dias de viagem, via Mediterrâneo e Canal de Suez.

Depois de desembaraçados pela autoridade aduaneira, os carros estão finalmente prontos para enfrentar um longo caminho até Rutba, a 1.200 Km de distância.

Sobre caminhões cegonheiros, são muitos quilômetros de estrada razoável mas com muitos maus motoristas soltos por aí, rumo ao Norte, atravessando todo o deserto até Amã e depois tomando o rumo Leste. Passada a fronteira, restam ainda alguns quilômetros até Rutba, onde o pessoal revisa todos os veículos e os deixa prontos para a entrega.

Como no Iraque tanto a falta de carros como a procura por eles é muito grande, a Automobile State Enterprise, empresa estatal incumbida de comercializá-los, adotou o sistema de listas de inscrição. À medida que os Passat vão chegando ela avisa aos novos e ansiosos proprietários que é chegada a hora de pagar os 90% restantes do preço e que os veículos já estão à sua disposição. Em Rutba, a quase 400 km a Oeste de Bagdá.

Os felizes novos proprietários costumam alugar ônibus e seguir em alegre caravana ao encontro de seus carros. E é na hora da retirada que começam a surgir os problemas.

Os iraquianos abandonaram o camelo e adotaram o avião a jato muito depressa, e não têm qualquer tradição automobilistica.


...revisão pela equipe de Bragato em Bagdá

Alguns iraquianos levam amigos ou parentes com "alguma" experiência de volante; outros resolvem enfrentar a situação como se estivessem no dorso do velho companheiro, o "Camelo".

Nessa hora o pessoal em Rutba perde um tempão explicando como um carro anda, diz Pedro Bragato, mas eu mesmo, em seis meses, já peguei vários casos em que o "motorista" dirigiu até Bagdá usando só a primeira marcha. Ou então simplesmente "esqueceu" de usar a embreagem na hora da troca de marcha.

Aqueles com um pouco mais de experiência só têm uma reclamação a fazer dos Passat: a localização da marcha à ré. Mais acostumados aos carros japoneses, eles procuram a ré atrás da quarta marcha. "Muitos vinham à oficina reclamar que seu carro não tinha marcha à rè ..." ri Bragato.

Montar o sistema de transferência do petróleo também não foi tão simples quanto mostrar o lugar exato da marcha à ré.

Vindo de Basra, no Sul do Iraque, ele chega ao terminal de Al Chaim, a Noroeste, no meio do deserto, por meio de um oleoduto, e lá é embarcado em enormes caminhões-tanque com capacidade para 41 toneladas de carga (essas 41 T de petróleo equivalem ao custo de 1,7 Passat). A partir daí o percurso é inverso ao dos carros, rumo a Aqaba, a 1050 km de distância.

Dentro do sistema montado em conjunto com a transportadora Naher-Senker e com a instaladora e operadora de terminais petrolíferos Sosema-Matex, o destino desse óleo é o navio-cisterna Red Seagull, o segundo maior petroleiro do mundo, que vai estocando o produto até a chegada de um navio a serviço da Petrobrás, que finalmente o transporta para o Brasil.