quinta-feira, 4 de outubro de 2012

JOSÉ do PATROCÍNIO

                AUTOMOBILISTA Nº1


Era por volta de 1895.

Ainda não se conhecia no Brasil, senão pelo noticiário da imprensa, a tão falada e fabulosa novidade chamada "automóvel" .

Foi quando, regressando de uma viagem a Paris, José Carlos do Patrocínio trouxe um bisonho veículo: um carro a vapor, enorme, complicado, com fornalha, chaminé e caldeira. Era o avô do automóvel.

E ainda na amurada do navio, contaria mais tarde Coelho Neto, nervoso de emoção, José do Patrocínio gritava para os companheiros do cais:

" Trago um carro a vapor... o veículo do Futuro, meus amigos. Um prodígio !

Léguas por hora. Não há aclives para êle: com um hábil maquinista vai pelo Corcovado acima, garanto a vocês, pelo Corcovado acima como um cabrito.

Em meia hora faremos o trajeto do largo de São Francisco ao Alto da Tijuca. Imaginem !

É a morte de tudo... dos tílburis, dos carros, do bonde... até da Estrada de Ferro. Ficaremos senhores da viação. É a fortuna !...

O tribuno da Abolição, automobilista nº1 do Brasil, mal refreou a impaciência até desembarcarem o complicado veículo, e, orgulhoso, inaugurou-o em luminosa manhã de domingo.

Encheu a geringonça de jornalistas e poetas, entre êles Olavo Bilac.

Montou na boléia, e lá se foi o estrepitoso automóvel francês, roncando e bufando pelas pacatas ruas cariocas, assustando muares e cidadãos...

Mas a alegria não duraria mais que duas ou três semanas.

Olavo Bilac tomara-se de entusiasmo pela novidade e, na ânsia de aprender com Patrocínio a "difícil arte de dirigir", um dia deixou a máquina desgovernar-se.

O indócil veículo primeiro arremeteu contra uma árvore, indo logo adiante encravar-se num buraco da Estrada Velha da Tijuca. E não prestou para mais nada.

Desolado, Patrocínio bateu na testa:

" Já sei por que foi ! É porque não o batizei. Estava pagão o miserável !

E acrescentou penalizado:

" Qual ! Sem religião, e com estas ruas esburacadas, não há progresso possível ! ...

*