AUTOMOBILISTA Nº1
Era por volta de 1895.
Ainda não se conhecia no Brasil, senão pelo noticiário da imprensa, a tão falada e fabulosa novidade chamada "automóvel" .
Foi quando, regressando de uma viagem a Paris, José Carlos do Patrocínio trouxe um bisonho veículo: um carro a vapor, enorme, complicado, com fornalha, chaminé e caldeira. Era o avô do automóvel.
E ainda na amurada do navio, contaria mais tarde Coelho Neto, nervoso de emoção, José do Patrocínio gritava para os companheiros do cais:
" Trago um carro a vapor... o veículo do Futuro, meus amigos. Um prodígio !
Léguas por hora. Não há aclives para êle: com um hábil maquinista vai pelo Corcovado acima, garanto a vocês, pelo Corcovado acima como um cabrito.
Em meia hora faremos o trajeto do largo de São Francisco ao Alto da Tijuca. Imaginem !
É a morte de tudo... dos tílburis, dos carros, do bonde... até da Estrada de Ferro. Ficaremos senhores da viação. É a fortuna !...
O tribuno da Abolição, automobilista nº1 do Brasil, mal refreou a impaciência até desembarcarem o complicado veículo, e, orgulhoso, inaugurou-o em luminosa manhã de domingo.
Encheu a geringonça de jornalistas e poetas, entre êles Olavo Bilac.
Montou na boléia, e lá se foi o estrepitoso automóvel francês, roncando e bufando pelas pacatas ruas cariocas, assustando muares e cidadãos...
Mas a alegria não duraria mais que duas ou três semanas.
Olavo Bilac tomara-se de entusiasmo pela novidade e, na ânsia de aprender com Patrocínio a "difícil arte de dirigir", um dia deixou a máquina desgovernar-se.
O indócil veículo primeiro arremeteu contra uma árvore, indo logo adiante encravar-se num buraco da Estrada Velha da Tijuca. E não prestou para mais nada.
Desolado, Patrocínio bateu na testa:
" Já sei por que foi ! É porque não o batizei. Estava pagão o miserável !
E acrescentou penalizado:
" Qual ! Sem religião, e com estas ruas esburacadas, não há progresso possível ! ...
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