sexta-feira, 19 de abril de 2013

A SAGA DOS FITTIPALDI - 1


Os irmãos Fittipaldi


É claro que, naquela época, Wilsinho Fittipaldi não tinha a menor idéia de que, um dia, viria a construir um Fórmula 1. Mas quando ele ainda tinha 13 anos e começou a correr, seu Kart jamais era igual aos outros, sempre tinha uma inovação.

" Eu nunca me contentei só em correr. Queria também fazer "

E fez. Com 18 anos de idade, seus karts modificados acabaram resultando na MINI, uma fabriqueta com dez empregados que Wilsinho fundou em sociedade com Maneco Combacau e Totó Porto. E que tinha um valioso "piloto oficial", capaz de ganhar os campeonatos e proporcionar boa publicidade para a marca : Emerson Fittipaldi.

Dos karts Wilsinho passaria para os carros (como piloto oficial das equipes Willys e Dacon, chegou a ser apontado como o melhor do país na época), e em seu vácuo seguia Emerson. Os dois, desde então e sempre, pensavam quase como uma só cabeça: nada tinha importância além de motores e pistas.

Nem os estudos, que ambos abandonaram no colegial, para desconsolo do velho Wilson e de dona Juze, os pais, que viam nas habilidades mecânicas dos filhos o embrião de dois futuros engenheiros. Mas não houve pressões: radialista, Wilson estava também envolvido com o automobilismo há tempos, organizando entre outras coisas a famosa Mil Milhas Brasileiras, e decidiu deixar os filhos escolherem os próprios caminhos.

Mas avisou: " Se querem parar de estudar, parem. Mas fiquem sabendo que não vou ficar sustentando ninguém ".

A gente não era tão pobre assim, mas também não era rico, e meu pai seguiu à risca o que falou. Eu e Emerson continuamos tendo casa, comida e roupas, mas o resto das despesas era por nossa conta, Lembra Wilsinho.

E não houve muitas dificuldades. De um volante trazido da Europa por um amigo, Emerson fez uma cópia, costurando ele mesmo a mão, o couro em torno da borracha e do alumínio, tão perfeita que não demorou a ser vendida por um preço suficiente para comprar material para quatro outros volantes e nasceu assim a FÓRMULA 1, pequena fábrica que lançaria no mercado brasileiro os primeiros volantes esportivos e, depois, as rodas de magnésio e os kits de envenenamento de motores para os Fuscas que povoavam os sonhos dos boys da época.

Era, então, o ano de 1965. E Emerson, graças a seu próprio talento mas também ao sobrenome já famoso do irmão mais velho, também corria pela Equipe Willys, onde os cobras eram Luís Pereira Bueno, Bird Clemente, Carol Figueiredo, José Carlos Pace e Wilsinho, que em 1966 conquistaria o privilégio de guiar  Willys Gávea, um protótipo, num torneio de Formula 3 na Argentina.

As atuações de Wilsinho no torneio (o carro, infelizmente sempre acabava quebrando), impressionaram o chefe da fábrica francesa Alpine, e aconteceu então o convite que deixaria sua pernas tremendo: correr na Fórmula 3 européia, pela Alpine. Wilsinho foi, fez apenas uma prova, em Reims, e acabou voltando.

" Larguei em quarto, e estava em terceiro quando o carro quebrou. Eu estava superanimado com a estréia, mas no dia seguinte o pessoal da Alpine mudou completamente seu relacionamento comigo, passaram a me "cozinhar", não me davam o carro. A coisa esfriou e, sem dinheiro, acabei voltando para o Brasil. Só muito tempo depois eu soube o que acontecera: o pessoal da Willys, que precisava de mim no Brasil, ameaçara a Alpine de não mais importar seus equipamentos se eu ficasse com eles. Depois dessa sacanagem, perdi a grande chance e no futuro acabaria sendo a sombra do Emerson ".

De volta ao Brasil, Wilsinho começaria a arquitetar, com Emerson, um novo empreendimento: construir carros para a Fórmula Vê, categoria que estrearia no Brasil em maio de 1967. Vencedor da primeira prova : Emerson, carro : FITTI-Vê.

Cerca de 40 FITTI-Vê foram construídos e vendidos: além de bons carros, tinham o apelo promocional das seguidas vitórias de Emerson, que ganharia o campeonato brasileiro em 1967 e só não repetiria a dose em 68 porque não houve campeonato, culpa da desorganização do automobilismo.

Paralelamente à Fórmula Vê e aos Karts, Wilsinho e Emerson continuavam correndo com todos os tipos de carro. E surgiria, ainda em 1967, outro projeto ambicioso: o FITTI-PORSCHE, uma carroçaria desenhada e construída por eles num chassi Porsche 1500 RS. Um carro muito rápido, nos treinos para a prova de estréia; a IX Mil Milhas Brasileiras, foi nada menos que 15 segundos mais veloz que a famosa carretera de Camilo Christofáro, mas que jamais ganhou uma corrida,sempre quebrando na liderança.

Em 1969 os Fittipaldi dariam o grande passo. Surgira a idéia de tentar novamente o automobilismo internacional e o escolhido foi Emerson : Wilsinho já estava casado com Suzy, e para ele tudo se tornaria mais caro. 

Para que Emerson fosse, entretanto, Wilsinho não teve dúvidas em vender o que era um de seus orgulhos na época, um reluzante Porsche de passeio que valia Cr$ 40.000,00.