sábado, 20 de abril de 2013

A SAGA DOS FITTIPALDI - 2


Emerson recebendo um beijo da mãe dona Juze depois de mais uma vitória na Europa

Enquanto Emerson começava a subir os primeiros degraus rumo à cobiçada Fórmula 1. Wilsinho continuava correndo no Brasil, vivendo da fábrica de volantes e sempre projetando novos bolidos.

O último, um Fusca de dois motores, tão veloz e azarado quanto o Fitti-Porsche, marcaria a entrada em cena de um terceiro e decisivo personagem: Ricardo Divila.

" Sempre apareciam lá na fábrica uns inventores loucos com seus projetos malucos, e pensei que Ricardo fosse um deles. Ele era estudante de engenharia, ainda, e quando vi o quanto entendia de carros dei um emprego a ele. Seu primeiro trabalho foi no projeto do Volks de dois motores ".

A fábrica de volantes e equipamentos, embora pequena, tinha trinta funcionários e prosperava. Mas veio o fim de 1969 e Emerson, campeão inglês de Fórmula 3, mal esperou descer do avião em Congonhas para dizer a Wilsinho:

" Vamos vender tudo e voltar os dois para a Europa. Dá pé ".

Mais uma vez os pais não interviram. E mesmo Suzy, grávida de Christian, acabou, embora relutante, apoiando a aventura do marido e do cunhado.

" Suzy só me perguntava se eu tinha certeza de que ia dar certo. Certeza eu não tinha, é claro. Mas tinhamos muita confiança na gente, e decidimos investir na parada. Aliás, isso é uma coisa que nos marcou muito: em toda nossa vida sempre investimos muito na gente mesmo ".

E daquela vez eles investiram tudo: carro, moto, até a fábrica de equipamentos esportivos foi vendida para financiar a aventura européia, que em 1970 levaria Wilsinho para a Fórmula 2 e Emerson para a Fórmula 1.

Em 1971 Emerson firmava-se na Fórmula 1 e continuava correndo na Fórmula 2 ao lado de Wilsinho, que então já tinha a companhia de Ricardo Divila em sua equipe. Os carros, como nos tempos dos karts, também recheados de inovações.

Em 1972, a grande bomba estouraria: Emerson Fittipaldi campeão mundial. De repente, os investidores começavam a produzir dividendos com uma rapidez espantosa: contratos milionários, publicidade, representações, a fama e tudo o que vinha junto com ela.

Em São Paulo, uma nova empresa prosperava: a FITTIPALDI EMPREENDIMENTOS, onde Emerson e Wilsinho eram sócios meio a meio, e que era dona dos contratos e de tudo o que se referisse a Emerson e Wilsinho.

Na época, entretanto, Emerson é quem trazia quase todo o lucro: Wilsinho, iniciado na Fórmula 1 em 1972, ainda precisava pagar para correr. Nada menos que 60.000 libras anuais à Brabham, dinheiro vindo de seus patrocinadores, Bardhal, Varga e Cacique.

Desse dinheiro, conta Wilsinho, a Brabham me pagava 5.000 libras por ano mais uma porcentagem dos eventuais prêmios. Mas como eu é que tinha que pagar as viagens e estadas, de lucro mesmo não sobrava nada. Ou seja: eu continuava investindo em mim.

A dura realidade da Fórmula 1 onde só os grandes nomes realmente ganham dinheiro, ainda tinha agravantes para Wilsinho: na Brabham, o primeiro piloto era o argentino Carlos Reutmann, e a Wilsinho nunca eram dados os melhores motores e pneus.

Wilsinho foi-se enchendo, lembra o velho Wilson, e certo dia, em 1973, chegou pra mim e disse:

" Chega de dar dinheiro pra esses gringos. Com essa grana eu faço meu próprio carro ".

Na verdade, explica Wilsinho, a decisão não foi assim de estalo, nem por esse único motivo:

" Tinha a questão do dinheiro, tinha o fato de que eu sempre gostara de construir carros, e mais um motivo: eu estava cansado de ouvir falar de que no Brasil só tinha favela, Vitória-Régia e carnaval ".

Em agosto de 1973 a idéia amadureceu, e Ricardo Divila, que auxiliava Wilsinho na Europa foi enviado às pressas para o Brasil com uma missão importante: pesquisar a indústria local para saber se havia condições de obter aqui as peças necessárias para um carro de Fórmula 1. Dois meses depois, Ricardo Divila diria a Wilsinho que havia condições. A partir daí, o projeto começava a nascer.