segunda-feira, 4 de novembro de 2013

STOCK-CARS

OBRIGAÇÃO MORAL !

Zeca, Campello e Paulão 


Para o temperamental Reinaldo Campello, vencer a quarta etapa do Torneio Opala Stock-Cars era uma questão de honra, uma obrigação moral.

Firmemente decidido a dar seqüência às promoções internacionais envolvendo a categoria, agora, a próxima temporada seria disputada em Jarama, Paul Ricard e Estoril, Campello retornou de Portugal e, novamente, teve que enfrentar uma forte campanha de descrédito.

Quem ficou no Brasil, e foram pelo menos cinco pilotos competitivos, Affonso e Zeca Giaffone, Luís Pereira, Marcos Gracia e Marcos Troncon; alegava que a temporada portuguesa prejudicou o desenrolar do calendário nacional e, mais importante, impediu que a grande maioria participasse do desenvolvimento do novo câmbio, então, prestes a ser homologado.

Em contrapartida, quem participou dos dois eventos, se trazia em sua bagagem alguma experiência inédita e talvez enriquecedora, reclamava também da demora no retorno de carros e equipamentos e, alguns, da falta de uma premiação de largada que teria sido combinada ainda aqui no Brasil.

Para completar a trama de insatisfações, pelo menos quatro grandes patrocinadores, artigo tão em falta no nosso carente automobilismo, prometiam uma negativa de renovação de compromisso para a próxima temporada : a SMIRNOFF, do próprio Campello, a ORLOFF, a BASF e a SHELL-LUMA.

Então, era uma carga realmente pesada para o piloto / empresário. Diante deste quadro, Campello tinha que vencer. Vencer para provar que os três meses despendidos no trâmite dos eventos portugueses não serviram para desatualizar tecnicamente as equipes melhor preparadas.

E que, também, todo este tempo não foi investido em turismo, classificação e corrida num circuito estranho : quem teve discernimento pôde aproveitar a oportunidade para trocar idéias e aplicar conhecimentos a partir da experiência de outras pessoas, sempre muito mais próximas dos locais onde as coisas estão de fato acontecendo. Principalmente com relação a uma categoria turismo. Para quem possui um mínimo de determinação e vontade de vencer, Portugal serviu para que se aprendesse um pouco.

O que, certamente, só mesmo um Campello ou um Paulão podem explicar. Os dois saíram daqui bem, vencendo e brigando pela liderança, e voltaram ainda melhor. Então, como já afirmamos anteriormente, o saldo foi positivo. Bastava manter os olhos sempre abertos e os ouvidos sempre atentos.


Luís Pereira 

Quem viajou estava condenado. Condenado a enfrentar enormes dificuldades para reciclar seu acerto mecânico às características do novo câmbio, praticamente homologado, de escalonamento muito mais longo e que permitiria que as marcas de Interlagos, por exemplo, baixassem em quase cinco segundos.

Mas, na prática, isto não aconteceu. À exceção de Affonso e Zeca Giaffone, os demais pilotos conseguiram somente umas poucas voltas para testes e, nos "1.000 Km de Brasília", a improvisada traquitana de Cr$140 mil mostrou-se um fracasso.

Pouco robusta e muito cara, andou deixando algumas equipes na "mão" e sua viabilidade foi imediatamente posta em dúvida. Decidiu-se, então, aguardar uma manifestação coletiva dos pilotos e do comissário técnico da CBA, Bruno Brunetti, para que a engenhoca possa ser definitivamente homologada.

Daí, pode ter acontecido a grande reviravolta a favor de Campello. Nos treinos, a pole-position para a quarta etapa ficou em poder de Luís Pereira, vivendo uma fase de bons resultados, depois da vitória nos insossos "500 Km de Interlagos". Mas tudo em função do câmbio antigo.

Segundo Anésio Hernandes, preparador da equipe Sândalus, a marca de Luís Pereira, 3m13,89s havia sido obtida "em cima de uma excelente suspensão e também do motor, que tem uma taxa de compressão mais baixa, ideal para o câmbio antigo, que é curto. Com o câmbio novo, ia ser um desastre".

Reinaldo Campello, segundo mais rápido, aparentava excessiva tranqüilidade: "Câmbio novo ou câmbio velho, taí a prova de que Portugal não atrapalhou em nada. O que eu aprendi por lá só eu sei. Estou na disputa, tenho chances de vencer e o resto da "malta" vem dois segundos atrás".

Paulão vinha em terceiro, desgostoso porque poderia ter feito a pole: "O carro estava um foguete, mas no sábado as válvulas do cabeçote começaram a vazar e eu perdi cerca de 200 giros. Mas já trocamos tudo à noite, recuperei os 200 e ganhei mais 100. Acho que muitos vão quebrar neste calor e, se meu carro continuar como está, vou faturar mais uma".

Affonso Giaffone era o quarto com Zeca em sexto, uma desilusão para quem tanto acreditava na reabertura do torneio. Para Jayme Silva, restavam algumas explicações plausíveis: " Têm meses que a gente vem trabalhando para equacionar os motores para o câmbio novo. De repente, dizem pra gente usar o velho. Então, está tudo errado".

O experiente preparador não entendia, inclusive, a campanha movida contra a novidade: " O câmbio é excelente e o que aconteceu foi um erro na têmpera e montagem das primeiras unidades, daí os problemas de Brasília. Mas em Interlagos ele resistiu a todos os testes e posso afirmar que é muito bom. agora, erros são passíveis de acontecer com qualquer um, não é? ".

Alencar Júnior era o quinto, agora, pelo menos oficialmente, desligado da estrutura da equipe JOBI, dos irmãos Spinelli: "Estou usando o mesmo motor de Portugal, mas na próxima venho de "engenho novo". Tenho só um preparador e um mecânico e preciso urgentemente de patrocinador, senão não vai dar para segurar o rojão até o fim da temporada".

Ingo Hoffmann, Fábio Sotto Mayor, Wilsinho Fittipaldi e Pedro Queiroz Pereira, finalmente mais rápido do que Marcos Troncon em uma classificação, completavam os dez primeiros de um grid que motivou 23 inscritos e marcou o retorno da "legenda" Luizinho Pereira Bueno às pistas.

Mas, o mais interessante, era constatar que destes 23 automóveis, pelo menos 12 tinham o motor, parte dele, ou sua montagem, a cargo da dupla paranaense CLAUDE/AMAURI, que no início da temporada trabalhava com exclusividade para Reinaldo Campello. Os resultados de Campello devem ter sido entusiasmantes porque, atualmente, a dupla está dando o maior IBOPE, Todo mundo vai pedir a bênção ...


Zeca Giaffone

De moral alta ... Luís Pereira tinha tudo para ganhar. Affonso e Zeca, apesar dos pesares, acreditavam em uma vitória. Alencar Jr e Ingo Hoffmann precisavam vencer de qualquer maneira. Campello e Paulão eram os favoritos. O autódromo de Interlagos estava preparado para, debaixo de um calor indescritível, presenciar uma das melhores corridas que a categoria tinha para exibir desde a sua criação.

Entretanto, não foi uma corrida espetacular. Como diria o "Painho", foi "médio".

Depois dos treinos matinais, a equipe de Luís Pereira resolveu dar uma última regulada em ponto de ignição e carburação. Desgraça total. Da pole, o esforçado piloto se viu em condições de, quando muito, brigar efetivamente pela quarta ou quinta posição. De cara, um dos favoritos se via alijado da briga.

Em contrapartida, Campello pintou como vencedor logo na CURVA 1. Guiando com garra redobrada, louco por uma desforra depois de tanta pressão, "olhos esbugalhados e veia do pescoço para fora", ele jamais encarnou com tamanha personalidade a imagem que sempre fez questão de vender. Naquele dia, ninguém poderia vencê-lo. Nem poderia ...

Logo na primeira volta, o carro número 11 já vinha com muita vantagem sobre Paulão, Affonso, Alencar, Luís Pereira, Zeca, Fabinho Sotto Mayor, Wilsinho e o resto. 

Já no fechamento, Affonso passava tranqüilo para segundo e, no SARGENTO, aconteceria a definição provável da corrida. Alencar Jr saiu do SOL mais forte que Paulão e resolveu tentar o que sempre parece impossível : frear depois dele na entrada do SARGENTO.

Pelo visto, continua impossível...

Alencar, bloqueando, abalroou Paulão com violência, os dois saíram com os pára-lamas arrastando nas rodas e Campello e Affonso se distanciaram. Estava definida a corrida.

Paulão continuou andando, mas, suspensão torta, pneu quase dechapando, o máximo que conseguiu foi uma reação espetacular para terminar em terceiro na bandeirada. Alencar parou nos boxes, martelou as ferragens e, quando voltou, vinha longe, fora de ação.

Na frente, Campello mantinha a diferença enquanto Affonso, ciente de que seu adversário prosseguia em ritmo excessivamente forte para a temperatura, esperava por um imprevisto e procurava poupar seu equipamento. Affonso bem que tentou mas, faltando vinte minutos para o término da prova, preferiu olhar mais longe, rumo ao título de seu irmão. Então, aliviou o ritmo, facilitou a ultrapassagem de Zeca para a segunda posição e ainda tentou conter, sem sucesso, a investida final de Paulão e Luís Pereira.

Absolutamente tranqüila, foi a terceira vitória de Reinaldo Campello nas quatro últimas provas disputadas em Interlagos. Para completar, também foi sua a melhor volta, novo recorde de pista, um segundo mais rápido que a segunda marca da corrida. Barba, cabelo e bigode, como lhe convinha ...