domingo, 1 de fevereiro de 2015

PAULO "PAULÃO" GOMES



Quem aportar em seu rancho, nas barrancas do Araguaia, vai surpreendê-lo em plácida pescaria. Se subir para o norte até Conceição do Araguaia, Pará, poderá vê-lo numa imensa fazenda a admirar sua manada de mais de mil reses. Se descer para o sul, já em território goiano, registrará seus cuidados com uma criação de éguas manga-larga.

Quem, no entanto, não seguir além de Ribeirão Preto, interior paulista, conhecerá um personagem inteiramente diferente. Em vez de chapéu e bota, macacão e graxa; em vez de senhor Paulo Gomes, um simples e despachado Paulão. O fazendeiro é um astuto homem de negócios; o piloto tem paixão pelas corridas.

"Gosto de automobilismo mas não sou burro; define-se. Hoje, consegui transformar-me em profissional e corro por prazer, e dinheiro".

Muito prazer. Numa das recentes corridas de Stock Cars, Paulão capotou duas vezes na Curva 3 de Interlagos. Quando o Opala voltou a posição normal, ele saiu do carro, aguardou o final da bateria para alinhar novamente. Com o carro sem pará-brisas.

De bois e éguas, ele trata em Goiás e Pará. Com os carros, lida em sua oficina de Ribeirão Preto, onde prepara carrões para competir em todos os autódromos do perímetro centro-sul. está habituado ao ronco de motores há 17 anos, sendo, entre os pilotos em atividade, aquele que mais campeonatos conquistou. Vencedor da primeira temporada de Stock Cars, em 1979, Paulão é considerado o melhor bota nas categorias de turismo, embora tenha mostrado muito talento nas fórmulas nacionais, na Fórmula 3 européia e no Grupo 5 internacional.

Defeito poucos lhe põem; coragem ninguém tira, sentenciam os mecânicos do barbudo Paulão, 1,76m e 84 Kg. Quem o vê duelando nas pistas não imagina sequer que tem a perna esquerda 5 cm mais curta que a outra, saldo de um acidente de moto há dez anos e que o obriga a usar um incômodo sapato ortopédico. E Paulão gosta mesmo é de sentir a emoção de um pega:

" Aí, eu babo. Negócio de ficar sozinho lá na frente não tem graça. Bom é brigar no bolo, três ou quatro caras disputando a liderança comigo. Você tem que ficar com um olho na curva e outro no retrovisor; mão direita na alavanca de marchas, mão esquerda no volante e pé no fundo. Isso sim, é que é corrida."

Riso aberto, excitado, Paulão descreve a cena como se estivesse dentro de um carro, o vruuum zumbido e as máquinas voando. Solta um palavrão e reclama:

" Ah, essa Stock cars podia ser mais brava... Mais brava, isto é, mais veloz, mais empolgante." Nesse sentido, reivindica a liberação do câmbio de 5 marchas, ampliando o atual limite de quatro. Pede pneus slick, em lugar dos pneus de rua. Quer usar freios a disco nas quatro rodas, não só nas dianteiras. Exige, até, a liberação do autoblocante.

Quanto ao motor de 250 HP, tudo bem. Mas por que não um kit mais potente?

" Sabe o que penso? temos um tremendo motor mas o resto é fraco. Isso me reprime um pouco e não permite soltar todo meu potencial de piloto. Eles acham que as mudanças encareceriam a categoria. não concordo. Dizem, também, que alteraria muito o carro. Engano. Nós, que sentamos nesses Opala, sabemos que isso não verdade. "

A palavra de Paulão merece respeito. Um piloto de muitos títulos mas, também, um ás em pista molhada. Até hoje, venceu todas as corridas disputadas debaixo de chuva, o que confirma suas virtudes de coragem e combatividade. E este ano, Paulão?

"Se não der zebra, sou candidato ao título, pode escrever"