sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

DREAM TEAM






1979 - READING, arredores de Londres, domingo retrasado, dia 14. Solenes, os irmãos Fittipaldi assinam um documento sacramentando a compra da Wolf Racing Team. O vendendor, milionário Walter Wolf, assina em seguida. Como testemunhas, assinaram Peter Warr e Peter McIntosh.

São Paulo, sede da Fittipaldi Automotive, quinta-feira passada, dia 18. Descontraídos, os irmãos Fittipaldi dão entrevista coletiva anunciando a "bomba", autêntica volta por cima de quem se habituou, nos últimos cinco anos, a fracassos sucessivos.

É o fim da Wolf Racing Team, é o fim da Copersucar. Em lugar delas, surge a mais bem equipada organização do circo da Fórmula 1, depois da Ferrari e Renault, que contam com o suporte de fábricas de automóveis.

Um "superteam" que nasce forte, ao contrário da Copersucar, que trazia os inexperientes Wilsinho Fittipaldi e Ricardo Divila nos postos-chave. Desta vez, além de já contar com a competência de Emerson, ainda considerado um dos três melhores pilotos da Fórmula 1, o superteam terá o consagrado Peter Warr, que durante anos foi o Team-manager da Lotus. Mais: o projetista Harvey Postletwaite, que construiu os bons carros da March, Hesketh e Wolf WR3, este último vice-campeão em 77, com Jody Scheckter.

A compra da Wolf, além disso, transfere para os irmãos Fittipaldi todas as instalações e equipamentos da mesma. Isso representa, além do carro em fase de projeto, mais dez motores Cosworth, um dinamômetro, vários caminhões e todo o material de construção e de pista. Somado ao acervo atual da Copersucar, o superteam contará com 22 motores, três carros para testes imediatos e dois projetos para a construção de protótipos para 1980.

O incrível, porém, está na área técnica, reforçadíssima no meio-campo e retaguarda. Serão três projetistas: Giacomo Caliri, ex-Ferrari, e Ricardo Divila, que trabalham no F7, mais Harvey Postletwaite, cujos planos para o novo Wolf estão em fase avançada e que devem ser absorvidos pelo superteam.

Como homens de pista, subordinados ao diretor geral Wilson Fittipaldi, estarão Peter Warr, que será diretor de prova e Peter McIntosh, assessor de competições.

Os mecânicos irão se integrar em dois grupos diferentes. Um, funcionando nas competições da Fórmula 1. Outro, dedicando-se ao desenvolvimento dos carros, em testes e na fábrica. No total, 15 homens escolhidos entre os 25 que sobraram da fusão Wolf-Fittipaldi.

O programa para 1980 já foi esboçado e prevê um intenso período de testes, divididos em três áreas:

1- Divisão de competições, comandada por Peter Warr
2- Testes intensivos após cada prova oficial da F1, contando com mecânicos e um projetista especialmente para essa finalidade.
3- Desenvolvimento aerodinâmico em túnel de vento com o pessoal exclusivo da fàbrica.

E no volante? Emerson, claro, será o primeiro piloto. O segundo ainda será escolhido, tudo dependendo do novo patrocinador.

Diz Wilsinho:

"Nós preferimos que seja um brasileiro, até faremos força para isso. Mas se o patrocinador tiver um preferido, teremos de aceitá-lo".

Emerson por sua vez, admite que seu segundo piloto poderá ser um nome bastante conhecido, um piloto de ponta. Nem ele nem o seu irmão confirmaram, mas a verdade é que têm recebido ofertas de pilotos estrangeiros que desejam entrar nessa vaga, até oferecendo subpatrocínios, com quantias que chegam a 400 mil dólares.

Quanto ao patrocinador, sua identidade só será revelada nas próximas semanas, em outra badalada entrevista coletiva. Por causa do atual contrato com a Copersucar, que expira em 31 de dezembro, o sigilo é obrigatório.

De qualquer maneira, a hoje remodelada equipe Fittipaldi já funciona a todo vapor, os três projetista debruçados sobre o projeto no novo F7. Os testes estão marcados para a última quinzena do ano, em Paul Ricard, sul da França.

Final feliz de uma história feita de sonhos e muitos pesadelos. sai de cena o milionário Walter Wolf, que se cansou do seu caro brinquedo. Prepara-se para comandar o próximo ato, após longo ostracismo, Emerson Fittipaldi.

Que suspira:

"Somos profissionais, por isso sofremos os piores reverses. Nós, os Fittipaldi, vivemos da pista e dos carros. Foi no automobilismo que conseguimos tudo o que temos. por isso, somos o que somos".