quinta-feira, 26 de abril de 2018

JARAMA: JOSE CARLOS PACE







1972 - "Meu sexto lugar em Jarama teve sabor de vitória. Eu havia perdido a maior parte dos treinos e por isso tinha sido obrigado a largar em 16º lugar. E meu March 711 não era dos melhores, mas apesar disso, sem o azar de outras vezes, consegui passar muita gente e cruzei a linha de chegada grudado a Tim Schenken e a Andrea De Adamich, depois de ter disputado forte com eles durante as últimas quinze voltas.

Largar lá atrás é sempre ruim, porque um grupo grande de carros segura a gente por muito tempo. Principalmente em Jarama, pista sinuosa e não muito boa, em que só se pode tentar ultrapassagens no fim da reta maior.

Quando largei, na sétima fila, por fora, eu pouco enxergava, por causa da poeira que os carros da frente tinham levantado. Logo antes da primeira curva, consegui evitar o choque com o carro de Graham Hill, que me passou e saiu da pista. Nessa curva, passei dois carros, mas fiquei preso naquele bolo intermediário, enquanto o grupo da frente, com Stewart, Hulme, Emerson, Ickx e Regazzoni, se distanciava.

Henri Pescarolo estava na minha frente, bloqueado por Rolf Stommelen, que não dava moleza, com seu March-Eiffeland. Wilsinho, no mesmo grupo, corria na frente de Stommelen.

Rolf Stommelen começou a perder terreno e nos amarrou por seis voltas até que errou e nós conseguimos passar.

Então comecei a perseguir Pescarolo, que na curva de alta sempre freava antes de mim. Numa dessas vezes, aproveitei a freada que ele deu, entrei por dentro e consegui passar, ficando em 13º. O chuvisco que havia começado na metade da corrida já tinha parado e eu me senti feliz por ter acertado na escolha dos pneus para pista seca.

Com o carro rendendo bem, apesar de não ter o recuRso dos melhores, comecei a me aproximar do Wilsinho, que apertou seu ritmo. Duas voltas depois, vi Stewart se aproximar para colocar uma volta em cima de nós. Assim mesmo não me preocupei.

Na África do Sul, quando percebia algum dos cobras chegarem por trás, eu diminuía o ritmo e abria caminho, mesmo que estivesse tentando eu mesmo ultrapassar alguém.

Frank Williams então me aconselhou que fizesse minha própria corrida, sem me preocupar com quem estivesse uma ou mais voltas na minha frente, porque esses tinham motores melhores e passariam cedo ou tarde.

Por isso, durante três voltas, Stewart me perseguiu, sem que eu o fechasse, mas também sem que eu facilitasse as coisas para ele. Quando afinal ele conseguiu me passar, estava muito irritado e me fez "aquele gesto característico".

Depois da corrida fui falar com ele, mas ele disse que não tinha nada, porque se estivesse no meu lugar teria feito a mesma coisa.

Mas, enquanto Stewart tentava me passar, eu me aproximava do Wilsinho. E fiquei assim durante cinco voltas, até que numa freada de curva as rodas dianteiras do carro dele bloquearam e ele foi direto.

Não chegou a sair da pista, mas tentando controlar o carro, acho que nem viu o "sinal de adeus" que fiz brincando, ao passar por ele.

Logo depois consegui passar Tim Schenken e um Brabham, que não consegui identificar de quem era, e fiquei em sexto lugar, atrás de Peter Revson. Forcei meu carro o mais que pude e procurei fazer as curvas o melhor possível, mas não consegui passá-lo. O máximo que pude foi andar bem junto, enquanto ele também apertava o ritmo, perseguindo Andrea De Adamich. Pelo jeito, o motor do carro do Peter Revson era melhor, porque nas freadas eu me aproximava, mas nas saídas das curvas ele se distanciava de novo.

Nisso fomos chegando no De Adamich, que estava andando sozinho em quarto lugar. Mas quando nos viu encurtando distância ele também procurou acelerar. De qualquer forma, conseguimos nos aproximar e, a partir da 75ª volta, corremos os três juntos, no ritmo mais forte possível.

E juntos recebemos a bandeirada, com a diferença de um décimo de segundo de um carro para o outro, tempo equivalente a meio carro.

Foi uma chegada sensacional: depois da corrida, assim que encostei nos boxes, Peter Schetty, da Ferrari, Ken Tyrrel, Colin Chapman e outros vieram me cumprimentar.

Fiquei satisfeitíssimo com o resultado, porque senti que, nessa corrida, meu esforço tinha sido recompensado, sem aquelas quebras todas que me perseguiam por tanto tempo. Além do bom resultado geral, fiz o sexto melhor tempo da prova, na 85ª volta: 1m 22,3s. Jacky Ickx, que fez a volta mais rápida, marcou 1m 21,1s.

Mas toda minha alegria acabou logo. À noite, quando soube da morte de meu pai. Só me resta agora oferecer minha carreira a ele, que foi o principal admirador de minhas corridas."