terça-feira, 29 de maio de 2018

CORREIO SENTIMENTAL




1981 - Tudo indica que, infelizmente, tão cedo não teremos um campeão na Fórmula 1. Caso não mude o seu comportamento, Piquet, apesar de possuir algumas qualidades de campeão, parece que terá o mesmo destino de alguns corredores que se tornaram famosos, mas que jamais foram campeões.

Aos poucos constata-se que Nelsinho dificilmente consegue controlar, simultaneamente, os dois: a si próprio e ao carro.

Quando sai na frente, com folga, tudo bem. Ainda na frente, mas apertado, apavora-se com quem vem atrás. Quando sai atrás, apavora-se para alcançar os da frente.

No ano passado, jogou o campeonato fora querendo, nas primeiras voltas, dar um show em cima de Alan Jones. Jones ganhou fácil na penúltima prova.

Este ano, Nelsinho Piquet já fez das suas.

No Grande Prêmio Brasil foi aquele vexame. Na Bélgica, além da atitude bem antipática de não participar do justo protesto de pilotos e mecânicos por mais segurança nos autódromos, no decorrer da prova perturbou-se com a aproximação de Jones e saiu da pista. Em Mônaco, na Espanha, conseguindo manter a razoável distância que o separava dos primeiros, tornou a bater.

Para Piquet, de acordo com as sua declarações, o carro que conseguira acompanhar, até a volta 44ª, os ponteiros, estava louco e indirigível. A facilidade com que ele procura descartar-se de suas responsabilidades, tentando sempre jogar sobre os outros as razões de seus momentâneos fracassos, é constrangedora.

Já no título "A coisa mais perigosa que existe na Fórmula 1 são os pilotos", do artigo publicado de Piquet, ele demonstra a estranha visão que tem dos seus companheiros. Nelson Piquet necessita aprender que os seus colegas de profissão não são inimigos.

É importante também que ele deixe de lado a crescente e assustadora rixa com Jones, que a 300 Km/h cheira a tragédia.

Se ele fizer um retrospecto irá constatar que na Fórmula 1 os fracassados julgavam que poderiam vencer as corridas logo na primeiras voltas. A imagem de menino sempre zangado fica-lhe, também, muito mal e ridícula. 

Quando lembramos das façanhas extraordinárias de Emerson Fittipaldi pilotando o Lotus ou o McLaren, levando o Copersucar (este sim, indirigível), ao final das provas, negociando ultrapassagens, dando botes indefensáveis e até mesmo, com grande sabedoria, deixando-se ultrapassar para garantir e somar valiosos pontos, temos que ter saudades.

Fittipaldi, pelas suas elevadas qualidades pessoais e profissionais, desfrutava da admiração de todos e de todas as equipes. Se Piquet abandonar seu pedestal de barro, acionar convictamente as sua inegáveis e extraordinárias qualidades técnicas, domar as suas emoções, adicionar um pouquinho de humildade ao seu comportamento e ficar de bem com o mundo, poderá, já no próximo Grande Prêmio, colher excelentes frutos.

Acredito que ele deva aproveitar a oportunidade de ser compatriota do Emerson e ter umas conversinhas de "irmão para irmão".

Sei que, se ele tomar conhecimento desta carta, poderá comentar: "Vá dar conselhos à vovozinha".

Não faz mal. Torço por ele e não gosto de vê-lo perdendo corridas ganhas, ingenuamente.



Odilon Martins Fonseca
Rio de Janeiro, RJ