quarta-feira, 24 de abril de 2019

O FILME DA MINHA VIDA



1946 - Amigos, uma de minhas paixões é o cinema. Quando tinha 14, 15 anos já frequentava cine clube com carteirinha e tudo mais. Atualmente, eu não troco nenhuma sessão privê da minha casa pela melhor sala "high tec" dos shopping centers, com suas projeções digitais que mais parecem imensas tvs de plasma, com o "ruminar" dos baldes de pipocas e coca-colas. Graças ao meu acervo particular de cerca de 2.500 títulos (VHS, Laserdisc, DVD) pago para não sair de casa.

Como fã assumido do filme western, o "filme da minha vida" é um "faroeste" de John Ford.

Na minha opinião não existe o "melhor filme", o que acontece é que todos nós temos um filme "preferido" que por algum motivo marcou a nossa vida.

"My Darling Clementine" de 1946, é o filme que eu levaria para uma ilha deserta. Já assisti mais de 100 vezes e mesmo assim, toda vez que revejo, ainda fico "arrepiado".

John Ford fez uma "obra prima". Durante a projeção sempre acabo chorando diante de tanta beleza. Hoje à noite aproveitei para assisti-lo mais uma vez.

My Darling Clementine que aqui saiu com o título, "Paixão de Fortes", garantiu seu lugar na imortalidade cinematográfica, orgulhosamente no topo da lista dos melhores westerns de todos os tempos. Ele representa o gênero em seu auge e o ponto alto da carreira de todos os envolvidos, incluindo o diretor John Ford e os atores Henry Fonda e Walter Brennan.


Filmado no majestoso Monument Valley, este filme de John Ford, sobre Wyatt Earp e seus irmãos (maravilhosamente retratado por Henry Fonda) e seus confrontos com a gangue dos Clanton ( patriarca Walter Brennan, em um de seus maiores e mais cruéis papéis) na cidade de Tombstone, Arizona.

O filme feito num exuberante P&B, tem uma fotografia (Joseph MacDonald ) de tirar o fôlego, seu uso de sombra tem um impacto dramático e poderoso.





O filme começa com Wyatt Earp, o lendário homem da lei de Dodge City. agora um vaqueiro, levando um rebanho  para o México, com o objetivo de começar uma nova vida junto com seus irmãos, Virgil (Tim Holt), Morgan (Ward Bond) e o caçula James (Don Garner ).

Quando seu irmão mais novo James é brutalmente assassinado e o gado roubado, isso marca o ponto de virada do filme e da transição de Wyatt, onde sai de cena o vaqueiro, para voltar o homem da lei em busca de vingança.

Essa mudança acontece na memorável cena do hotel, onde velho Clanton e seus quatro filhos, entram pela porta, encharcados pela chuva, e encontram Henry Fonda. Segue o diálogo onde o velho Clanton pergunta a Fonda:

 - Vai voltar para a Califórnia ?

Não, resolvi ficar um tempo aqui. Arranjei um emprego...

- Vaqueiro?

Não... xerife

- Xerife ! em Tombstone !... hahahaha...

- Boa sorte... sr.?

Earp...  Wyatt Earp....

Segue-se um silêncio de "mijar nas calças"...enquanto Henry Fonda sai pela porta, caminhando na chuva...

Essa é só uma das memoráveis sequências, o filme tem muitas, como a visita de Wyatt na lápide de seu irmão, uma seqüência de dança na igreja de uma beleza extraordinária, e o duelo final ao nascer do sol no OK Curral; estão entre os muitos destaques do filme.



Há também cenas hilárias e divertidas, como a do perfume do barbeiro, e quando Fonda pergunta ao barman se ele já se apaixonou.

Outro destaque do filme é Victor Mature no papel de um auto-destrutivo "Doc Holliday", o dentista pistoleiro, que é culto, conhece Shakespeare e também é perigoso com uma arma. Doc Holliday é mostrado como um homem complexo e atormentado, que deixa a mulher que ama, para se esconder em Tombstone por causa de sua doença (tuberculose).

Essa mulher é Clementine (do título), que chega na cidade a procura de Holliday. Ela é educada, culta e gentil, um contraste com a selvagem e violenta Tomstone. A chegada dela é um metáfora de Ford, representa o começo da civilização e o fim do selvagem Velho Oeste.





O elenco ainda tem a estonteante Linda Darnell, atriz que teve uma morte trágica em 1965, como "Chihuahua". Na minha opinião, de todo o elenco é a mais fraca. Não "deu liga" com Mature e Fonda.

Outra cena surreal: o velho ator que leva Shakespeare ao "puteiro" de Tombstone...







A sequência final do duelo no O.K. Corral é uma obra de arte.

Há a cena em que Walter Brennan está esperando, com a luz crescendo na cabeça dele, como se o sol estivesse vindo atrás dele, enquanto Fonda checa as armas para o duelo, é sensacional.

Um filme, lançado em 1946, que nunca vai ficar datado. Um belo filme em todos os aspectos.

John Ford fez um Western extraordinariamente humano, sensível, sem violência desnecessária.