1980 - Este ano, apesar de só chegar à Inglaterra em março, já encontrei a "casa arrumada". Provando mais uma vez a eficiência de minha equipe, a Project Four Racing, quando entrei nas oficinas, já encontrei os meus dois carros, titular e reserva, montados e com motor.
Por estas e outras, é que resolvi continuar com o Ron Dennis e seu pessoal. Além de perfeccionista, o Ron não perde tempo, pois ele sabe que seu negócio só caminha bem quando seus pilotos obtêm resultados. E para que surjam estes resultados, existe um cronograma cumprido à risca.
Como a única pista disponível para treinos era Goodwood, foi lá que eu e meu parceiro de equipe, nesta temporada de Formula 2, o Andrea de Cesaris, realizamos três treinos livres de ajuste e ambientação com o equipamento. Mesmo sem qualquer preocupação com as marcas, fiquei muito animado. Logo no primeiro dia de treino eu e o De Cesaris viramos tempos iguais, e é bom lembrar que o italiano já correu na categoria e iniciou os treinos este ano antes de mim.
Escolhemos os March 802, porque em toda a temporada que o Robin Herd encontra um adversário difícil, aparece na seguinte com um chassi praticamente imbatível. Afinal, no ano passado, apesar de campeões como Marc Surer, o pessoal da March teve no Brian Henton e no seu chassi, o Ralt, uma dupla que só entregou o título na última etapa. Assim mesmo, protestaram contra uma desclassificação em Enna, que se fosse aceito, teria lhe garantido o campeonato.
Agora, a temporada promete ser ainda mais competitiva. Todo muito está treinando e batendo recordes consecutivos. Na minha opinião, a briga vai se definir entre os March, os Osella, os Ralt e os novos Toleman. Este último vai estrear com um patrocínio grande - British Petroleum - e em um equipe que conta com a experiência do Brian Henton e a garra do Derek Warwick.
Com muitos pilotos repetindo temporada e cheios de experiência, além da violenta disputa entre as marcas, acredito que um dos pontos a favor da minha equipe seja referente aos motores. O Ron Dennis, muito influente, conseguiu que somente nós e a equipe oficial da March, recebessemos os motores BMW preparados dentro da própria fábrica. É pelo mesmo uma garantia de grande velocidade e, principalmente, muita robustez.
Bem, o que realmente interessa é que estou consciente de que esta vai ser a mais díficil e também a mais decisiva temporada da minha carreira. Se eu resolver dar uma de pessimista, o melhor é voltar para casa. Fora os circuitos britânicos, eu não conheço nenhuma das pistas onde o campeonato será disputado. O aspecto experiência, que já comentei, também pesa muito. Basta tomar o Derek Warwick com exemplo.
Quando ele disputou a Formula 3, em 1978, minha briga era quase exclusivamente com o Nelson Piquet e nós o considerávamos carta fora do baralho. Agora mudou de figura. Além de uma equipe sensacional, ele vai alinhar com uma temporada inteira de aprendizado na Fórmula 2, porque, em 1979, disputou todas as provas da categoria. Assim, muitas coisas que ele já conhece por ter experimentado, vou sentir pela primeira vez.
Mas, sinceramente, este tipo de coisa não me preocupa. ou a gente confia no próprio braço e habilidade ou pára de pensar no automobilismo como carreira. A verdade é que a cada dia surge um novo desafio e devemos estar preparados e dispostos a enfrentá-lo.
Muita gente, tanto aqui na Inglaterra, quanto no Brasil, não consegue entender por que eu não passei direto para a Fórmula 1, como, por exemplo, o Piquet e o Alain Prost. Quero deixar claro o meu raciocínio. Vou disputar a Fórmula 2 porque acho que será a temporada mais competitiva dos últimos anos e, em termos de aprendizado, vai significar muito para minha carreira.
Eu só admitiria queimar esta etapa, se fosse para integrar uma equipe grande da Fórmula 1. Quando eu digo grande, significa um esquema bem estruturado e experiente. Atualmente, uma equipe grande tem condições de construir um carro vencedor de uma hora para outra. Basta ver a Williams que, com o modelo FW-07, saiu do pelotão intermediário para as posições da frente e vai brigar pelo campeonato deste ano.
Para 1980, houve pouca renovação. Só entraram realmente a sério, o Ricardo Zunino e o Alain Prost. O Prost brigou muito por um lugar na Ligier, mas acabou presenteado pela McLaren. Ele foi campeão europeu de Fórmula 3, em 1979, e agora está mostrando o que realmente vale. Já o Zunino, é um caso à parte. Acho que ele é ainda muito fraco e, só sentou na Brabham, pagando 1,5 milhões de dolares. Neste esquema, não tenho a menor chance.
Como é de praxe convidarem os campeões da Fórmula 3, a próxima vaga, na certa, seria minha. Como esta vaga não apareceu, vou disputar, sem qualquer mágoa a Formula 2.
A bem verdade, recebi dois convites. O primeiro foi da Shadow, mas não aceitei, baseado no meu ponto de vista de equipe grande. O segundo foi da Fittipaldi e eu aceitei. Afinal, todo mundo pode ver, eles estão com um esquema forte e, não bastasse isto, uma temporada ao lado de Emerson vale muito. Tem gente dizendo que ele está velho e tal e coisa, mas a verdade é que sabe muito mais que todos os atuais pilotos da categoria.
Quando me convidaram, aceitei na hora, tratamos dos contratos e de todos os outros esquemas, mas, no final, preferiram voltar atrás. Alegaram que a vaga deveria ser preenchida por um piloto mais experiente e de resultados imediatos. Acho compreensível e, mesmo que tenham agido assim por qualquer tipo de pressão, as performances do Keke Rosberg mostram claramente que estavam certos.
Havia ainda uma opção: disputar a Formula Aurora com um Fittipaldi F-07, mas não cheguei nem a levar em conta. Seria, sem dúvida, uma aventura, em um momento decisivo.
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