Idéias de um presidente 1975 - Quase três meses após ter assumido a presidência da Confederação Brasileira de Automobilismo, Charles Nacache é um homem preocupado em organizar a CBA em "moldes mais compatíveis com o automobilismo, uma atividade que, mais do que um esporte, envolve interesses econômicos muitos grandes e, portanto, precisa ter uma gerência mais profissional, calcada em moldes empresariais".
A primeira medida tomada por Nacache no sentido de profissionalizar a CBA foi a contratação dos serviços da MPM Propaganda, que ficará responsável pela divulgação dos propósitos da nova presidência, pela criação de um serviço de Imprensa, e encarregada, entre outras coisas, de fazer contatos em alto nível para atrair patrocinadores dispostos a investir no automobilismo.
" Nós acreditamos que bons prêmios possam atrair pilotos e, consequentemente, gerar boas disputas. Isso fatalmente atrairá mais público e gerará mais interesse dos patrocinadores: É um círculo vicioso que precisa ser iniciado".
Partindo da necessidade de conceder melhores prêmios, a Confederação Brasileira de Automobilismo tem planos para conseguir aumentar sua receita e poder, ela mesma, premiar os pilotos, caso nenhum patrocinador se interesse por uma determinada corrida. Parte desse plano consiste na aprovação, pelo Congresso Nacional, da Lei do Automobilismo.
Idéia herdada da gestão anterior, essa Lei, se aprovada, ordenaria o pagamento de uma pequena porcentagem sobre o preço de cada veículo vendido ou fabricado no país. O dinheiro arrecadado seria usado pela Confederação para incrementar as competições automobilísticas do Brasil.
Bem vestido, calmo, 45 anos, ex-piloto que em cinco corridas com um Volkswagen Divisão 1, caiu três vezes no lago do Autódromo do Rio de Janeiro. Charles Nacache confia na concretização de sua metas. Advogado do Banco do Brasil, atualmente afastado de sua funções, por licença, para poder melhor administrar a CBA, Nacache confessa-se muito chateado cada vez que assina uma carteira de piloto internacional para brasileiros que pretendem se iniciar na Fórmula 3 inglêsa. Na sua opinião, quando os prêmios das competições melhorarem, os pilotos não mais deixarão o país para correr em categorias menores como a Fórmula 3 ou Fórmula Ford inglesas.
"Quando um piloto brasileiro sai do país para correr na Fórmula 2, Fórmula 1 ou no Mundial de Marcas, só há motivos para ficarmos satisfeitos. Mas, quando eles vão para campeonatos menores, de Fórmula 3 ou Fórmula Ford na Inglaterra, é lamentável. Tenho certeza que se tivermos bons prêmios na Fórmula Super-Vê e Fórmula-Ford e um automobilismo organizado, com calendários e regulamentos sendo respeitados, não haverá motivos para os pilotos irem correr no exterior".
Como primeira medida para assegurar um "automobilismo organizado" e, ao mesmo tempo atrair novos pilotos, os grandes sacrificados, na opinião de Nacache, a CBA baixou uma portaria obrigando todos os clubes organizadores a destinarem um mínimo de 30 mil cruzeiros para as provas do Campeonato Brasileiro. Até agora, no entanto, somente os Campeonatos Brasileiros de Super-Vê e Fórmula-Ford tem seus prêmios assegurados. Aliás, em valores bastante superiores aos estabelecidos, por serem patrocinados pelas respectivas fábricas. As outras 18 provas dos Campeonatos Brasileiros_ seis da Divisão 1, seis da Divisão 3 e seis da Divisão 4_ não tem patrocinadores, mas nem por isso deixarão de ser realizadas.
Antonio Carlos Avallone, piloto, construtor e presidente de um clube que realiza corridas concorda com essa política adotada por Nacache, mas tem sérias restrições a fazer à nova diretoria da CBA em todas as áreas do automobilismo em que atua. Como presidente do clube, reclama contra um tratamento desigual que é dado a essas entidades. Como piloto, protesta contra a falta de apoio que está sendo dada a todas as categorias que não sejam Super-Vê e Fórmula-Ford. E como construtor, lamenta as dificuldades que lhe são impostas para conseguir importar peças, pneus e outros acessórios que utiliza na fabricação de seus carros.
"Na minha opinião, a importação de peças e acessórios deveria ficar a cargo única e exclusivamente dos construtores, e não das mãos da CBA, como acontece ainda hoje. Para conseguir o deferimento, prmeiro da CBA e depois do CND, para um pedido de importação de peças, atualmente, é uma luta. Existe tanta burocracia e demora que muita gente é obrigada a fazer como eu que, agora, tenho que viajar para a Inglaterra, pessoalmente, para trazer o material de que necessito. Isso significa largar todos os meus negócios em São Paulo por uma semana, arriscar minha vida numa viagem de avião e pagar altas taxas alfandegárias, entre outras coisas. E eu me vejo obrigado a tomar essa atitute simplesmente por que, se for esperar pela boa vontade da CBA, não terei meus carros prontos a tempo de participar das primeiras provas dos campeonatos brasileiros" reclama Avallone.
Idéias, todavia, surgem aos olhos de alguns como simples sonhos. Outras, no entanto, mais concretas e necessárias, já foram postas em prática. Entre elas, uma das mais importantes foi a transformação, já para o próximo ano, da Divisão 1 em Grupo 1 da FIA. Com isso, pretende-se limitar a preparação dos carros e dar oportunidade a pilotos mais novos, e com menos recursos, de se iniciarem no automobilismo, cumprindo assim a principal função da categoria; ou seja: a renovação de pilotos.
"Para este ano a Divisão 1 continua como no ano passado, em respeito aos pilotos que prepararam seus carros de acordo com os regulamentos da Divisão 1. Mas, para 1976 já está decidido: a Divisão 1 seguirá os regulamentos internacionais, permitindo a participação, única e exclusivamente, de carros enquadrados no Grupo 1 da FIA".
De um modo geral, esses são os planos de Nacache para seu curto mandato na presidência da CBA, que se estenderá até o prmeiro trimestre de 1976. E se ele conseguir levar adiante seus planos, ainda é muito cedo para se dizer.