quarta-feira, 4 de agosto de 2010

1972 Grande Prêmio Balcarce

Pace participou da corrida que inaugurou o Autódromo Juan Manuel Fangio
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José Carlos Pace pilotou um AMS SP-2000
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Até uma escola de samba brasileira, "Os Cobras de Porto Alegre", foi importada para a festa de inauguração do Autódromo Juan Manuel Fangio, em Balcarce, numa região escarpada a 75 quilômetros de Mar del Plata, na Argentina. No domingo, dia 16 de janeiro 1972, as arquibancadas do novo circuito já estavam superlotadas duas horas antes do horário previsto para o início da prova. José Carlos Pace conta como foi sua participação na corrida:
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"O entusiasmo dos argentinos por corridas de automóvel é incrível, e certamente foi para mim um estímulo a mais para tentar superar a inferioridade de meu carro em relação à maioria dos outros, pilotando o melhor que me foi possível. Acho que nunca vou esquecer o momento, em que subi ao podium para receber o prêmio pelo segundo lugar das mãos do próprio Fangio, cercado pela algazarra alegre daquela enorme multidão".
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O autódromo ainda estava em obras e ao chegarmos lá para o primeiro treino, os operários ainda trabalhavam na pista. Por isso, o treino que fora marcado para as 15 horas, só começou às 19 (nesta época do ano ainda tem luz) e foi até as 20:30h. Os carros que primeiro apareceram foram os de 2 litros, todos os que haviam participado dos 1000 Quilômetros de Buenos Aires, no domingo anterior. Dos automóveis de 3 litros, só foram levados para Balcarce, uma Alfa Romeo T-33 de Faccetti, o Berta que foi construído para o Mundial de Marcas e que não participara dos 1000 Quilômetros, por ter quebrado e dois outros Berta com motor Tornado.
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Fui um dos primeiros a sair para a pista e percebi de imediato que o carro estava com os mesmos defeitos que apresentara em Buenos Aires. O pessoal da AMS ainda mostra inexperiência em competições: antes dos 1000 Quilômetros, pedi aos mecânicos da equipe que substituissem os amortecedores do carro por outros, novos, que haviam sido trazidos de reserva. Eles não fizeram a troca, alegando que não haveria tempo para isso. E, ao levarem o carro para Balcarce, esqueceram em Buenos Aires essas peças de reposição. e o carro estava com o amortecedor traseiro ruim, o que prejudicava a estabilidade.
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John Hines vencedor da prova

Apesar de tudo, a relação de marchas estava quase acertada para o circuito do novo autódromo. E haviamos trocado o motor por outro, que segundo o engenheiro da fábrica italiana, funcionaria melhor. Realmente, nesse treino de estréia consegui marcar o melhor tempo, 1m38s cravados.

Tite Catapani, o outro piloto brasileiro inscrito para a prova, não conseguiu participar do treino de sexta feira; o caminhão que trouxe seu carro chegou a Balcarce atrasado, seria preciso regular as válvulas do Lola T-210 e esse serviço consome de duas a três horas. Quando foi terminado, eram já 8 da noite. No sabado houve o treino final e todos os concorrentes participaram dele. Começou às 4 da tarde, com a pista já mais limpa do que na véspera. E, uma hora antes de ser encerrado, ninguém conseguira ainda melhorar a marca que eu obtivera na véspera. Para mim isso era muita sorte, pois o meu carro piorou bastante, tornando-se quase impraticável dirigir. O problema de amortecedor não chegou a se agravar; agora a dificuldade era criada pelos pneus. Eles foram substituídos e então o AMS melhorou. Porém logo o motor novo começou a ratear, embora eu estivesse conseguido virar no mesmo tempo da véspera, 1m38s. Isso foi no fim do treino, quando Arturo Merzario, John Hines e Carlo Faccetti já estavam conseguindo marcas melhores do que a minha.

A classificação final para a largada só foi decidida, porém, nos últimos instantes do treino de sábado, quando Reine Wisell obteve a marca excepcional de 1m35,05s. John Hines garantiu a segunda posição, com 1m35,38s; Arturo Merzario ficou em terceiro com 1m35,67s; e eu, embora tivesse baixado um pouco o tempo obtido na sexta-feira, coloquei-me em quarto lugar para a largada. Tite Catapani ficou em nono, com 1m41,28s.

--------------1º Jo Bonnier-----2º John Hines

-------3º Arturo Merzario----4º José Carlos Pace

----5º Carlo Faccetti-----------6º Alex Soler-Roig

--------7º Nestor Garcia--------8º John Bridges

-------9º Tite Catapani--------10º Luis di Palma

John Hines com o Chevron B-19

Os organizadores da corrida haviam decidido que a largada seria com os carros parados, mas no sábado, véspera da prova, mudaram de idéia e optaram por uma partida do tipo "Indianápolis", que além de vantagens de segurança oferece um espetáculo mais bonito; os carros, dois a dois, deram uma volta completa no circuito, seguindo o carro-madrinha dirigido por Juan Manoel Fangio, que tinha a seu lado o italiano Luigi Villoresi, outro grande corredor do passado. Terminada essa volta, o Mercedes-Benz de Fangio deixou a pista e recebemos então a bandeirada de largada, todos em movimento, com Jo Bonnier na posição de honra (conseguida para seu carro por Reine Wisell, que participou somente dos treinos).
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A corrida começaria as 16 horas, mas um súbito temporal, que desabou com força sobre o autódromo, adiou-a para depois das 17 horas, quando o sol reapareceu e secou rapidamente a pista, permitindo que todos os carros alinhassem com pneus slick. O Chevron de John Hines tomou a ponta logo no início da primeira curva e eu, com o AMS equipado com o motor que usara no treino de sexta-feira ( o novo continuara apresentado problemas), procurava segurar-me em segundo. Mas ainda nessa primeira volta a Alfa Romeo T-33 de Faccetti nos passou e começou a abrir vantagem pouco a pouco.
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Meu carro estava rendendo menos do que nos treinos, o motor em vez de chegar aos 9.000 giros, alcançava apenas 8.200. Apesar de ainda correr em terceiro, já estava muito atrás de Hines e de Faccetti. Essa situação continuou até a vigéssima volta, quando o AMS começou a render mais, subindo até 8500 giros. Comecei então a descontar à média de meio segundo por volta, os vinte segundos de vantagem que Hines tinha sobre mim. Cheguei a virar seis ou sete voltas consecutivas em 1m35s cravados, tempo melhor do que o de Reine Wisell na classificação. Ao terminar essa primeira bateria, conseguira reduzir a vantagem de Hines para um segundo e meio. Faccetti havia deixado a pista com a bomba de gasolina defeituosa e o terceiro foi de Jo Bonnier, com o Lola T-212. Tite Catapani conseguiu um bom sexto lugar.
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Jo Bonnier chegou em terceiro
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O mesmo ritual de largada da primeira bateria repetiu-se na segunda, com o carro-madrinha dirigido por Juan Manuel Fangio puxando a fila dupla de competidores, liderada pelo Chevron de Hines e pelo meu AMS. Baixada a bandeira, saltei na ponta, mas logo na primeira curva Hines me passou. E, numa reedição da primeira volta da bateria anterior, a Alfa Romeo de Faccetti, que agora largara lá atrás, ultrapassou-nos novamente, utilizando toda a força de seu motor 3 litros.
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Por sua vez, Jo Bonnier estava agora correndo bem melhor e na sétima volta passou por mim e depois por Hines. Nessa altura, pude sentir mais nitidamente a superioridade de seus carros sobre o meu. O Lola de Bonnier tem um motor com 265 HP a 9500 giros, e o Chevron de Hines tem só 2 HP a menos, à mesma rotação. Enquanto isso, meu AMS, além de ser equipado com um motor de cilindrada menor (1800cc contra 2000cc dos outros dois) e tem 235 HP a 9000 RPM. Isso me obrigava a fazer milagre para acompanhá-los de perto.
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E a coisa se tornou definitivamente pior quando perdi o freio numa curva em ziguezague, após a reta onde alcançam uns 230 Km/h e depois se usa o freio para reduzir a uns 130 a 140 Km/h. Naquele trecho, meu ponto de freada era a uns 100m da curva. Ao sentir que me faltava freio, o que quase me fez sair da pista, passei a frear uns 250m antes da curva e preocupei-me apenas em garantir o segundo lugar na soma dos tempos das duas baterias. A vitória na segunda bateria foi de Faccetti, com a Alfa Romeo T-33/3 de 3 litros. Hines ficou em segundo, Jo Bonnier em terceiro, e eu em quarto. Tite Catapani, que vinha novamente fazendo uma boa corrida, teve um problema no câmbio que o fez perder colocação e terminar a bateria em nono lugar, essa foi também sua colocação na classificação final.
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Ao reconduzir o AMS SP-2000 para os boxes, com as mãos sangrando pelo esforço feito para arrancar o máximo do carro, encontrei a equipe da fábrica eufórica; eles não esperaram sequer que eu retirasse o capacete para me assediar com uma porção de promessas e pedidos. Querem que eu corra para eles no Campeonato Europeu de 2 litros este ano, garantem, entre outras coisas, que terei um carro novo e muito melhor. Respondi que iria estudar o assunto.
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1º Bateria
  1. John Hines - Chevron B-19
  2. José Carlos Pace - AMS SP-2000
  3. Jo Bonnier - Lola T-212
  4. Alex Soler-Roig - Abarth 2000
  5. John Bridges - Chevron B-19
  6. Tite Catapani - Lola T-210
  7. Carlo Faccetti - Alfa Romeo 33/3
  8. Eris Tondelli - Chevron B-19
  9. Nestor Garcia - Lola T-212
  10. Oscar Fangio - Berta Tornado
  11. Jorge Ternengo - Berta Tornado
  12. Hector Plano - Baufer Chevrolet
  13. Georges Dumoing - Lola T-212
  14. Arturo Merzario - Abarth 2000

2º Bateria

  1. Carlo Faccetti - Alfa Romeo 33/3
  2. John Hines - Chevron B-19
  3. Jo Bonnier - Lola T-212
  4. José Carlos Pace - AMS SP 2000
  5. Alex Soler-Roig - Abarth 2000
  6. Nestor Garcia - Lola - 212
  7. John Bridges - Chevron B-19
  8. Eris Tondelli - Chevron B-19
  9. Tite Catapani Lola -210

Classificação Final

  1. John Hines
  2. José Carlos Pace
  3. Jo Bonnier
  4. Carlo Faccetti
  5. Alex Soler-Roig
  6. John Bridges
  7. Nestor Garcia
  8. Eris Tondelli
  9. Tite Catapani

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