quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Bora

Além de ser um famoso vento italiano, Bora é o nome de um dos mais perfeitos carros do mundo. Projetado por Giorgio Giugiaro para a Maserati




Antes de mais nada, a Maserati é uma fábrica pequena e não se encontra aquela organização e rapidez visando altas produções. No momento da visita à fábrica em Modena os dirigentes enfrentavam sérios problemas com os operários; greve era o assunto do dia e o ritmo de trabalho tinha caído bastante. Felizmente a greve não foi total, de forma que foi possível acompanhar a montagem do motor e suspensão do Bora num subchassi que depois é aparafusado ao corpo do carro. Esta tarefa leva 6 horas em média e nesse estágio o aspecto é magnífico: além do motor V8 se pode ver nitidamente a suspensão independente com trapézios articulados, molas espirais e amortecedores concêntricos interligados por uma barra transversal e os freios a disco ventilados.

As carrocerias já vem prontas, pintadas e com o interior; são colocadas sobre rampas e segue-se a instalação do grupo mecânico por baixo. É um serviço vagaroso, mas caprichado. Enquanto assistia a montagem dos Boras os italianos faziam questão de comentar a atuação de Emerson Fittipaldi no Mundial de Formula 1, perguntei sobre a probabilidade da Maserati voltar a competir na Fórmula 1, a resposta foi bem clara; não.
.

Ainda não acredito que acabo de abri a porta do Maserati Bora. O interior é quase todo branco e o assento em forma de concha, uma peça integral. Firmemente instalado me defronto com um painel -veja bem, um painel mesmo e não alguns instrumentos agrupados. Comandado hidraulicamente, o assento para na distância escolhida. Como o encosto é fixo, a posição é apenas muito boa. Um botão regula a pedaleira e outro coloca o volante exatamente onde eu quero. Perfeito. Uma passada nas marchas para ver se são cinco mesmo. Sim, a primeira embaixo e a segunda em cima. Regulo a temperatura do ar condicionado, antes de ligar o motor. Ultima olhada pelo espelho retrovisor e pronto.
.
Giro a chave e escuto o "clic, clic, clic" da bomba de gasolina elétrica. Dou a partida: é um V8 lindo de ouvir. Aqueço cada cilindro com capricho. Logo estou na auto-estrada, pago o pedágio e agora tenho direito a um pouco de diversão. Abro os faróis escamoteáveis e me familiarizo com o lampejador e a buzina que usarei muito. O tempo esta ideal: seco e não muito quente. Piso na embreagem "dura" e engato a primeira com gosto. Acelero o motor até 5000 rpm e solto o pé da fricção. De vez. - 47 Kgm projetam as rodas de 7,5 polegadas para a frente, os pneus radiais 215/70 VR 15 esmagam o asfalto e cantam até uns 60 Km/h. Mais de 300 HP tentam alcançar o tempo que passou. O Bora rabeia cá e para lá, mas de leve e controlado. À 80 Km/h pede a segunda. Engato meio sem jeito e paro em seguida. Não é possivel, isto não existe ! Tudo de novo para ter certeza que estou acordado.
.
É isto mesmo. Uma catapulta romana do nosso século. Desta vez encontro logo a segunda e o Bora desembesta, 130 Km/h significa terceira, entra certinha e a tempestade continua, são mais de 20.000 faíscas por minuto. No fim da terceira ainda não há ruidos de vento, apenas a conversa de 8 cilindros atletas e bem alimentados - 190 km/h. Quarta. Pela última vez sinto um leve tranco que me força contra o assento. Estico até 220 Km/h e passo para quinta. Já estava observando um pequeno Fiat 850 lá adiante quando mudei para terceira; embora estivesse com os farois acesos, o motorista agora resolve ultrapassar um caminhão. Pé no freio, mão na buzina - o outro olha assustado pelo espelho e vê uma Maserati encostada na sua traseira. Sim, meu amigo, eu estava lá atrás - 2923 cm² de superfície frenante dos quatro discos ventilados de 280 mm de diâmetro desaceleram o Bora com facilidade; bastou tocar no pedal do freio e com um "tchit" hidráulico - o sistema esta sob pressão - o carro grudou no chão. Não é piada quando dizem que a aceleração destas máquinas dá a impressão que todo mundo engatou a ré. Num instante perco de vista tanto o Fiat como os caminhões e novamente estou em quinta.
.
Saio da auto-estrada e vou para o Autódromo de Modena. a elasticidade do motor é fantástica - a 1000 rpm em quinta, por volta dos 40 Km/h, o motor responde sem engasgar a qualquer comando do acelerador. Chego ao Autódromo. Não tive sorte, o autódromo estava fechado, soldados ocupavam a pista para treinamento. Encosto no portão e pergunto a um dos vários soldados rodeando o Bora se não é possível entrar. Não. Faço descer eletricamente a janela direita para que eles possam ver melhor o interior. Engato a ré e me pedem para dar "aquela" arrancada. Manobro e outros carros param para me dar preferência. Acelero tudo - o manômetro do óleo pula de 4 para 8 Kg/cm² - e observo pelo espelho o amontoado de soldados se deliciando com o ronco e desempenho desta incrível máquina italiana.


Harmonia técnica e estilistica, a Maserati Bora oferece de sobra. Tão pouco é um carro de corrida disfarçado; enfrenta congestionamentos sem problemas. Tanto na marcha-lenta como em rotação média o V8 trabalha com serenidade, é difícil crer que o motor esteja na posição central e bem atrás dos asssentos. Uma musica pode ser apreciada sem pertubações acústicas. A faixa vermelha começa aos 5500 giros e isto poderia levar à conclusão que o motor não é de construção moderna. Engano total : bloco de alumínio, duplo comando de válvulas por cabeçote e quatro carburadores duplos. O aproveitamento do Bora depende muito da estrada. Antes que eu dirigisse o carro, um dos pilotos de teste da fábrica me levou "para dar umas voltinhas"; na auto-estrada ele aponta para o velocimetro - 270 Km/h - e eu jurava que andávamos a 150. A estabilidade direcional é excelente, o coeficiente de resistência aerodinâmica baixíssimo e nestas velocidades apenas os limpadores de parabrisa deslocavam. Em resumo - a Maserati Bora é um GT por definição - uma bela maneira de se cobrir uma certa distância rapidamente com duas pessoas e bagagem. O passageiro não vai bem acomodado porque o seu banco é fixo. É um carro no qual você entra, senta e sai andando sem problemas. A realização dos sonhos de qualquer apaixonado por automobilismo.

MOTOR: - 8 cilindros em V 90°, eixo de comando de valvulas acionados por corrente, bloco e cabeçote em alumínio, carburadores duplos WEBER 42 DCNF, duas bombas de gasolina eletricas, velas BOSCH 200T 30, potência máxima 310 HP-DIN a 6000 rpm.

DIMENSÕES: - comprimento 4335 mm, largura 1768 mm, altura 1134 mm, distância entre-eixos 2600 mm, peso liquido 1400 Kg.

DESEMPENHO: - Velocidade máxima 280 Km/h, aceleração de 0-100 Km/h em 6,7 segundos.