quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

ENTREVISTA REINALDO CAMPELLO




1982 - Você marcou sua carreira esportiva, pelo menos no início, mais como promotor do que como piloto. Mais tarde, começou a aparecer bem mais como piloto. Agora, volta a misturar as duas coisas. Como é esse processo?

"Eu sempre gostei mais da promoção. Como diretor de uma revenda GM, cansei de investir no automobilismo. Tem muita gente como prova de que eu fui talvez o primeiro cara a pressionar a GM para a criação da Stock-Cars.

Eu acreditava que a GM poderia se beneficiar muito, como vem se beneficiando, e o automobilismo brasileiro ganhar uma categoria bem feita, uma categoria de verdade. Em termos de competição eu apareci menos porque fui sempre muito fiel á marca GM.

Em uma época em que só ganhavam os Maverick, eu insistia nos Opala. Cansei de ser o mais rápido entre os Opala, mas não adiantava porque no final só dava Maverick. Era fácil passar meu pessoal técnico da época (Washington e Caíto) para os Maverick e sair ganhando.

Mesmo assim, preferi insistir nos Opala e, para quem não se lembra, andei muitas vezes na frente do "Môco", que corria de Maverick. Em 1977, mesmo misturado com os Maverick, começou a ascensão dos Opalas.

Atualmente, acredito que sou, em doses iguais, piloto e promotor".

Ninguém mais duvida de suas qualidades de promotor. Você trouxe TV e Rádio para o automobilismo nacional, conseguiu um grande patrocinador que lhe dá apoio irrestrito e agora aparece com o Wilsinho Fittipaldi, um grande chamariz para a categoria. Mas tem gente que ainda duvida de suas qualidades de piloto, principalmente depois que você ficou famoso por apelar o tempo todo para o "tapetão", fazendo em cada corrida um protesto ...

"Sempre apelei para o tapetão porque queria moralizar muita coisa no automobilismo. Todos nós ficávamos inseguros porque os comissários técnicos estavam sujeitos a cantadas e propinas e houve até adendos de regulamento aprovados em cima da hora para beneficiar esquemas fortes de outras fábricas.

Acho que eu agi certo e conseguimos eliminar muita coisa ruim. O Affonso Giaffone fez o mesmo que eu e ficou escondido por causa de sua própria personalidade, mais introvertida que a minha. Hoje, por exemplo, na Stock-Cars a gente tem até um regulamento de reclamações.

Na última prova, três carros foram sorteados para a vistoria e ninguém chiou, tudo funcionou direitinho. O pessoal da nossa categoria já tem responsabilidade bastante para saber o que está fazendo. Um dos sorteados foi o Wilsinho. Imagina, quem prepara o carro dele é a minha equipe. Então, se ele é pego correndo fora do regulamento, pode até me processar por indiretamente denegrir sua imagem.

De modo geral, acho que melhorou muita coisa e existe rigidez por parte dos comissários. Pegou fora do regulamento, fica seis meses sem correr, no mínimo. E todo mundo está preparado para os protestos também"

Agora voltamos ao Campello promotor. Que idéia foi essa de duas provas em Portugal?

"Eu acho que tenho estrela forte. Tive épocas de vacas magras e soube suportar. Agora, tudo começa a dar certo de novo.

Estas duas provas de Stock-Cars em Portugal, em julho, chegam no momento certo para o nosso país. Haveria melhor oportunidade de mostrar, a 260 Km por hora, toda a nossa tecnologia do álcool combustível?

Até o governo deve se sensibilizar. Afinal, o álcool é criação nossa e no momento existe uma forte campanha para recuperar a imagem deste produto e a gente vai dar, na certa, a maior força. Já tenho um monte de recortes de jornais e revistas de vários países falando destas duas provas e dos carros a álcool".

Mas como surgiu a oportunidade?

" Surgiu quase sem querer. O "PQP", Pedro Queiroz Pereira, que é um corredor e também um idealista, tinha muita vontade de ver os Stock-Cars em Portugal. Sabendo da minha faceta de promotor, veio falar comigo e eu fui a Lisboa fazer os contatos.

Havia duas opções. Ou a GM encampava e punha dois ou três departamentos para tratar de tudo ou passava para mim. Então, estou nessa como promotor, não como representante dos pilotos.

Entrei nessa  pela grande promoção e também porque não vou trabalhar de graça, vou faturar algum. Como empresário, acredito que estas corridas vão abrir um campo enorme. No ano que vem a gente pode correr em Jarama, depois na Inglaterra e por aí afora, sempre mostrando a capacidade de nossos técnicos e pilotos. 

Acho a Stock-Cars competitiva e um bom espetáculo, aqui ou em outro lugar qualquer do mundo, e para isso conto com o apoio dos pilotos, equipes e patrocinadores".

E como a GM e a CBA vêem esta sua promoção em Portugal?

"A GM achou espetacular, deu o maior apoio e só não pôde bancar os 60 milhôes de cruzeiros que vão custar estas duas provas.

Por isso me facilitou as coisas e conseguiu transporte grátis para os 25 carros, vinte para brasileiros e cinco para os pilotos portugueses. Os organizadores de lá já assinaram contrato para hospedagem e viagem para três pessoas por carro.

Agora só falta apoio das agências de publicidade para vender a prova, que vai ser transmitida pela televisão. Falta também quem patrocine pneus e 30 mil litros de álcool que temos de levar daqui".

E a CBA?

" O Cavalcanti também achou tudo sensacional. Por motivos políticos, preferi colocar a CBA fora do início das negociações. Imagina se ele anuncia e dá tudo errado? Ia ser mal para a própria CBA.

O Cavalcanti tem convite para quatros pilotos daqui correrem em Daytona na mesma época. Mas não acredito que os organizadores dêem carros bons para os brasileiros. Porque, se derem carros de ponta, tenha certeza de que nossos pilotos vão brigar por uma vitória".

Falando em Cavalcanti, o que você achou do primeiro ano de administração dele?

" Acho que ele ainda é obrigado a manter esse monte de categorias e provas do nosso automobilismo, a maioria falida, deficitária, por motivos políticos. Afinal, ele é eleito pelo voto de cada federação.

Não existe patrocinadores e dinheiro para que todas elas sejam competitivas, atrativas e bem disputadas. Para mim, deveria haver somente uma categoria turismo muito boa para pilotos muito bons e uma de monopostos, com o mesmo enfoque. e o resto, seria o resto, para estreantes e novatos".

Quem você acha que são os cinco melhores pilotos do Brasil?

" Ingo Hoffmann, Artur Bragantini, Paulo Gomes, Toninho Da Matta e eu ".