quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

STOCK-CARS EM PORTUGAL



Torneio Grão Pará: Primeira Etapa

 João Carlos "Capeta"  recebe a bandeirada

O Circo da Stock-Cars deslocou-se até Portugal para disputar as duas etapas do Troféu Grão-Pará Hotel Group, no Autódromo de Estoril, dias 3 e 18 de julho 1982.

Quando os quase 90 participantes do Circo da Stock-Cars embarcaram para Portugal na noite de segunda-feira, 28 de junho, a idéia que se tinha era que tanto os 20 carros quanto os quatro containers gigantes recheados de peças já estavam no Estoril, somente aguardando a chegada de mecânicos e pilotos.

Mas, a verdade era outra. Por obra de um "desmiolado" comandante da marinha mercante, a preciosa carga acabou aportando na cidade francesa de Marselha e as negociações para que fosse embarcada por via terrestre para Portugal acabaram consumindo de Reinaldo Campello e o incansável Pedro Queiroz Pereira, o "PQP", algumas noites de sono.

Nem containers nem carros chegavam, o dia da prova se aproximava e a tensão, pelo menos entre os organizadores, já era muito grande.

Consultas telefônicas, buscas dignas de um serviço secreto e só surgiam informações esporádicas alertando que, a cada posto policial, toda a carga e sua documentação eram checadas.

Finalmente, na madrugada do dia 2 chegaram os containers. Um dia antes da prova, menos de 24 horas, bem no meio do jogo Brasil x Argentina, a grande festa: com incrível barulho, finalmente os portugueses mantinham o primeiro contato, visual, com as estrelas do espetáculo. Parados no meio da pista, em meia hora os motores já roncavam.

Ficou decidido então que, na manhã da corrida, todos teriam cerca de quatro horas para os acertos de suspensão e motor, depois 45 minutos de classificação oficial e, finalmente, às 5 horas da tarde, a prova.

Nestas quatro horas de treino o destaque ficou para o incrível acidente de Márcio Canovas, com o carro que pertencia a "Bolão". Ao errar o ponto de frenagem no final do Retão, Márcio bateu forte, cerca de 160 Km/h, na curva mais perigosa do circuito, a Curva Um.

Bateu no guard-rail e chicoteou para dentro, capotando e caindo de cabeça para baixo. Além do susto e muitas dores musculares, perda total do carro alugado. E, muita tristeza: "Vim de tão longe para fazer isto ? É demais. Vou ver se consigo um português para correr com os stickers do meu patrocinador". desabafava o piloto.

No final dos treinos, depois que Reinaldo Campello fundiu o motor de seu carro e pouco andou, o mais rápido era Lara Campos com 1m10,19s, seguido de João Carlos Peixoto de Castro, o "Capeta" com 1m10,21s e Paulo Gomes com 1m10,23s. O português mais rápido era Manoel Fernandes, com 1,11,40s, seguido de Pedro Queiroz Pereira, "PQP", Rufino Fontes e Pedro Villar.


"Capeta" e Fabio Sotto Mayor


A cada volta da classificação, um maravilhoso sistema de computadores fornecia em diversos monitores, iguais aos da Fórmula 1, as marcas obtidas.

Então, não foi surpresa constatar a pole de "Paulão" com 1m09,63s. Como se já esperasse este resultado muito superior aos tempos que havia obtido anteriormente, ele não se mostrava nem ao menos animado: " Se eu ando forte no Brasil por que não haveria de andar aqui ? Ontem eu não treinei e hoje, só carburei, alinhei o carro e, depois, mandei a bota ...".

Empolgado estava mesmo "Capeta", seu companheiro de equipe e segundo mais rápido: " Não te falei? Vou sair daqui com o pseudônimo de "Leão do Estoril" . Só não cravei o "Paulão" porque ele é primeiro piloto da equipe. O carro está jóia e só troquei as molas e alinhei. Na corrida, vou colar no "Paulão" porque aqui uma ultrapassagem é muito difícil ".

Ingo Hoffmann, o terceiro mais rápido, vivia problemas diferentes.

No dia anterior, a falta de profissionalismo de seu único mecânico fez com que o preparador, Adônis, trabalhasse praticamente sozinho. No Hotel, completamente embriagado, o mecânico jazia em lastimável estado. E olha que o trabalho não foi pouco.

Sem saber como ou por que, o carro chegou a Portugal com o câmbio e o cardã quebrados. Para completar, depois dos treinos, Edmar Ferreira veio pedir de volta os amortecedores emprestados antes da classificação. Foi de dar desespero: " Sem estes amortecedores o carro vai ficar um lixo. Mas, vou colar nos dois da frente e juro que ninguém me passa ".

Com poucas voltas, em virtude do câmbio quebrado, Denísio Casarini era o quarto mais rápido, seguido de Alencar Jr. , reclamando do motor: " Tenho um melhor que só vou usar na próxima corrida ". Fabio Sotto Mayor, Edmar Ferreira insatisfeito com o equilíbrio do carro que chacoalhava muito e Lara Campos, que bateu de leve no guard-rail, mas furou o radiador de óleo.

Depois de uma semana de sol e calor, na tarde de sábado escureceu e houve ameaça de chuva antes da largada. Talvez por isso, apesar de forte divulgação, o movimento de bilheterias acabou inferior às expectativas.

Em compensação, os esportistas portugueses nos deram uma verdadeira aula de organização, mobilizando cerca de 430 pessoas.


Reinaldo Campello e Ingo Hoffmann


Minutos antes choveu forte, mas exatamente às 17 horas os carros largaram. Enquanto o cheiro forte do álcool chegava até às muretas das arquibancadas, todo muito queria encostar nos carros, passar a mão no bocal do tanque e cheirar o líquido, Paulão pulava na dianteira.

Logo na primeira volta ficou a impressão de que Ingo, que vinha em terceiro, não teria problemas para ultrapassar "Capeta". Mas, logo depois que Denísio Casarini dava a primeira rodada, para depois recuperar-se e fazer grande corrida, Sidnei Francello proporcionou a nota azeda da prova.

Segundo ele, a barra de direção quebrou na entrada da Curva Um, exatamente no local onde horas antes Márcio Canovas iniciara a trajetória de sua capotagem. Sidnei também capotou, mas bem mais violentamente: passou por cima da barreira de pneus, do guard-rail, arrebentou as telas de proteção e uma placa promocional e atingiu dois espectatores e um guarda.

Com o piloto, felizmente, nada aconteceu mas nas vítimas do atropelamento foram constatadas várias fraturas.

Então, ambulâncias na pista, durante 15 minutos os bandeirinhas acenavam bandeiras amarelas com muita pouca gente obedecendo. Para Armando Pinto, diretor da prova,  os brasileiros guiam bem e deram espetáculo, mas são desobedientes e inconsequentes ".

Ainda no início de todo o tumulto, Ingo atropelou um pedaço de madeira arremessado longe pelo carro de Franchello e teve um pneu furado. Quando voltou, andou forte até abandonar em definitivo sem pressão de óleo: " Se não furo o pneu esta corrida era minha. Eu já tinha o Capeta sob controle e tenho certeza de que passaria o Paulão ", afirmava Ingo sorrindo, coisa que raramente acontece.

Bem, como nada disso acabou acontecendo, Paulão acelerou forte até a metade da prova, garantiu a liderança e venceu com sobras. Capeta foi o segundo, mas levou uma violenta canseira de Fábio Sotto Mayor, que o pressionou durante os 60 minutos da prova.

Reinaldo Campello foi o quarto, seguido de Wilsinho Fittipaldi Jr., com Pedro Quieroz Pereira em sexto. Em termos de espetáculo, nota 10 para a performance de "PQP" que, com um bom motor cedido pela equipe Smirnoff poderia ter sido um tranquilo quarto lugar.

Outra boa impressão ficou para o desempenho dos portugueses Rufino Fontes, Manuel Fernandes e Pedro Villar. Por extrema infelicidade nenhum dos três terminou a prova, com problemas mecânicos. Mas mostraram uma raça que normalmente a gente não encontra.

Na última volta, o último acidente do dia. Lara Campos, que no início da prova mantivera tranquilo a quarta posição, a partir dos últimos 15 minutos passou a ser fortemente pressionado, primeiro por "PQP" e depois por Campello e Wilsinho. No desespero, tentando manter a posição com o motor bastante deteriorado, não foi possível corrigir uma entortada que acabou provocando violento choque com o guard-rail.

João Carlos "Capeta" marcou a melhor volta da prova, com Paulão largando na pole e vencendo a prova: vitória completa para a equipe.

Torneio Grão Pará - Primeira Etapa:

  1. Paulo Gomes / 51 voltas, média de 147,898 Km/h
  2. João P. Peixoto de Castro "Capeta"
  3. Fábio Sotto Mayor
  4. Reinaldo Campello
  5. Wilson Fittipaldi Jr.
  6. Pedro Queiroz Pereira "PQP"
  7. Alencar Júnior
  8. Jorge Cecílio
  9. Luís Lara Campos
  10. Manuel Fernandes


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