sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Watkins Glen 74


1974 - Treinos para o Grand Prix USA , Emerson, Regga e Jody na disputa pelo título mundial
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A tranquilidade com que Emerson Fittipaldi desceu de seu carro no final dos treinos de ontem, após obter o 8º tempo, 12 centésimos de segundo abaixo de Clay Regazzoni, o 7º colocado, leva a crer que ele está obedecendo a um esquema cuidadosamente planejado pela McLaren para provocar a mesma surpresa do último dia de treinos do GP do Canadá. Ontem em Watkins Glen, ele também usou um motor velho, testou pneus e apenas preparou o carro para os treinos de hoje, enquanto Clay Regazzoni e Jody Scheckter, mesmo forçando seus carros ao máximo, não conseguiram se colocar entre os primeiros e ainda acabaram enfrentando problemas mecânicos. As surpresas foram Mario Andretti em 1º lugar, com um carro norte-americano Parnelli-Ford e José Carlos Pace em 3º lugar.
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Como aconteceu no Canadá, o pessoal da Equipe Ferrari percebeu a tranquilidade de Emerson ontem depois dos treinos e começou a ficar preocupada com o comportamento dos mecânicos da equipe McLaren, que levaram calmamente o carro para trás dos boxes, acompanhados por Emerson e Teddy Mayer, sorridentes e conversando animadamente. Além disso, a Ferrari tem um motivo muito sério para se preocupar, pois Clay Regazzoni nem conseguiu treinar até o fim, por quebra do motor de seu carro, que deverá ser trocado para os treinos de hoje. A McLaren também terá que trocar o motor do carro de Emerson, mas com a diferença de que isso já fazia parte de um plano elaborado pelo piloto.
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Jody Scheckter conseguiu se colocar à frente de seus dois rivais na luta pelo título mundial, mas também enfrentou uma série de problemas mecânicos, que deixaram intranquilo os dirigentes da Equipe Tyrrell, pois Emerson, sem qualquer problema e usando um equipamento que não é o mais forte de sua equipe, conseguiu ficar a apenas 12 centésimos de segundo de Regazzoni e a 38 centésimos de Scheckter. O único problema que poderia pejudicar a McLaren na sua luta contra a Ferrari, que era o frio intenso de Watkins Glen, também foi superado ontem, porque durante os treinos a temperatura passou de zero para 14 graus centigrados. Com isso, a pista secou completamente e Emerson acha fácil melhorar bastante o rendimento de seu carro: "Com o que vai ser feito durante a noite, poderei andar bem mais rápido e até pensar na pole-position, porque os dez primeiros desse primeiro treino estão muito próximos uns dos outros".
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A Equipe McLaren está tomando cuidados extremos com o carro de Emerson, tendo sido construida uma grande estufa de madeira dentro do box, equipado com um aquecedor elétrico onde são guardados todos os pneus que devem ser colocados no carro. Além disso, o sistema de radiocomunicação utilizado nos treinos de ontem por Emerson e Hulme fez com que os pilotos perdessem menos tempo nos boxes, pois, antes da parada, os mecânicos já sabiam o que deviam fazer. E por toda a tranquilidade demonstrada, é possível que Emerson consiga colocar-se na frente de Regazzoni com pouco tempo de treino hoje, seguindo a mesma tática usada no Canadá: esperar o momento em que a pista estiver mais livre, para andar mais rápido. O carro já está acertado para isso, depois de muito tempo perdido nos boxes para troca do discos de freio dianteiros e regulagem de aerofólio. Os pneus escolhidos por Emerson foram os mais macios, que voltaram a ser fabricados pela GoodYear para essa corrida, depois de um ano.
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Mario Andretti confirmando o resultado dos testes feitos no circuito há uma semana, estabeleceu o primeiro tempo dos treinos, supreendendo aos que não esperavam ver o carro norte-americano tão bem acertado logo na sua segunda corrida de Formula 1. O rendimento de todos os carros durante o treino foi prejudicado pela quebra do motor da Ferrari de Regazzoni, que espalhou muito óleo pela pista. Mas o único acidente foi o de Jean-Pierre Beltoise, que destruiu toda a frente de sua BRM P-201 ao bater fortemente contra o guard-rail. Beltoise saiu sozinho do carro, mas sentou-se no guard-rail porque sentia fortes dores no joelho, e mais tarde, atendido no ambulatório médico do autodromo, soube que sofrera uma luxação que poderá até afastá-lo da corrida. Entretando, Beltoise afirma que pretende correr amanhã, e comenta-se no meio automobilistico que o piloto francês pretende encerrar a sua carreira após o Grande Prêmio dos Estados Unidos, o que se espera também de Dennis Hulme e Graham Hill, embora nenhum deles confirme a intenção de abandonar as pistas.
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A BRM de Beltoise com a frente destruída
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Hoje, o treino começa às 11:30 da manhã e pelo comportamento de Emerson, pode-se esperar uma boa surpresa na sua classificação para a largada. Ao sair do autódromo ontem à tarde, ele demonstrava a mesma tranquilidade, trazia o mesmo sorriso e dizia quase as mesmas palavras que utilizara no prmeiro dia de treinos do Canadá: "Acho que fomos bem no treino inicial, pelas circunstâncias em que treinamos, gastando um bom tempo para acertar bem o carro".
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Clay Regazzoni muito preocupado em acertar seu carro, chegando a pegar uma chave para ele mesmo tentar regular a barra de direção, os dirigentes aborrecidos com o fato de Niki Lauda ter feito melhor tempo que seu companheiro, provocando comentários de que o austríaco poderia deixar a equipe, dando lugar a Jacky Ickx, Luca de Montezzemolo, assessor de Enzo Ferrari, chamando Emerson de "homem de muita sorte". Tudo isso serviu para mostrar que a Ferrari não está com um bom ambiente para a corrida de amanhã, com dirigentes, pilotos e mecânicos demonstrando um certo receio com relação ao sucesso da equipe na decisão pelo título. Ao final dos treinos de ontem, os mecânicos da Ferrari voltaram a repetir a frase dita muitas vezes durante o Grande Prêmio do Canadá: "Emerson tem muita sorte". Embora as duas Ferraris tivessem conseguido melhores tempos que Emerson, toda a equipe italiana demonstrava preocupação, não só com o carro de Regazzoni, apesar de ter melhorado de rendimento ao final dos treinos, mas também com a tranquilidade demonstrada por Emerson.
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Somente Luca Montezzemolo, assessor de Enzo Ferrari e uma espécie de relações publicas da equipe, tentava disfarçar sua preocupação, fazendo elogios as atuações do piloto brasileiro. Mesmo assim, ele não conseguia esconder um certo receio pelo que poderá acontecer nos treinos de hoje, e deixava transparecer que espera uma nova surpresa por parte da McLaren, assim como aconteceu no Canadá, quando Emerson não conseguiu boa colocação no primeiro treino, mas obteve a pole-position no segundo. Outro fato que deixou os dirigentes italianos bastante aborrecidos foi Niki Lauda ter conseguido melhor tempo que Regazzoni. Comenta-se, inclusive que devido a discordância de pontos de vista, Niki Lauda se afastaria da Ferrari para dar lugar a Jacky Ickx, que no ano passado correu pela equipe italiana, passando este ano para a equipe Lotus.
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Enquanto isso, Clay Regazzoni, o maior rival de Emerson na disputa pelo título, mostrava-se muito agitado ao final da primeira sessão de treinos. Tomando café bem quente, ele fez questão de permanecer ao lado de seu carro, orientando os mecânicos e discutindo com os dirigentes de sua equipe sobre os acertos que deveriam ser feitos. Em dado momento, chegou a pegar uma chave de fenda para regular, ele mesmo, a barra de direção de sua Ferrari, que fazia o carro flutuar bastante em algumas curvas do circuito. " Todos levam vantagens sobre mim, pois já testaram e acertaram seus carros na semana passada. O meu foi destruido no acidente e agora temos de começar tudo novamente." Era isso que ele dizia para os jornalistas, como desculpa para o sétimo lugar obtido ontem.
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A grande atração nos boxes da Tyrrell, ontem, não era o piloto sul-africano Jody Scheckter, o terceiro candidato à conquista do título, embora com menores chances que Emerson Fittipaldi e Clay Regazzoni. As maiores atenções eram para Jackie Stewart, conselheiro da equipe e que está em Watkins Glen também como comentarista da tevê ABC dos Estados Unidos.
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Essa indiferença de dirigentes e mecânicos para Jody Scheckter pode ser, na opinião de alguns especialistas, o começo de uma grande surpresa por parte da Tyrrell, não só nos treinos de hoje, mas também na corrida de amanhã. Wilson Fittipaldi, pai de Emerson e cronista automobilístico há mais de 30 anos, o piloto sul-africano pode surpreender a todos, que até agora só se preocuparam com Emerson e Regazzoni. " A partir do momento em que existam possibilidades matemáticas para um piloto ganhar um título, deve-se levá-lo seriamente em consideração. Muitos não se lembram do que aconteceu em 1964, quando a situação entre Hill, Surtees e Jim Clark era mais ou menos a mesma, com Hill levando uma nítida vantagem sobre eles. Na última prova do campeonato, no México, Hill vencia com tranquilidade, mas bateu, quebrou as duas pernas e perdeu o campeonato para Surtees". falou o Barão.
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O piloto sul-africano, muito tranquilo, ontem, parecia não se preocupar com sua classificação no Mundial desse ano. Para ele, considerado um novato na Formula 1, ficar em segundo ou mesmo em terceiro já será excelente: "Numa temporada tão disputada como essa, em que três pilotos podem conquistar o título na última prova, o terceiro lugar já está muito bom. E no próximo ano, a disputa deverá ser ainda maior, já que entraram duas novas equipes bastante competitivas, a Penske e a Viceroy e deverão entra outras, como a dos Fittipaldi." disse o sul-africano.
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Pace não quer ajudar ninguém
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"Eu torço por uma vitória do Emerson, mas, se durante a corrida, os dois estiverem atrás de mim tentando a ultrapassagem, eu vou dar lugar para os dois ao mesmo tempo. Eu acho que uma disputa como essa é muito bonita, para ser definida às custas de um golpe sujo de qualquer outro piloto."
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Essa é a forma imparcial com que José Carlos Pace encara a luta entre Emerson e Regazzoni pelo título mundial, embora admita que, "para o automobilismo brasileiro, é muito importante uma nova vitória do Emerson no campeonato." Entretando, muitos julgam difícil que aconteça uma ultrapassagem de qualquer um desses pilotos sobre Pace durante a corrida, pois ele está sendo considerado um dos prováveis ganhadores do Grande Prêmio dos Estados Unidos, ao lado de Reutemann, Mario Andretti e Jody Scheckter.
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No intervalo das duas sessões do treino de ontem, Pace já estava satisfeito com o comportamento de seu carro. Mesmo naõ tendo conseguido um bom tempo, em consequência do intenso tráfego da pista, ele sentiu que o carro estava em perfeitas condições, e na segunda sessão encontrou a oportunidade que esperava para fazer a sua melhor volta. A apenas dois centésimos de segundo de Carlos Reutemann, seu companheiro de equipe. "Eu não pude conseguir melhor classificação porque não sobraram pneus macios iguais aos de Reutemann e do Andretti."
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Paul Newman tevê só pra ele
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O fato de o ator Paul Newman, um apaixonado do automobilismo, ter comprado os direitos da recepção da imagem em circuito fechado, já que a corrida não será transmitida diretamente para os Estados Unidos, e a esperança de Bob Kelli, um dos organizadores da prova, de um público de quase 200 mil pessoas, mostram o grande interesse que a corrida de amanhã está despertando.
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Como não poderá ir a Watkins Glen, Paul Newman telefonou ontem à noite para o Brasil, comprando da Rede Globo de Televisão o direito de ver, em casa, em circuito fechado, toda a transmissão da corrida. Enquanto isso, uma agência de turismo de Nova York pedia à comissão organizadora da prova uma reversa para 10 mil pessoas, a maioria brasileiros e italo-americanos.
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Palpite do Stewart: "Por méritos e qualidades deverá vencer o Emerson, mas tenho um palpite, sem explicação, de que o Regazzoni será o campeão". Mesmo tratando-se de um palpite, ou "uma intuição pessoal", como ele próprio afirma, a opinião é de Jackie Stewart, e por isso, muito respeitada entre as pessoas que estavam nos boxes ao final dos treinos de ontem. Ele acredita que os dois pilotos não vão forçar seus carros, e que deverão lutar pela quarta colocação, sem se importar com a disputa da vitória nessa prova, para qual ele também tem os seus favoritos: "Reutemann, Pace, Hunt, Andretti e o Jody. De um desses pilotos sairá o vencedor desse Grande Prêmio."
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Além de assessor da equipe Tyrrell, Jackie Stewart fará os comentários para a American Broadcasting Corporation, que vai gravar a corrida para transmissão em videotape, e por tudo o que se viu nos treinos de ontem, já sabe o que vai dizer no rápido comentário, antes do treino de hoje, a respeito da disputa entre Emerson e Regazzoni pelo título mundial:
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"O Emerson tem mais experiência, talento, calma e já ganhou um campeonato. Isso facilita as coisas para ele, que merece ser campeão novamente, pelo que fez durante a temporada. Mas tenho a impressão de que o Clay Regazzoni terá melhor sorte amanhã na corrida"...


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sábado, 18 de setembro de 2010

Nílson & Bird Clemente

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1973 - 500 Quilômetros de Interlagos - 9 de setembro, 27 carros de série competindo no veloz Anel Externo vitória dos Irmãos Clemente
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Podium de 1973: (esq.) Affonso Giaffone Jr, Marivaldo Fernandes, Nílson Clemente, Bird Clemente, Luizinho Pereira Bueno e Tite Catapani.
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Três horas, dezessete minutos e cinquenta segundos foi o tempo gasto pelo Maverick da Equipe Dropgal-Ford da dupla Nílson e Bird Clemente, para completar a longa viagem dos 500 Quilômetros de Interlagos. Eles não comandaram a maioria das 156 voltas, primazia que ficou para o Maverick da Equipe Hollywood, com Luizinho Pereira Bueno e Tite Catapani, mas mantiveram a média de 152,714 Km/h suficiente para na base da regularidade e com um mínino de tempo perdido nos boxes, conquistarem uma vitóra espetacular.

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Na 14º edição dos 500 Quilômetros de Interlagos, essa tradicional prova do calendário nacional, sofreu muitos problemas, principalmente de ordem política, que chegou até a afastar um patrocinador da corrida, causando inteiro prejuízo ao clube organizador. Aliás, os 500 Km há anos tem sido disputado em caráter internacional, e desta vez nem isso pôde acontecer. Embora Angelo Juliano, diretor da prova, tenha mantido contato na Europa para trazer vários Porsches, Alfas, Fiats, Ferraris ..., a situação política da CBA prejudicou a vinda de pilotos e equipes do exterior, por falta de garantias de política interna da Confederação Brasileira.
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A parte da competição em si também foi pontilhada de incidentees que tiraram um pouco do brilho de tão importante prova. No período de treinamento quebrou mais da metade dos carros inscritos e quem esperava um duelo de 70 carros, para conseguir uma vaga entre os 33 previstos pelo regulamento, ficou decepcionado. Somente 25 carros largariam no dia 9 de setembro para as 157 voltas pelo anel externo da pista de Interlagos, com 3.207 metros para cada volta.


O Maverick de Tite Catapani e o Charger de José Martins

Também houve confusão com inscrições de pilotos de outros Estados, pois, a princípio, o regulamento falava em carros da Divisão 3, mas na semana da prova foi mudado, para se aproveitar os mesmos carros da Divisão 1 que haviam corrido nas 25 Horas com inteiro sucesso. Angelo Juliano reuniu todos os pilotos, momentos antes da largada, para uma orientação quanto às ultrapassagens: "este conselho inicial é muito importante para os carros da categoria de motores até 2 litros, que sempre serão ultrapassados pelos de maiores cilindradas. O uso do espelho retrovisor é essencial para permitir as passagens com maior segurança dos carros mais potentes". Luizinho Pereira Bueno ajudou na explicação: "É bom que, sempre que for possível, a preferência para a tomada de curva seja para os carros mais fortes, pois será muito difícil segurá-lo no freio, se algo errado acontecer numa tomada de curva errada, principalmente porque são muito pesados". Luizinho ainda comentou: "Na saída dos boxes, depois de um reabastecimento, todos devem ir até a reta, por dentro, bem por dentro, nas curvas 1 e 2, pois assim quem vier vindo já faz o cálculo da tomada por fora".
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Equipe Caltabiano foi 3º com Marivaldo Fernandes e Affonso Giaffone Jr
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No pelotão de largada, os cinco primeiros eram Maverick e Chico Landi foi quem comandou o carro-madrinha, para a volta de apresentação no estilo Indianápolis. A posição de honra, supreendentemente, ficou para uma dupla desconhecida formada por Paulo Costa e Dante de Camilo , este, piloto da época dos DKW. No pelotão da frente os pilotos que largaram foram Dante de Camilo, Nílson Clemente e Luizinho Pereira Bueno.
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Rapidamente se passaram as primeiras voltas com a liderança de Luizinho, seguido de Nílson, Marivaldo, Dante, Luiz Landi, Fabio Crespi, José Martins, Pati Jr, Olivier Jones, Luigi Giobbi, Bob Sharp...Para os primeiros colocados o ritmo da prova começa por 1'14" para cada volta. Depois de 19 quilômetros de prova (6 voltas) surgem, no Retão, as primeiras ultrapassagens pelos retardatários, começando o que se chama de trânsito na pista. Com 7 minutos de corrida, a diferença de Luizinho para Nílson se fixa em 3 segundos, vantagem que iria se manter por longo tempo. No princípio dos 500 Quilômetros o melhor espetáculo proporcionado foi a disputa entre Nílson Clemente e Luiz Landi, pelo segundo lugar. Os dois correram muitas voltas lado a lado. Com apenas 13 minutos de prova, entra nos boxes o Dodge Dart de Pati Jr. (escorregou uma braçadeira e soltou-se uma mangueira de água). Todavia o maior problema desse Dodge Dart era a fraqueza dos amortecedores, que com 7 voltas perderam sua ação.
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Com 20 minutos de prova, notamos a presença no autódromo de um grupo de políticos do automobilismo paulista, tendo seu ex-presidente à frente. Reinaldo Motta trouxe consigo o pretendente ao cargo de presidente da CBA, o gaúcho José Carlos Steiner. O presidente destituído da FPA, e que naquela altura dos acontecimentos queria continuar mandando, fez questão de anunciar, pelos alto falantes do autódromo, ao público presente, a presença do presidente em exercício (para eles) da CBA. Foi mais uma tentativa de demonstração de força política, fracassada, pois não teve nenhuma repercussão; pilotos, equipes e público, todos estavam preocupados com a corrida e não com as fofocas de bastidores.
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Trinta minutos de prova: com 27 voltas, Luizinho ia mantendo a ponta, seguido de perto por Nílson Clemente. Ambos já corriam a grande distância dos demais: Luiz Landi (Maverick), Marivaldo (Maverick), Luigi Giobbi (Opala), Bob Sharp (Opala), Dante de Camilo (Maverick), José Martins (Dodge Charger), Fabio Crespi (Opala) e Aloysio Andrade (Dodge Dart).
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Grande "pega" que durou várias voltas entre Luizinho (11) e Bird (20)
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A essa altura parou nos boxes o Dodge Charger de Olivier Jones com quebra do eixo da engrenagem da distribuição. Quinze minutos depois foi o Charger de José Martins que abandonou com motor lançado. Com 52 minutos de prova, foi para o box da Dropgal o carro de Nílson Clemente. Enquanto os mecânicos medem a capacidade dos pneus para rodar mais, o tanque é reabastecido. a operação demorou 30 segundos e Nílson continuou tocando.
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Dezoito minutos depois é a vez do Maverick de Luiz Landi reabastecer. Agora já era enorme a expectativa pela parada do líder da prova no box da Hollywood. Com 1 hora e 12 minutos de competição, Luizinho pára. Os técnicos da Pirelli ordenam a troca do pneu dianteiro direito ( em provas desta natureza, sempre com curvas para a esquerda, o pneu mais exigido pela suspensão é o direito dianteiro, sendo o único a necessitar de maiores cuidados). Depois de 1 minuto e 17 segundos de boxe, Luizinho continuou. O chefe da equipe, Anísio Campos, depois que o carro voltou à pista, comentava: "Todo mundo parou, mas o único que precisou perder tempo para troca de pneu, até agora, foi o nosso carro". Todavia, o pneu substituído já estava mesmo muito gasto, oferecendo uma grande possibilidade de risco para o piloto. Na primeira parada de Bob Sharp, com 1 hora e 15 minutos de corrida, o piloto carioca já comentava com seu pessoal: " O motor desse Opala já perdeu a potência".
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Depois de duas horas de corrida, Nílson Clemente lidera a prova, com 92 voltas, seguido por Luizinho, na mesma volta; depois vinham Luiz Landi (91 voltas), Luigi Giobbi (91 voltas), Marivaldo Fernandes (91 voltas) Dante de Camilo (89 voltas) Bob Sharp (88 voltas) Aloysio Andrade Filho (86 voltas) Fabio Crespi (86 voltas) e Edgar Mello Filho (85 voltas).
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Exatamente com 2 horas e 4 minutos de prova, pára nos boxes o carro da Dropgal-Ford que liderava. A Equipe de Grecco perdeu apenas 1'20" para reabastecer até a boca, trocar Nílson pelo irmão Bird e colocar novo pneu direito dianteiro. Quando Bird entrou na pista, uma coincidência fez com que o Maverick de Luizinho estivesse passando pela Curva 1. Assim os dois começaram a correr emparelhados e o espetáculo ganhou ritmo espetacular, fazendo com que o público de Interlagos revivesse uma gloriosa fase desses dois pilotos há 10 anos mais ou menos, no tempo da Willys.
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A torcida ficou de pé para prestigiar o único bom duelo depois de 327 quilômetros de corrida, com uma intensa vibração pelos dois grandes pilotos, correndo lado a lado por todo o circuito. Todavia, o carro de Bird não deveria parar mais até o final da prova, enquanto que o da Equipe Hollywood ainda iria necessitar de uma parada em busca de mais gasolina. Com 2 horas e 27 minutos de prova, o Maverick de Luizinho pára e troca o pneu dianteiro e traseiro do lado direito, coloca mais gasosa e Tite Catapani começa sua corrida depois de uma parada de 1'38"s.
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Pela ordem: Bird, Pati Jr ,Aloysio Andrade Filho e Luizinho

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A essa altura, Bird Clemente passa a comandar os 500 Quilômetros, já com 120 voltas completadas. Atrás dele vem Antonio Castro Prado (em dupla com Luiz Landi), Tite Catapani, Affonso Giaffone (em dupla com Marivaldo Fernandes), Fernando Vasconcellos (em dupla com Luigi Giobbi), José Carlos da Silva (companheiro de Bob Sharp).
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A diferença de Bird para Tite era de 37 segundos, mas uma rodada do piloto de Limeira, na Curva 3, fez essa diferença subir para 1'2"s. Daí para a frente a diferença começou a aumentar a cada volta e a equipe de Grecco ficava cada vez mais confiante na vitória. O único medo era acabar a gasolina nas últimas voltas. Como isso não aconteceu, os irmãos Clemente bisaram a vitória das 25 Horas e deram à Ford uma consagradora imagem para o Maverick, vencendo em poucos dias uma dura prova de resistência e uma outra de velocidade pura. A melhor volta ficou com Luis Pereira Bueno que virou em 1'13"s à média de 157,721 Km/h. Os terceiro e quarto lugares também ficaram com carros Maverick, ambos com uma volta a menos que o vencedor, Marivaldo/Giaffone e Landi/Castro Prado respectivamente.
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No final da prova, o resultado oficial ficou prejudicado pelo elevado número de protestos. O preparador Chico Landi já havia depositado, de véspera, a importancia necessária para a abertura de motores dos quatro primeiros colocados, exceção é lógico, feita para o carro do seu filho, que foi quarto colocado. Uma inocência do velho Chico, pois duvidamos que equipes como a Dropgal-Ford e Hollywood, que disputaram a vitória de ponta a ponta, tivessem coragem de participar com carros fora do regulamento. Todavia, a direção de prova viu-se obrigada a desclassificar, o Opala da Equipe Itacolomy de Luigi Giobbi/Fernando Vasconcellos, que se classificou em 5º lugar, e os VW de José Luis Nogueira/Paulo Volpi (17º lugar) e Saul Camargo/Dario Paolozzi (18º lugar), que não permitiram a vistoria técnica, depois da prova nos seus veículos.
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Na classe de carros com motores até 2000cc de cilindrada, a vitória ficou para outro carro da Ford, o Corcel de F. Gondin/Paulo Caetano que chegaram em 11º na geral com 133 voltas completadas.
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O Maverick 4º colocado da dupla Luis Landi/Castro Prado

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Também Marivaldo Fernandes tinha suas dúvidas sobre sua colocação e pediu uma revisão no mapa da prova. Ele achava que tinha se classificado em 2º lugar e não em 3º. Aliás, um erro de informação no final da corrida levou a dupla Luis Landi/Antonio Castro Prado a subir no podium como se tivessem obtido o terceiro lugar. Depois dos cumprimentos, entrega dos canecos e fotos, eles desceram e deram lugar a Marivaldo Fernandes/Affonso Giaffone Jr que de fato chegaram nessa posição.
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No fim todas as reclamações não deram em nada. Os carros vistoriados estavam dentro do regulamento e tiveram suas colocações confirmadas. Certo estava o chefe da Equipe Dropgal-Ford, Luiz Antonio Grecco : "O meu carro não andava mais que qualquer um que correu. A verdade é que esse tipo de corrida se vence nos boxes, com um mínimo de tempo perdido em cada parada". Falou e disse...
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Resultados 500 Km de 1973
  1. Nilson/Bird Clemente - Maverick

  2. Luis Pereira Bueno/Tite Catapani - Maverick

  3. Marivaldo Fernandes/Affonso Giaffone - Maverick

  4. Luis Landi/Castro Prado - Maverick

  5. Bob Sharp/José Silva - Opala

  6. Aurelino Rosa/Fabio Crespi - Opala

  7. Aloysio Andrade/Laercio dos Santos - Dodge Dart

  8. Edgar Mello F./Jorge Argentino - FNM-JK

  9. Marinho Amaral/ Chuck - Opala

  10. Paty Jr/ Adolfo Nardy - Dodge Dart

  11. F. Gondin/Paulo Caetano - Corcel

  12. Luiz Evandro/Stanley Ostrower - Chevette

  13. Claudio Cavallini/Carlos Mansur - VW TL

  14. Elvio Divani/Pedro Wenk - VW Brasilia

  15. Euclides Mussi/Anuar Abib - Corcel

  16. Jose Pangela/Claudio Dudus - VW

  17. Waldemir Silva/Walter Passarela - VW

  18. Paulo Costa/Dante de Camilo - Maverick

  19. Giancarlo Baldrati/Agostinho Ferrarese - Corcel

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quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Daytona 200

1975 - Pavoroso acidente com o inglês Barry Sheene quando treinava para a Daytona 200. Uma impressionante queda a mais de 170 milhas por hora na curva inclinada do circuito.




quarta-feira, 1 de setembro de 2010

European Formula 2 Championship

1980 Estréia de Chico Serra na F2
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Chico Serra estréia com March 802 BMW
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Estreando na Fórmula 2 dia 7 de abril de 1980, em Thruxton, Inglaterra, o piloto brasileiro Francisco "Chico" Serra obteve o quarto lugar na abertura do European Formula 2 Championship. Ao volante de um March 802 BMW da Equipe Project Four, ele conservou na corrida a mesma posição conquistada nos treinos. Apesar de não satisfeito com esse resultado, até que o considerou razoável em função dos problemas que teve que resolver semanas antes e que o impediram de se dedicar melhor à prova.
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Em primeiro lugar, teve que recusar o convite de Emerson Fittipaldi para correr na Fórmula Aurora. A seguir, Chico começou a travar a batalha pelo patrocínio, o acerto final com o Banco Itaú foi feito apenas uma semana antes da estréia. Além do Itaú , Chico Serra tinha o patrocínio da Sadia que estava com ele a 6 anos. Chico queria usar a Fórmula 2 como trampolim para a Fórmula 1. Ron Dennis que comandava a equipe estava projetando juntamente com John Barnard, da Chaparral, um carro de Fórmula 1 para a proxima temporada. Chico estava otimista: "A vitória de Piquet foi excelente porque deu uma sacudida no panorama do automobilismo brasileiro, que andava meio apagado. Mostrou que um piloto novo pode perfeitamente ganhar campeonato".
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Serra largou mal e caiu para sexto
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Como seu principal problema (o do patrocínio) resolvido, Chico Serra partiu para a estréia na Formula 2, que não seria sem emoções. No primeiro treino oficial, na manhã do dia 5, depois de ter dado apenas duas voltas, a suspensão dianteira de seu March quebrou a mais de 230 Km/h. Por sorte foi numa curva de Thruxton que não tem guard-rail, Chico pôde sair pela grama afora, até que seu carro parasse sem bater em nada.
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Nessa sessão ele ficou com o quinto tempo. refeito do susto e depois de muitas voltas para acertar de novo a suspensão, marcou o melhor tempo do segundo treino. Com isso, Chico Serra largou na segunda fila, ao lado do veterano Brian Henton e tendo à frente dois de seus maiores adversários na Fórmula 3 de 1979 : O inglês Dereck Warwick na pole-position e Andrea De Cesaris, que agora na Fórmula 2 é seu colega de equipe. Mas Serra largou mal, caindo para o sexto lugar: "Nunca tinha largado com um Fórmula 2 e, no treino, achei que tinha dado rotação demais ao motor. Tentei diminuir e acabei saindo devagar. Da próxima vez isso não vai acontecer".
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Chico Serra com a esposa em Thruxton
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Andrea de Cesaris tomou a frente, seguido dos ingleses Warwick e Henton, do australiano Thackwell, do irlandês Devaney e de Serra. Logo na segunda volta, um acidente tirou da prova os carros do argentino Miguel Angel Guerra, do alemão Markus Hottinger e do veterano Arturo Merzario. Na terceira volta Serra passava por Devaney, depois por Thackwell, assumindo a quarta posição, que manteria até o final. Na sexta volta, entretanto, o alemão Manfred Winklehock colou na traseira de Chico e com ele travou um duelo até a 15º volta. Ao tentar a ultrapassagem, bateu na roda traseira do carro do brasileiro, tendo que abandonar.
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Derek Warwick que havia ultrapassado o italiano Andrea de Cesaris na sétima volta liderou a prova até a 20º volta, quando seu carro começou a cair de rendimento até ser suplantado pelo de seu companheiro de equipe Brian Henton. A partir daí não haveria mais mudanças importantes, notando-se apenas uma queda de rendimento no carro de Chico Serra, que seria assim explicada: "A segunda marcha já estava muito difícil de entrar quando o Winklehock bateu na minha traseira. Na 20º volta, fiquei sem a marcha".
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O vencedor Brian Henton com um Toleman/Hart
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No boxe, porém, o alemão era quem acusava Serra de haver "cortado" seu carro, deixando-o sem nariz e parte do aerofólio, apesar dos comentários em contrário feitos pelo locutor do circuito. Manfred Winklehock foi mais longe e ameaçou jogar Chico Serra fora da pista, na primeira oportunidade. Não satisfeito com a ameaça, esperou a chegada do piloto brasileiro e, de dedo em riste, o interpelou agressivamente. De capacete ainda, Chico saltou agilmente do carro de "punhos cerrados" e os dois pilotos tiveram que ser contidos pelos mecânicos e a turma do deixa disso. Mais tarde Chico explicaria aos jornalistas alemães que era impossível ter batido no carro de Winklehock, já que tinha feito a tomada de curva à frente do carro dele. Assim terminava a estréia de Chico Serra na Formula 2, que a despeito das dificuldades suscitou comentários favoráveis.

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European Formula 2 Championship

April 7, 1980 Thruxton / results
  1. Brian Henton / Toleman-Hart TG 280

  2. Derek Warwick / Toleman-Hart TG 280

  3. Andrea de Cesaris / March 802 BMW

  4. Chico Serra / March 802 BMW

  5. Oscar Pedesoli / March 792 BMW

  6. Huub Rottengatter / Toleman-Hart TG 280

  7. Teo Fabi / March 802 BMW

  8. Hans-Georg Burger / Tiga F280 BMW

  9. Bernard Devaney / March 802 BMW

  10. Warren Booth / Chevron-Hart B48